Bebê da Venezuela morre baleado em barco de migrantes em Trinidad e Tobago

Guarda Costeira diz ter disparado 'tiros de advertência' após esgotar tentativas para parar embarcação

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Scarborough (Trinidad e Tobago) | AFP e Reuters

Um bebê venezuelano de um ano morreu nos braços da mãe durante uma operação da Guarda Costeira de Trinidad e Tobago para interceptar um barco com migrantes sem documentos que partiu da Venezuela, confirmaram as autoridades do país caribenho neste domingo (6).

A ação ocorreu à meia-noite de sábado (5) no horário local, 23h em Brasília, quando os agentes detectaram uma embarcação que cruzou a fronteira marítima entre Trinidad e Tobago e a Venezuela. Como o barco se recusou a parar, a Guarda Costeira começou a realizar "disparos de advertência" em sua defesa, segundo as autoridades.

Soldados colombianos patrulham rio Arauca, na fronteira com a Venezuela, um dos pontos de travessia de migrantes que fogem da crise no país de Nicolás Maduro
Soldados colombianos patrulham rio Arauca, na fronteira com a Venezuela, um dos pontos de travessia de migrantes que fogem da crise no país de Nicolás Maduro - Luisa Gonzalez - 28.mar.21/Reuters

Os agentes alegaram temer pela vida dos tripulantes diante de um ataque que dizem ter sofrido do navio em que os migrantes viajavam, sem especificar qual teria sido a investida. "Foram usados todos os métodos disponíveis, incluindo megafone, refletor e sinalizadores, para fazer com que a embarcação suspeita parasse" disse a Guarda Costeira, em comunicado. "Ainda assim, continuou tentando fugir."

Quando o barco foi interceptado, os agentes viram os migrantes, que estavam escondidos. "Descobriu-se uma migrante adulta que estava com um bebê, que falou que ele estava sangrando", afirma o comunicado. Após ter seu quadro estabilizado, a mulher foi levada a um centro de saúde local, mas o bebê já não respondia ao atendimento de emergência. Não foi divulgado quantas pessoas estavam no barco.

O primeiro-ministro de Trinidad e Tobago, Keith Rowley, disse ter falado sobre o caso com a número dois do regime venezuelano, Delcy Rodriguez. Afirmou ainda que espera uma melhor cooperação entre as Guardas Costeiras dos países.

"Expressei minhas mais profundas condolências em meu nome e de todas as pessoas de Trinidad e Tobago com respeito a essa infeliz perda da vida do bebê", disse o líder do país caribenho, em comunicado.

A embarcação saiu na noite de sábado de Delta Amacuro, um estado venezuelano de maioria indígena. Calcula-se que partam da região entre seis e dez barcos diariamente com migrantes fugindo da crise no país, afirmou à agência de notícias AFP o ativista de direitos humanos Orlando Moreno.

"Esse é um episódio que se via acontecendo porque eles disparam nos motores das embarcações para detê-las, e nesse caso o protocolo saiu do controle", explicou Moreno, que esteve em contato com familiares do bebê.

As partidas clandestinas já deixaram ao menos uma centena de mortos e desaparecidos desde 2018, resultado de uma perigosa travessia em embarcações precárias, que transitam acima da capacidade máxima os 120 quilômetros que separam Trinidad e Tobago e Venezuela.

A ONU estima que mais de 5 milhões de venezuelanos deixaram o país desde 2015 devido à aguda crise, sendo que cerca de 25 mil vivem em Trinidad e Tobago —mas o número pode chegar a 40 mil. Com população de 1,3 milhão de habitantes, o país caribenho diz ter registrado 16 mil venezuelanos.

As autoridades trinitárias têm endurecido sua política de deportações para prevenir a entrada ilegal de pessoas, que são acusadas pelo governo de realizar assaltos contra a população local, usando crianças para isso.

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