Descrição de chapéu China Ásia Brics

Xi Jinping alerta para 'consequências catastróficas' de confronto entre potências

Dirigente da China faz discurso no Fórum Econômico Mundial com série de alfinetadas ao Ocidente

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

BAURU (SP)

O dirigente da China, Xi Jinping, fez um alerta nesta segunda-feira (17) sobre "consequências catastróficas" de possíveis confrontos entre grandes potências.

O discurso foi transmitido por vídeo durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Um dos mais importantes encontros globais de líderes políticos, empresariais e da sociedade civil, o evento foi adiado devido ao agravamento da pandemia de coronavírus. Uma versão presencial está prevista para o próximo semestre, mas para esta semana foram mantidas algumas conferências virtuais, como a de Xi.

O dirigente da China, Xi Jinping, durante pronunciamento gravado em Pequim para transmissão no Fórum Econômico Mundial, em Davos - Huang Jingwen - 17.jan.22

"A história mostrou repetidamente que o confronto não resolve problemas, apenas provoca consequências catastróficas", disse ele, de acordo com a tradução oficial de seu pronunciamento.

O líder chinês também se posicionou como um defensor do multilateralismo e reforçou a percepção de aumento das tensões globais. "Precisamos descartar a mentalidade de Guerra Fria e buscar coexistência pacífica e resultados em que todos ganham", afirmou, descrevendo este como o quarto item de uma lista de prioridades que inclui cooperação internacional para enfrentar a pandemia, recuperação econômica pós-Covid e revitalização do desenvolvimento global.

"Nosso mundo atual está longe de ser pacífico. A retórica que desperta ódio e preconceito é abundante", acrescentou. Segundo ele, "atos de contenção, de repressão ou de confronto", bem como o protecionismo, o unilateralismo e a política de hegemonia são as causas de danos à paz e à segurança mundiais.

"Atos obstinados de construir 'quintais exclusivos com muros alto' ou 'sistemas paralelos', de entusiasticamente montar pequenos círculos ou blocos exclusivos que polarizam o mundo, de esticar o conceito de segurança nacional para conter avanços econômicos e tecnológicos de outros países, de fomentar o antagonismo ideológico e de politizar ou de usar questões econômicas, científicas e tecnológicas como armas reduzirão gravemente os esforços internacionais para enfrentar desafios comuns", acusou Xi, sem mencionar nenhum país ou liderança especificamente.

A fala do dirigente chinês mantém a linha de discursos que fez em outras conferências, como na Assembleia-Geral da ONU. Ecoa ainda a declaração dura que deu em 2017, durante sua primeira participação em Davos. Há cinco anos, Xi atacou vários pontos da política internacional defendidos por Donald Trump —à época, a três dias de assumir a Casa Branca. Naquela ocasião, Xi alfinetou os EUA sem, porém, mencionar o país ou o republicano. Ele também não abordou temas geopolíticos que opõem Washington e Pequim, buscando apresentar a China como o bom parceiro de um mundo turbulento.

O discurso deste ano não foi muito diferente. Assim como não houve menções a nenhum país em especial, ficaram de fora quaisquer referências às tensões no Mar do Sul da China e a assuntos sensíveis como a situação de Hong Kong e de Taiwan e as denúncias de violações de direitos humanos em Xinjiang.

Para tratar do combate à Covid, Xi usou uma metáfora de navegação para defender a cooperação internacional. Segundo ele, em meio à crise global, os países não estão viajando separadamente "em cerca de 190 pequenos barcos, mas num navio gigante do qual depende o destino de todos".

"Barcos pequenos podem não sobreviver a uma tormenta, mas um navio gigante é forte o suficiente para enfrentar uma tempestade", afirmou o líder chinês, acrescentando que procurar culpados pela pandemia de coronavírus "só causaria atrasos desnecessários e distrairia do objetivo geral".

A fala é uma nova alfinetada em países do Ocidente, em especial os EUA, que lançaram dúvidas sobre a conduta e a falta de transparência da China em relação à Covid. O presidente Joe Biden, por exemplo, chegou a dizer que o regime de Xi esconde deliberadamente informações sobre a origem da pandemia.

Para defender a globalização da economia, uma nova metáfora. "Embora as contracorrentes certamente existam em um rio, nada pode impedi-lo de fluir para o mar", disse ele, defendendo a globalização como uma solução "mais aberta, inclusiva, equilibrada e benéfica para todos".

No que diz respeito à China, especificamente, não faltaram autoelogios. Além de ressaltar os índices econômicos positivos do país, voltou a comemorar o centenário do Partido Comunista Chinês, citando a vitória na batalha contra a pobreza e a construção de um país socialista moderno em todos os aspectos.

"Primeiro aumentamos o bolo e depois o dividiremos adequadamente por meio de arranjos institucionais razoáveis. À medida que a maré alta levanta todos os barcos, todos receberão uma parte justa do desenvolvimento, e os ganhos beneficiarão todo o nosso povo de maneira mais substancial e equitativa."

O líder chinês encerrou sua fala defendendo a realização dos Jogos de Inverno de Pequim, previstos para começar em menos de duas semanas, apesar da alta de casos de Covid e do boicote diplomático de países como EUA, Reino Unido e Austrália. "Estamos confiantes de que a China apresentará ao mundo Jogos eficientes, seguros e esplêndidos. O lema de Pequim 2022 é 'juntos por um futuro compartilhado'. De fato, vamos dar as mãos com total confiança e trabalhar juntos por um futuro compartilhado."

Também em Davos, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu que empresários ajudem países mais pobres a comprar vacinas contra a Covid-19, a combater as mudanças climáticas e a reformar o sistema financeiro global. "Em todas essas três áreas, precisamos do apoio, das ideias, do financiamento e da voz da comunidade empresarial global", disse ele.

Já o primeiro-ministro indiano, Narenda Modi, pediu por um esforço coletivo global para lidar com os problemas trazidos pelas criptomoedas, como o bitcoin. "Com esse tipo de tecnologia, as decisões tomadas por um único país serão insuficientes para lidar com os desafios. Nós temos que pensar de maneira parecida", afirmou.

Espera-se que a Índia apresente em breve um projeto para regulamentar o uso de criptomoedas no país.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.