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Chinesas dos EUA vivem glória e bullying nos Jogos Olímpicos

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Pequim

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Duas atletas chinesas protagonizaram a glória e o bullying virtual na primeira semana dos Jogos Olímpicos de Inverno, que acontecem em Pequim desde sexta-feira passada (4).

Natural da Califórnia, a patinadora Zhu Yi (nascida Beverly Zhu) abriu mão da cidadania americana para defender a China no esporte. Estreando em uma Olimpíada, a jovem de 19 anos esperava provar que merece o lugar no time chinês mesmo sem ter crescido no país.

Não saiu como o planejado: na competição por grupos, Zhu errou um salto e bateu contra as barreiras da arena. O incidente a levou para o último lugar da tabela e fez a China cair do terceiro para o quinto lugar na classificação geral, conquistando por pouco a vaga na final.

A reação da patinadora Zhu Yi após errar um salto em sua apresentação nos Jogos Olímpicos de Invernos em Pequim na última segunda-feira (7). - Xinhua/Zhang Yuwei

Foi o suficiente para despertar uma onda de ataques online. Zhu não domina o mandarim e foi criticada duramente no Weibo (espécie de Twitter chinês).

  • O tópico #ZhuEstragouTudo acumulou mais de 100 milhões de acessos na rede social em questão de horas;
  • Muitos debochavam das habilidades linguísticas dela, enquanto outros a acusavam de trazer "desgraça à nação" e questionavam o "quão chinesa ela é";
  • O volume de críticas foi tão grande que o Weibo anunciou ter suspendido 93 contas e pelo menos 300 postagens relativas ao assunto.

Na direção contrária, a jovem Eileen Gu, 18 anos, caiu nas graças da torcida. A história é semelhante a de Zhu: metade chinesa e também nascida nos EUA, Eileen optou por representar a China em 2019. Fluente no idioma, ela encantou a imprensa local imitando sotaques de diferentes regiões da China e levou a medalha de ouro no esqui estilo livre feminino.

A medalhista de ouro Eileen Gu celebra sua vitória no pódio do esqui dos Jogos Olímpicos de Inverno na terça-feira (8). - AFP

Gu vem sendo tratada como heroína no país. Ela já é uma celebridade no Douyin, versão local do TikTok, e montagens com trechos de sua performance na competição acumulam milhões de visualizações.

Filha de uma chinesa imigrante de Pequim, ela reforça que espera usar sua história como inspiração para que os dois países possam se aproximar. Ao menos na internet chinesa, está prosperando na tarefa.

Por que importa: Os casos de Zhu Yi e Eileen Gu ajudam a entender como a geopolítica está presente nesta edição dos Jogos. A comunidade sino-americana nos esportes é enorme, mas é incomum que americanos etnicamente chineses escolham defender o país asiático. Internautas vão celebrar as glórias, mas certamente não deixarão questionar a identidade daqueles que, como Zhu Yi, estão no meio das tensões políticas entre os dois países.

o que mais importa

A seleção feminina de futebol bateu a Coreia do Sul e se tornou campeã da Copa Asiática, o que motivou demandas por igualdade de salários e valorização do esporte. O feito veio após o time masculino falhar na qualificação para a Copa do Mundo do Qatar.

A vitória feminina inundou as redes sociais. Muitos internautas destacaram o quão difícil é a vida de mulheres atletas: estima-se que apenas 20% das jogadoras de futebol no país ganhem mais do que ¥ 10.000 (pouco mais de R$8.200) por mês.

Além de debochar do time masculino, usuários da rede social Weibo também pediram que a conquista sirva como incentivo para uma cobertura midiática do esporte sem sexismo.

"Estas garotas são heroínas da China, mas a imprensa só se importa com seus relacionamentos amorosos. Isso vai mudar agora?", dizia uma das postagens mais populares sobre o tópico na rede.

A seleção feminina comemora após vencer a Coreia do Sul e se consagrar campeã da Copa Asiática. - Xinhua/Javed Dar

A morte de um funcionário do BiliBili (serviço chinês semelhante ao YouTube) voltou a despertar discussões sobre as exaustivas jornadas de trabalho.

Comum, o excesso na carga horária ganhou até um nome (no caso, número): 996 (9 da manhã às 9 da noite, 6 dias por semana).

De acordo com relatos de colegas nas redes sociais, o funcionário tinha 25 anos e sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) enquanto trabalhava na moderação de conteúdo durante o feriado de Ano-Novo chinês.

A imprensa local divulgou que o jovem morreu de exaustão, embora a empresa tenha divulgado nota negando que fosse este o caso.

Reagindo a críticas online, a BiliBili disse que o funcionário trabalhou em regime normal na semana anterior à morte (oito horas por dia, cinco dias na semana).

"A empresa vai se esforçar para expandir o recrutamento de moderadores e planeja recrutar mais 1.000 pessoas este ano. Prestaremos mais atenção à saúde física dos funcionários", prometeu a BiliBili.

Chefe da missão chinesa na ONU, o embaixador Zhang Ju, incentivou o Talibã a tomar medidas efetivas para combater o terrorismo. Discursando em uma reunião na quarta-feira (9), Zhang disse que a retirada de tropas estrangeiras "criou um vácuo" de poder no país, que compartilha uma curta fronteira com a China.

"Qualquer passividade e negligência no contraterrorismo, qualquer tolerância ao terrorismo… e o uso de forças terroristas para ganhos geopolíticos são uma traição às vítimas do terrorismo e terão sérias consequências", alertou.

Embora nunca tenha reconhecido oficialmente a tomada do Afeganistão pelos talibãs, a China foi uma das primeiras nações a receber enviados do grupo, semanas antes da retirada total de tropas americanas de Cabul e arredores.

Desde então, Pequim lida com o tema cautelosamente, temendo que o aumento do terrorismo empodere movimentos separatistas violentos na delicada província de Xinjiang.

​fique de olho

Com quase 18 mil casos de Covid-19 registrados desde 2020 e enfrentando a quinta onda da doença, Hong Kong pode ter uma explosão de infecções em breve.

Um estudo conduzido por especialistas da Universidade de Hong Kong mostrou que, para retornar ao status de "Covid Zero", a cidade precisa impor "urgentemente" um lockdown de "pelo menos dois meses" ou arriscar registrar 28 mil casos diários até junho.

"Mesmo se mantivermos as medidas de distanciamento social mais rígidas atualmente implementadas, o Rt [taxa de transmissão] ainda não chegaria a 1 – o ponto de virada quando o surto diminuiria por conta própria", alertou o líder do estudo, Gabriel Leung.

Por que importa: um dos maiores hubs financeiros da Ásia, Hong Kong decidiu se fechar para o mundo logo no início da pandemia e priorizar a reabertura de fronteiras com a China continental. Abandonar a estratégia de Covid zero agora significaria abrir mão do acesso ao continente por um prazo indeterminado. Implementar um lockdown, porém, pode causar perdas significativas à já combalida economia local.

para ir a fundo

  • Nos últimos anos, lives de vendas tornaram-se um dos canais mais lucrativos para pequenos empreendedores online na China. O Sixth Tone mostra como a dura divisão entre as áreas rurais e urbanas fica ainda mais evidente nesse formato. (gratuito, em inglês)
  • O Centro Empresarial Brasil-China lançou uma página com um compilado de todas as 18 lives e 20 publicações originais produzidas pelo órgão no ano passado. Entre os temas abordados estão investimentos chineses no Brasil, oportunidades no ecommerce chinês, entre outros. (gratuito, em português)
  • Está aberta até o dia 15 de abril a submissão de artigos para o "Dossiê China", uma publicação acadêmica da Universidade Católica de Salvador. Interessados podem entrar em contato com os organizadores e checar o edital neste link. (gratuito, em português)
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