Capital do Canadá decreta emergência em meio a protesto de caminhoneiros antivacina

Situação reflete sério perigo e ameaça à segurança representados pelas manifestações em curso, diz prefeito de Ottawa

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Ottawa | Reuters

O prefeito de Ottawa, Jim Watson, decretou neste domingo (6) estado de emergência para lidar com os efeitos de um protesto de caminhoneiros antivacina que ocupa o centro da capital canadense há dez dias.

"[Isso] reflete o sério perigo e a ameaça à segurança representados pelas manifestações em curso e põe em evidência a necessidade de apoio de outras jurisdições e outros níveis de governo", afirmou em nota.

Agentes uniformizados caminham ao lado de fila de tratores com bandeiras do Canadá hasteadas
Policiais caminham ao lado de tratores que bloqueiam rua de Ottawa, no Canadá, em protesto contra requisitos de vacinação - Lars Hagberg - 6.fev.22/Reuters

Watson, que mais cedo no domingo havia reclamado que o número de caminhoneiros excedia o contingente de policiais, não forneceu detalhes sobre as medidas que pretende implementar.

O ato, chamado de Comboio da Liberdade, começou como um movimento contra os requisitos de vacinação para caminhoneiros que realizam travessias na fronteira entre o Canadá e os EUA e se transformou em um foco de protesto contra medidas sanitárias e contra o premiê Justin Trudeau.

Em meio a reclamações dos moradores diante da falta de resposta das autoridades, a polícia de Ottawa montou novas barreiras de segurança no domingo. A corporação diz que está coletando evidências financeiras e digitais, além de dados de registro veicular, que "serão usados em acusações criminais".

As autoridades de segurança também anunciaram que irão conter tentativas de levar recipientes com combustível para reabastecer os caminhões que seguem bloqueando a maioria das ruas no centro.

Alguns dos participantes do protesto têm exibido bandeiras confederadas e nazistas e dizem querer dissolver o governo do Canadá. Organizadores da manifestação prometem não deixar o local até que os requisitos de vacinação sejam suspensos. O ministro da Segurança Pública do país, Marco Mendicino, disse no domingo que o governo não recuará nas medidas sanitárias.

"Trouxemos a questão das vacinas e dos requisitos de vacinação para [...] as eleições [de 2021] e nós estamos levando adiante a promessa que fizemos com o apoio da grande maioria dos canadenses", afirmou à emissora CBC. Em meio a buzinaços e fogos de artifício, uma estrutura com saunas portáteis, cozinha comunitária e até brinquedos infláveis para crianças têm suprido as necessidades dos ativistas.

Segundo a polícia, o protesto conta com financiamento de apoiadores nos EUA. A plataforma de arrecadação GoFundMe suspendeu a página de doações para o Comboio da Liberdade —a decisão irritou congressistas ligados ao Partido Republicano, que prometeram abrir uma investigação contra o site. O ex-presidente Donald Trump e o presidente da Tesla, Elon Musk, expressaram apoio aos caminhoneiros.

A polícia disse ter indiciado quatro pessoas por crimes de ódio e ter aberto uma investigação junto ao FBI, a polícia federal americana, sobre ameaças contra figuras públicas.

Trudeau, que está em isolamento após ter recebido diagnóstico de Covid-19 na semana passada, descartou o uso das Forças Armadas para pôr fim ao protesto. Devido à preocupação com a sua segurança, o primeiro-ministro e sua família deixaram sua residência na região central da capital canadense no fim de semana passado e foram levados a um local desconhecido.

O premiê afirmou que o comboio representa uma "pequena franja minoritária" e que o governo não seria intimidado. Cerca de 90% dos caminhoneiros canadenses que realizam viagens transfronteiriças já completaram o primeiro ciclo vacinal contra a Covid, bem como 79% da população do país.

Um integrante do governo do Partido Liberal disse que a facilidade com que os caminhoneiros bloquearam a área ao redor do Parlamento e a aparente impotência da polícia eram uma "humilhação nacional".

Já membros da oposição conservadora incentivaram os atos e tiraram fotos com caminhoneiros. Na semana passada, o Partido Conservador trocou seu comando porque Erin O'Toole, que liderava a sigla desde agosto de 2020, não teria demonstrado entusiasmo suficiente com o movimento.

Pesquisa publicada pelo instituto Abacus Data nesta quinta (3) aponta que 68% dos entrevistados dizem ter muito pouco em comum com os manifestantes do chamado "comboio da liberdade". Os outros 32% dizem se identificar com os caminhoneiros e outros grupos que se juntaram aos atos.

Questionados sobre como viam as manifestações, 57% as descreveram como "ofensivas e inapropriadas", enquanto 43% as classificaram de "respeitosas e apropriadas". Foram ouvidos 1.410 canadenses entre os dias 31 de janeiro e 2 de fevereiro. O levantamento também sondou a visão dos entrevistados a partir de suas convicções políticas. As maiores fatias de apoio aos atos contra as medidas de enfrentamento à pandemia vêm dos partidos à direita do espectro político.

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