Descrição de chapéu Coronavírus União Europeia

Europa começa a suspender restrições contra Covid, mas OMS lança alerta e pede cautela

Para diretor da entidade, é prematuro para qualquer país se render ou declarar vitória sobre coronavírus

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BAURU (SP)

A França iniciou nesta terça-feira (1º) a redução gradativa das restrições impostas para conter a pandemia de coronavírus, um movimento parecido com o que se vê em vários países da Europa. Deixam de ser obrigatórios, por exemplo, o uso de máscaras na rua e a limitação de público em espaços culturais.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), porém, pediu cautela no alívio das medidas. Para Maria Van Kerkhove, líder técnica da entidade, muitos países ainda não passaram pelo pico de contágios provocado pela variante ômicron, o que se torna ainda mais grave onde não há altos índices de cobertura vacinal.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, por sua vez, expressou preocupação de que a alta transmissibilidade e a menor gravidade dos casos atribuídos à nova cepa possam levar os países a decidir que medidas de prevenção não são mais necessárias, ou, pior, não são mais possíveis. "Nada poderia estar mais longe da verdade. Mais transmissão significa mais mortes. Não estamos pedindo um retorno a lockdowns. Mas estamos pedindo que protejam seu povo usando todos os recursos disponíveis, não só vacinas", disse. "É prematuro para qualquer país se render ou declarar vitória."

O presidente da França, Emmanuel Macron, segura uma máscara em frente ao rosto durante evento no Palácio do Eliseu, em Paris - Ludovic Marin - 26.jan.22/Reuters

Em entrevista publicada nesta quarta (2), o presidente francês, Emmanuel Macron, recomendou que a população siga cuidadosa. "Temos que permanecer vigilantes, pois a pressão nos hospitais ainda é alta."

A média móvel de casos diários de Covid no país alcançou o pico de 366,5 mil em 25 de janeiro. Desde então, o índice está em queda, mas ainda supera a marca de 322 mil novas infecções por dia. Em 2 de novembro de 2021, a média móvel era de 5.288 —ou seja, um aumento de quase 6.000% em três meses.

O número de pacientes internados com Covid na França também continua em alta —eram mais de 32 mil nesta terça, dos quais 3.751 em leitos de UTI. O número de mortes cresceu desde novembro (mais de 700%), mas as atuais cerca de 260 vítimas diárias da doença formam uma cifra bem menor que a registrada nos picos da pandemia —o que se atribui, entre outros fatores, aos índices de vacinação. Mais de 76% dos franceses concluíram o primeiro esquema de vacinação, e 48% receberam doses de reforço.

Apesar de os números não indicarem um cenário de controle da pandemia, o primeiro-ministro francês, Jean Castex, anunciou no fim de janeiro a suspensão da maior parte das restrições. Além do uso de máscaras, o trabalho remoto também deixa de ser obrigatório. Espaços culturais e esportivos, como estádios de futebol, não sofrerão mais restrições de público. A partir de 16 de fevereiro começa ainda uma nova fase de alívio de restrições, quando casas noturnas, fechadas desde dezembro, poderão reabrir, e os franceses, voltar a beber nos balcões dos bares.

O passaporte vacinal, que, nas palavras de Macron, foi pensado para "irritar os não vacinados", segue em vigor. Nesta quarta, o ministro da Saúde francês, Olivier Veran, afirmou que o comprovante será exigido pelo menos até que hospitais possam funcionar normalmente, sem a necessidade de cancelar procedimentos não emergenciais para abrir leitos de Covid. "Se não houver uma nova variante em circulação, a utilidade do passe de vacina será discutível", acrescentou.

A medida francesa, em ao menos um aspecto, está alinhada ao que defende a OMS. "Agora não é hora de suspender tudo de uma vez. Sempre insistimos: sejam cautelosos em aplicar as intervenções, bem como em suspendê-las de forma constante e lenta. Porque esse vírus é bastante dinâmico", disse Van Kerkhove.

A Dinamarca tornou-se na terça o primeiro país da União Europeia a suspender todas as restrições de uma só vez. Os dinamarqueses não precisam mais usar máscaras ou mostrar o passaporte vacinal, e locais como bares, restaurantes e casas noturnas voltaram a operar sem limitação de horário e de público.

O país nórdico também nunca teve uma média maior de casos diários de Covid —beirava os 8.000 registros no final de janeiro. O índice de mortes, que sempre foi baixo, está na faixa dos três óbitos por dia. Mais de 81% da população completou o primeiro ciclo de vacinas, e 61% recebeu a dose de reforço.

A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, no entanto, deu sinais de que o recuo das restrições pode não ser definitivo. "Não temos como dar garantias de que poderemos retornar à vida como a conhecíamos antes do coronavírus." Para Mike Ryan, diretor de emergências da OMS, o fato de os diferentes países não estarem na mesma situação sanitária faz com que medidas como a suspensão das restrições sejam adotadas sempre com a possibilidade de um rápido recuo na flexibilização.

"Aqueles países que estão tomando decisões de abertura mais ampla também precisam ter certeza da capacidade de reintroduzir medidas, com aceitação da comunidade, se necessário. Se abrirmos as portas rapidamente, é melhor sermos capazes de fechá-las muito rapidamente também."

A Noruega agiu à semelhança da Dinamarca. O premiê Jonas Gahr Stoere disse, nesta terça, que não sabe se este é o "começo do fim da pandemia" e que talvez volte a impor restrições, mas, por enquanto, suspendeu as medidas mais duras, como a limitação de horário e de pessoas em ambientes públicos. Restaram apenas recomendações de distanciamento físico e de uso de máscaras em lugares cheios.

"Mesmo que muito mais pessoas estejam sendo infectadas, há menos hospitalizados. Estamos bem protegidos por vacinas. Isso significa que podemos relaxar muitas medidas, mesmo que as infecções estejam aumentando rapidamente", disse o norueguês.

Na Finlândia, a primeira-ministra Sanna Marin anunciou nesta quarta que vai começar a relaxar as restrições a partir de 14 de fevereiro. Nessa etapa, restaurantes e bares vão poder voltar a abrir até meia-noite e reuniões públicas serão permitidas. O governo finlandês também planeja aposentar oficialmente o passaporte sanitário, usado de outubro a dezembro e que limitava o acesso a locais públicos aos vacinados ou com teste de Covid com resultado negativo recente.

Antes de avançar no relaxamento, Marin escolheu esperar. Segundo ela, o plano é observar o comportamento das curvas de casos e mortes durante as próximas semanas não apenas na Finlândia, mas também nas vizinhas Dinamarca e Noruega. Se tudo correr como o esperado, os finlandeses devem começar o mês de março dando adeus às restrições.

A Áustria, que havia imposto em novembro um lockdown restrito aos não vacinados e depois ampliado para a população geral, recuou da posição na segunda-feira (31) e disse que a medida não é mais justificável, já que agora há menos pressão sobre o sistema de saúde. Os não imunizados, porém, ainda são barrados em uma série de atividades, como comer em restaurantes e fazer compras não essenciais.

Na Inglaterra, a vigência do conjunto de restrições batizado de Plano B expirou no último dia 25. As medidas, além de criarem um impasse político para o premiê Boris Johnson —alguns dos membros de seu partido as consideravam arbitrárias—, foram suspensas, de modo que o uso de máscaras, a apresentação do passaporte vacinal e o trabalho remoto não são mais obrigatórios.

Boris justificou o recuo alegando que os ingleses agora têm condições de conviver com o vírus e que os picos da ômicron já foram superados. Além do alerta da OMS, porém, há cientistas que apontam que casos e mortes podem subir se o comportamento da população "voltar ao normal" muito rapidamente.

Com AFP e Reuters

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