Exército da Ucrânia se apoia em voluntários em meio a guerra com a Rússia

Ativistas há anos vêm apoiando Forças de Kiev, com estímulo do presidente Volodimir Zelenski

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Andrew E. Kramer
Pavlogrado (Ucrânia) | The New York Times

Quando o Exército ucraniano entrou em guerra, na quinta-feira (24), também o fez um exército de voluntários e ativistas que há anos vem apoiando as mal financiadas Forças Armadas do país, ajudando-as com doações de roupas de frio, equipamentos médicos, rádios comunicadores e até alimentos.

Esse tipo de apoio de base aos militares pode não parecer muito relevante num confronto entre os Exércitos de dois Estados, mas desempenhou um papel crucial nas incursões russas mais limitadas de 2014 e 2015. E as dezenas de grupos bem organizados de voluntários têm o potencial de resistir aos soldados russos se eles permanecerem na Ucrânia como forças de ocupação.

A member of a volunteer paramedic team in Pavlograd, Ukraine, prepares to head out to the front lines to treat wounded Ukrainian soldiers on Thursday night, Feb. 24, 2022. UkraineÕs government vowed an Òall-out defenseÓ as Russia attacked more than a dozen cities and towns across the country.  (Lynsey Addario/The New York Times) Ñ NO SALES Ñ
Membro de equipe voluntária de paramédicos em tenda do grupo em Pavlogrado, no leste da Ucrânia - Lynsey Addario - 24.fev.22/The New York Times

"A gente vem se preparando para isso há anos", diz o neurocirurgião Iuri Skribets, que atua como paramédico voluntário no campo de batalha. Ele integra o Batalhão Médico Hospitalar, em Pavlogrado, no leste da Ucrânia, a poucas horas de carro das posições ocupadas pelo avanço das tropas russas.

Num galpão de tijolos convertido em sua sede, aquecido por um fogão a lenha, os voluntários passaram a quinta-feira enchendo mochilas e bolsas com suprimentos para emergências, principalmente o que é preciso para estancar hemorragias: ataduras, torniquetes e agentes coagulantes.

A organização de médicos e paramédicos voluntários opera há anos na linha de frente da guerra no leste da Ucrânia. Para aliviar o fardo do Exército, eles levam os feridos militares a um hospital civil. Foi com um misto de raiva e determinação que todos se prepararam para uma tarefa possivelmente muito maior. "O mundo inteiro é fraco", diz Skribets. "Ninguém resistiu realmente a Putin. E agora aqui temos o resultado."

Uma parede do galpão ostenta os retratos de oito médicos voluntários do grupo mortos nos combates no leste —que começaram em 2014, mas sempre foram limitados a uma parte pequena da Ucrânia, diferentemente do ataque muito mais amplo lançado pela Rússia na quinta-feira.

Numa prateleira embaixo dos retratos há velas votivas e lembranças: remendos de uniforme, uma pequena coleção de estilhaços de bomba, fotos.

Ao longo do último ano o governo do presidente Volodimir Zelenski vem procurando formalizar o trabalho de organizações como essas, que abrangem desde ONGs pacíficas até grupos paramilitares armados e politicamente ativos, formando com eles um grupo nacional sob comando militar chamado Força de Defesa Territorial. O trabalho se intensificou no outono (do hemisfério Norte, primavera no Brasil), quando a Rússia começou a mobilizar suas tropas.

Juntas, as forças de defesa e os grupos independentes são vistos como o núcleo de uma potencial insurgência contra uma ocupação por parte de Moscou.

"Se as autoridades em Kiev desistirem de lutar, muitas pessoas comuns estarão dispostas a resistir", diz o paramédico voluntário Oleksandr Isenko. A reportagem pergunta se a ala médica desse movimento já traçou planos para socorrer combatentes feridos em locais secretos. "Sem comentários", ele respondeu.

Anna Fedianovich, vice-diretora do grupo, conta que todos os materiais médicos foram doados e que médicos e enfermeiros trabalham como voluntários. "Acho que nosso Exército não vai permitir uma ocupação", diz, mas sem soar esperançosa. Citando uma declaração do presidente Joe Biden antes do ataque russo, comentou: "A Rússia tem uma lista de voluntários e patriotas" a prender.

Isso significa pessoas como ela. Anna receia que, se o Exército de Moscou aparecer na cidade, onde o sentimento pró-russo é comum, membros do grupo não demorem a ser traídos por seus vizinhos. "Todo mundo tem um vizinho disposto a traí-lo", afirma. "Não sei como poderei permanecer aqui e não ser detida, possivelmente torturada. É difícil me imaginar ficando por aqui."

Tradução de Clara Allain

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