Descrição de chapéu Rússia

Aliado de Putin e anfitrião de Bolsonaro, Orbán defende sanções à Rússia

Países apoiam cortar os russos do sistema internacional de pagamentos devido à guerra na Ucrânia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Moscou

Líder europeu mais próximo de Vladimir Putin, o premiê húngaro Viktor Orbán fez jus à fama de camaleão político e disse neste sábado (26) que apoia todas as sanções contra a Rússia devido à guerra na Ucrânia.

"A Hungria deixou claro que apoiamos todas as sanções, então não iremos bloquear nada [dentro da União Europeia]. O que os premiês da UE acertarem, nós aceitaremos e apoiaremos", afirmou Orbán, numa rara fala em inglês, na fronteira de seu país com a Ucrânia.

Putin (de costas) e Orbán brindam à distância, devido ao temor do russo da Covid-19, no Kremlin
Putin (de costas) e Orbán brindam à distância, devido ao temor do russo da Covid-19, no Kremlin - Alexei Nikolski - 1.fev.2022/Kremlin/Sputnik/Reuters

Ainda mais significativamente, concordou que a Rússia deve ser desligada do sistema internacional de pagamentos chamado Swift. Com isso, a UE está praticamente pronta para executar o movimento, que depende de uma decisão governamental de cada membro.

Orbán, no poder pela segunda vez desde 2010, é um ícone do chamado iliberalismo. Ele mesmo cunhou o neologismo, falando de democracias iliberais e citando Putin como grande símbolo do movimento, em oposição ao que chama de decadência do Ocidente. Eles estiveram juntos no dia 1º passado.

Não por acaso, o húngaro é um dos poucos líderes mundiais que tem boa relação com Jair Bolsonaro (PL). Na semana passada, o presidente brasileiro fez uma viagem altamente simbólica: angariou "solidariedade" a Putin em Moscou e, depois, abraçou Orbán como "meu irmão".

A visita russa foi mais polêmica pelo evidente tema da guerra, que Bolsonaro tentou capitalizar pois naquele momento Putin dava sinais de que poderia recuar de sua pressão militar sobre a Ucrânia. As explosões da quinta (24) em diante contaram outra história, gerando grande constrangimento para o brasileiro, que já é um pária nos fóruns ocidentais.

Mas foi na ida a Budapeste que o brasileiro se sentiu mais à vontade, falando mal de imigração e entoando slogans fascistas com alta ressonância na Hungria. Agora, aparentemente o nó discursivo para os apoiadores mais ideológicos de Bolsonaro vai crescer.

Orbán fez carreira como um ativista contra a herança soviética em seu país, e até os anos 2010 era um crítico de Putin. Depois, alinharam-se, embora o húngaro sempre tenha mantido ambiguidade em suas posições. A resposta agora parece ter mais a ver com a eleição que enfrenta em abril do que com grande empatia com as agruras ucranianas, mas a resultante é a mesma.

Também neste sábado (26), um outro integrante do grupo iliberal eurasiano, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, indicou posições ainda mais contrárias a Putin —com quem tem uma relação muito próxima, militar inclusive, mas também cheia de vaivéns.

Como a Turquia é membro da Otan a exemplo da Hungria, por ora está ao lado da aliança militar ocidental. Seu chanceler vem pedindo o fim dos ataques russos e, segundo publicou no Twitter o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, aceitou fechar o trânsito para navios russos nos estreitos de seu país que ligam o Mediterrâneo ao mar Negro.

Não há clareza acerca do que o falante ucraniano se referia. Na sexta, os turcos disseram que iriam permitir a passagem de todos os navios de guerra russos baseados na Crimeia, sede da Frota do Mar Negro. Eles participam ativamente da guerra.

Ao mesmo tempo, Ancara disse que não permitira reforços, embora haja dúvidas sobre a legalidade disso à luz da convenção que rege o tráfego marinho lá. Após a postagem de Zelenski, o governo turco disse que não há uma decisão sobre o tema.

Mas problema real para Putin está na questão Swift. Além da Hungria, o Chipre também votou em favor do boicote pela União Europeia. O que isso significa?

A pequena ilha concentra um mercado de bilionários russos que têm offshores por lá para reinvestir, usando o eufemismo, na Rússia. Há negócios legítimos também: o segundo maior banco do país é russo. Da noite para o dia, essa torneira pode secar.

Swift é o acrônimo inglês para Sociedade de Telecomunicação Financeira Interbancária Mundial. É uma cooperativa privada baseada na Bélgica que reúne cerca de 11 mil bancos e instituições em 200 países, e funciona como uma espécie de rede social de seus membros.

Cada uma tem seu código, e o sistema eletrônico interligado fornece conexão segura para validar envio de dinheiro de um lado para o outro. Foram 42 milhões de mensagens de confirmação em 2021, desde pessoas físicas a governos —que movimentam aproximadamente metade de suas transações pelo sistema.

O Swift não aplica sanções, mas os países em que seus membros estão sim. Assim, a UE busca o consenso para aplicar em bloco a sanção. Os russos são o segundo país com mais instituições associadas, cerca de 300.

Nos últimos dias, o Banco Central russo tem dito que pode sobreviver ao veto usando um sistema próprio desenvolvido depois que Putin anexou a Crimeia, em 2014. Há também a questão que muitos países precisam do sistema para negociar com o setor energético russo, muito importante para a Europa.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.