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França tira tropas do Mali e cita 'falta de condições políticas'

Operação militar foi instalada há 9 anos com o objetivo de conter jihadistas

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Paris | RFI

A França anunciou nesta quinta-feira (17) a retirada de sua operação contra os grupos jihadistas do Mali, após nove anos de presença. Paris prometeu prosseguir com o combate na região do Sahel, ao lado de seus aliados.

"Não existem mais as condições políticas, operacionais e jurídicas para continuar de forma efetiva com o atual compromisso militar na luta contra o terrorismo no Mali e, portanto, decidimos iniciar a retirada coordenada", afirma um comunicado.

A declaração, assinada pela França, por seus aliados europeus, pelo Canadá e parceiros africanos no Sahel e no golfo da Guiné, destaca a "vontade" de seguir com a luta na região, em "estreita coordenação com os países vizinhos" do Mali.

Tropas francesas chegam à 101ª base aérea militar, perto de Bamaco, em Mali
Tropas francesas chegam à 101ª base aérea militar perto de Bamaco, em Mali - Eric Feferberg - 15.jan.13 / AFP

A decisão levantou reflexões na imprensa francesa nesta quinta. A saída ocorre em meio a duas amargas constatações, como ressaltou o jornal Le Figaro: as operações Barkhane e Takuba, a missão europeia coordenada também pela França, foram um "fracasso tático e político" em seus objetivos.

Antes do anúncio oficial, o martelo foi batido em uma reunião informal no Palácio do Eliseu na noite desta quarta-feira, no qual estiveram à mesa os principais atores internacionais envolvidos nas operações. A presença militar francesa se revelou impossível, assinala o Figaro, explicando que as operações "não conseguiram eliminar a ameaça jihadista" no país africano, "tampouco dissipar o sentimento crescente antifrancês na população malinesa".

O editorial do diário reflete sobre quase uma década de esforços de Paris para caçar, a pedido de Bamaco (capital do Mali) em 2012, os extremistas fiéis a grupos como o Estado Islâmico, espalhados pelo deserto do Sahel. "A mais longa operação externa francesa desde a guerra da Argélia chegou ao fim da sua lógica", diz o texto, ao lembrar que a região "é a tumba de 53 militares franceses".

Golpe militar acelerou partida

As complicações foram muitas nesses mais de nove anos, mas recentemente o duplo golpe de Estado que colocou no poder uma junta militar contrária às operações francesa e europeia e a presença de mercenários russos no Mali, aliados do novo governo, tornaram a presença no país mais indesejável do que nunca.

Paris não vai simplesmente deixar Bamaco de um dia para outro, a exemplo da retirada americana do Afeganistão, sublinha o Figaro. A dois meses das eleições presidenciais francesas, o plano de Emmanuel Macron é reduzir a presença militar pela metade, para cerca de 2.500 homens, que serão redirecionados para as fronteiras com Níger e Burkina Fasso, para evitar a dispersão dos terroristas em direção ao sul.

Mas o grande risco é que a aliança do poder no Mali com os extremistas transforme o país num "buraco negro islamista", adverte a publicação.

Em uma entrevista coletiva nesta quinta, Macron rejeitou "por completo" a ideia de que a missão militar tenha fracassado. "O que teria acontecido em 2013 se a França não tivesse decidido intervir? Teria acontecido, com certeza, um colapso do Estado malinês", declarou.

Familiares de militares mortos

Já Le Parisien foi ao encontro dos familiares dos militares franceses que morreram em combate ao longo desses anos. O pai de Alexandre Protin, por exemplo, até hoje não se conforma com a perda do filho, ocorrida há dois anos.

Dominique Protin diz compreender a decisão de Paris, mas lamenta que a diplomacia francesa não tenha conseguido dialogar com todas as partes envolvidas, para uma solução efetiva do problema.

Lucas Boiteux, 24 anos, tinha 15 quando perdeu o pai, o primeiro soldado francês a ser morto na operação Barkhane. O jovem diz que, desde então, não há um dia em que não pense no pai.

Ele prefere não comentar a decisão de retirada, mas afirma ter ressentimentos em relação ao presidente à época, François Hollande. Lucas acusa o socialista de ter "abandonado" os familiares dos militares engajados na operação.

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