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EUA pressionam Canadá por fim de atos antivacina, e país amplia estado de emergência

Autoridades consideram usar força policial para retirar caminhoneiros; movimento inspira atos em outros países

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São Paulo e Guarulhos

Os protestos iniciados por caminhoneiros contrários à obrigatoriedade de vacinas contra a Covid-19 no Canadá, conhecidos como "comboios da liberdade", transbordaram para outros países, geraram perdas econômicas, levaram os EUA a pressionar o vizinho e desaguaram na ampliação do estado de emergência para Ontário.

Ponto central da tensão, o bloqueio da ponte Ambassador, que liga a cidade americana de Detroit à canadense Windsor, expôs o impacto causado pelo que, inicialmente, o premiê Justin Trudeau descreveu como uma "minoria marginal". A conexão é um elo vital para a indústria automobilística, irritada com um bloqueio que, após dois anos de pandemia, ameaça gerar desabastecimento e queda nos lucros. Montadoras como GM e Toyota chegaram a interromper suas produções.

Manifestantes fecham acesso à ponte Ambassador, principal via comercial terrestre entre Estados Unidos e Canadá - Geoff Robins - 8.fev.2022/AFP

Trudeau falou pelo telefone nesta sexta (11) com o presidente americano, Joe Biden. Em nota, a Casa Branca afirmou que os líderes concordaram que os atos "estão tendo grande impacto na vida dos cidadãos". "O primeiro-ministro prometeu ação rápida para garantir a lei, e o presidente agradeceu pelos passos que ele e autoridades canadenses estão tomando para restaurar a passagem nas pontes para os EUA", diz o comunicado.

O canadense falou também a repórteres, dizendo que "todas as opções estavam sendo consideradas" para acabar com os bloqueios —embora tenha ponderado que o uso do Exército para retirar os manifestantes ainda não está na mesa.

Washington havia instado as autoridades canadenses a usarem poderes federais para apaziguar a situação e encerrar os bloqueios, segundo a mídia americana. Os EUA ofereceram ajuda dos departamentos de Segurança Interna e Transportes, sem detalhar como seria essa cooperação.

A pressão também veio por parte da governadora de Michigan, a democrata Gretchen Whitmer, que pediu que as autoridades "tomem todas as medidas necessárias" para aliviar o bloqueio econômico. "[Essa situação] está atingindo a renda das famílias e as linhas de produção. Isso é inaceitável", afirmou, em comunicado.

Em resposta, o prefeito de Windsor, na província de Ontário, Drew Dilkens, disse que a administração, junto à indústria automobilística local, buscou conseguir na Justiça uma liminar que obrigasse a saída dos manifestantes. Mas sinalizou que esse era apenas um passo e que retirar os caminhoneiros à força não é uma possibilidade descartada.

"Se os manifestantes não saírem, terá de haver um caminho a seguir", disse ele à rede CNN. "Se isso significa removê-los fisicamente, então o removeremos. E estamos preparados para fazer isso."

Na tarde desta sexta, um juiz do Tribunal Superior da província de Ontario concedeu a liminar para que os manifestantes que bloqueiam a ponte Ambassador sejam retirados às 21 horas, horário de Brasília. Por enquanto, o protesto segue impedindo a passagem, e forças policiais se dirigem ao local.

O bloqueio tem custado US$ 400 milhões (R$ 2 bilhões) em bens comerciais e alimentos todos os dias, segundo cálculos divulgados por Dilkens, que reforçou tratar-se de uma crise nacional.

A província de Ontário, a mais populosa do país, declarou estado de emergência na manhã desta sexta, ampliando a medida que já estava em vigor na cidade de Ottawa, capital do país. O primeiro-ministro da província, Doug Ford, disse que decretará ordens que deixarão claro que é ilegal e punível bloquear ou impedir o movimento de pessoas e bens ao longo da infraestrutura de mobilidade urbana.

"Isso incluirá passagens de fronteiras internacionais, rodovias, aeroportos, portos, pontes e ferrovias", detalhou. As punições pelo descumprimento da medida, seguiu Ford, incluirão multa de US$ 100 mil (R$ 520 mil) e até um ano de prisão.

França e Bélgica tentam proibir manifestações semelhantes

Enquanto isso, o autodenominado "comboio da liberdade" respinga em outras partes. Inspirados pelos caminhoneiros canadenses, manifestantes saíram às ruas da Nova Zelândia nesta semana, e a polícia local chegou a prender mais de 120 pessoas em um protesto contra restrições ligadas à pandemia em torno do Parlamento na quinta (10).

O confronto escalou a adesão ao movimento, que no país foi apelidado de "acampamento da liberdade". De 250, o número de manifestantes cresceu para mais de 1.500 na noite de quinta (manhã de sexta no Brasil), segundo contagem da agência de notícias AFP.

Já na França, a previsão de carros, motos e caminhões saindo de várias partes do país em direção à capital, Paris, fez com que a polícia local estabelecesse um decreto proibindo esse tipo de manifestação entre esta sexta e segunda (14). "Haverá um destacamento especial para prevenir bloqueios nas principais vias, multas e prisões serão aplicadas em quem infringir a proibição do protesto", afirmou a corporação.

O mesmo comunicado lembra de artigo do código de trânsito que lista punições para quem impede o tráfego em vias públicas —entre elas, dois anos de prisão, multa de 4.500 euros (R$ 26,8 mil) e suspensão da carteira de motorista por três anos ou mais.

"Se as pessoas querem se manifestar do jeito normal, elas podem", disse o ministro do Interior Gerald Darmanin a uma emissora francesa. "Se quiserem bloquear o trânsito, nós vamos intervir."

Um grupo —entre dezenas— com cerca de 350 mil pessoas no Facebook chamado "Le convoi de la liberté" (tradução literal do nome dado aos protestos canadenses) compartilha mensagens sobre as carreatas. Algumas deixaram cidades do sul do país já na quarta (9).

Segundo o jornal francês Le Monde, usuários ativos nos grupos e aplicativos de mensagens sobre a mobilização se apresentam como "apolíticos e cidadãos comuns" e emulam discurso que se aproxima do observado nas manifestações dos "coletes amarelos", em 2018.

A ideia do comboio francês é seguir de Paris até a vizinha Bélgica, mais especificamente à capital Bruxelas, também o centro administrativo da União Europeia. O prefeito Philippe Close disse que os manifestantes serão impedidos, porque não houve pedidos de permissão para a entrada de comboios.

A polícia da Áustria também se manifestou dizendo que "comboios da liberdade" não seriam permitidos em Viena sob o argumento de que causariam um distúrbio inaceitável e poluição.

No Canadá, a estratégia teve origem a partir de manifestações de caminhoneiros que são contra a obrigatoriedade de passaporte vacinal para atravessar a fronteira com os EUA.

O movimento, no entanto, vem encolhendo: no último fim de semana, a polícia contou 1.000 caminhões e 5.000 manifestantes, um terço do que foi registrado no pico dos protestos (3.000 caminhões e 15 mil pessoas nas ruas de Ottawa). De acordo com a AFP, na terça (8) havia entre 400 e 500 caminhões bloqueando o centro da cidade.

O Canadá destina 75% de suas exportações para os EUA, e os caminhões desempenham um papel crucial no transporte entre os dois países, o que mostra a dimensão econômica do bloqueio. Só em peças de automóveis, cerca de 100 milhões de dólares canadenses cruzam a fronteira diariamente.

Com AFP e Reuters

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