Bolsonaro diz que Brasil concederá vistos humanitários para cidadãos ucranianos

Mandatário, porém, reafirmou que país é neutro e disse não ter nada a conversar com presidente da Ucrânia

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta segunda-feira (28) que o Brasil irá conceder visto humanitário a cidadãos ucranianos, mas reafirmou a posição de neutralidade em relação ao conflito com a Rússia e disse não ter nada a conversar com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski.

"Conversei há pouco com o [ministro das Relações Exteriores] Carlos França. Ele falou que já ia tomar as providências, apesar de ser um feriado —[mas] para nós não têm feriado, a gente está o tempo todo em atividade", disse Bolsonaro em entrevista ao programa "Pingo nos Is", da Jovem Pan, que tem um histórico de relação amistosa e de defesa do presidente e do governo.

"Vamos abrir a possibilidade de ucranianos virem para o Brasil através de um visto humanitário. É a maneira mais fácil de vir para cá", afirmou, comparando à ação que o governo tomou ano passado com afegãos que fugiram do Talibã. Segundo o presidente, a medida será publicada por meio de uma portaria interministerial.

Bolsonaro, porém, descartou se posicionar contra a Rússia e disse que sanções econômicas afetariam o agronegócio brasileiro, devido à importação de fertilizantes do país comandado por Vladimir Putin.

O presidente brasileiro foi a Moscou em 15 de fevereiro, já em meio à crise de segurança em torno da Ucrânia, e se reuniu com Putin.

"Nós temos uma dependência enorme dos fertilizantes da Rússia", afirmou Bolsonaro. "Se tivesse sanções econômicas [do Brasil contra a Rússia], o nosso agronegócio será seriamente afetado."

"Temos que ser cautelosos. Não é como alguns querem, que eu dê um soco na mesa e [diga que] ‘o Brasil está desse lado ou daquele lado’ e não se comenta mais nada. O mundo está interdependente, então acredito que essas sanções econômicas dificilmente prosperem. Posso estar equivocado no tocante a isso", acrescentou.

O presidente afirmou que não irá "dar palpite nessa questão" e que o Brasil tem que entender que "é um grande país, mas que nós temos algumas limitações e devemos continuar nessa política de nos aproximarmos de todo mundo".

Bolsonaro disse que "algumas pessoas" querem que ele converse com Zelenski, o presidente da Ucrânia. "Eu, no momento, não tenho o que conversar com ele", afirmou. "Estamos tratando de uma das maiores potências bélicas nucleares de um lado [a Rússia]. O outro lado é a Ucrânia, que resolveu abrir mão das suas armas [nucleares] no passado."

O presidente disse esperar que o conflito se encerre em breve e que haja um acordo, mas sinalizou que evitaria se posicionar a favor da Ucrânia, porque "no final das contas quem tem mais argumentos e ganha a guerra?". "Quem tem mais canhão."

Antes da entrevista de Bolsonaro, o chefe da embaixada da Ucrânia no Brasil, Anatoli Tkach, rebateu as declarações do presidente brasileiro —que disse na véspera que o país deve permanecer neutro no conflito no Leste Europeu— e afirmou que o líder brasileiro está mal informado.

"Talvez seria interessante ele conversar com o presidente ucraniano para ver outra posição e ter uma visão mais objetiva. Nós estamos num momento muito delicado, quando estamos decidindo o futuro não só da Ucrânia, mas também da Europa e do mundo", disse Tkach, durante entrevista coletiva em Brasília.

Para o diplomata, falta informação a Bolsonaro. "Ele se pronunciou neutro, então acho que ele pode estar mal informado e não saber a situação atual na Ucrânia", disse. "Não se trata de apoio à Ucrânia, trata-se de apoio aos valores democráticos, ao direito internacional, incluindo os fundamentos como a não violação das fronteiras, o respeito à soberania internacional, do Estado e da integridade territorial".

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