Holanda vai desmontar ponte do século 19 para passagem de iate de bilionário Jeff Bezos

Moradores de Roterdã contestam decisão, mas prefeitura diz que retorno financeiro compensa operação

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Belo Horizonte

A cidade holandesa de Roterdã vai desmontar uma ponte histórica, construída há mais de um século, para possibilitar a passagem de um superiate construído para o bilionário fundador da Amazon Jeff Bezos.

A operação, segundo as autoridades, é necessária porque a embarcação é demasiadamente grande, e o local da estrutura seria o único acesso ao mar. Estima-se que o iate tenha 127 metros de comprimento e 40 metros de altura, mas as medidas não foram confirmadas pelo estaleiro Oceanco.

Elas fariam da embarcação a maior a vela do mundo, superando o Sea Cloud, veleiro de 109 metros construído em 1931, hoje de propriedade de uma empresa de investimentos com sede em Malta.

A imprensa já noticiou que o barco de Bezos contará com diversos itens de luxo, como um iate de apoio e uma plataforma de pouso de helicóptero. A embarcação é avaliada em US$ 486 milhões (R$ 2,5 bilhões).

Barcos ancorados na hidrovia Koningshaven, em frente à ponte De Hef, em Roterdã
Barcos ancorados na hidrovia Koningshaven, em frente à ponte De Hef, em Roterdã - Sebastien Bozon - 23.nov.21/AFP

A ponte Koningshaven, construída em 1878, é considerada um monumento nacional. A estrutura foi projetada pelo arquiteto holandês Pieter Joosting e serviu de modelo para outras espalhadas pelo mundo.

Utilizada durante anos como parte de uma ferrovia, a De Hef, como é conhecida, precisou ser praticamente reconstruída em 1940, após bombardeios da Segunda Guerra atingirem Roterdã. Cinquenta anos depois, o tráfego de trens foi descontinuado, com um túnel de 2.800 metros sendo aberto para substituir uma série de pontes ferroviárias.

Nessa época, nos anos 1990, autoridades locais cogitaram derrubar a De Hef, mas desistiram após protestos dos moradores. Em 2017, três anos depois de uma grande reforma, a promessa de que a construção não seria destruída foi reforçada.

Agora, porém, o dinheiro do segundo homem mais rico do planeta falou mais alto. Segundo a prefeitura, a operação envolvendo a embarcação vai gerar empregos, o que justificaria o movimento. Além disso, o esquema para desmontar a ponte será financiado pela Oceanco, de acordo com as autoridades.

O desmonte da De Hef deve começar no verão europeu —de junho a setembro—, e no mesmo dia a prefeitura promete dar início ao processo de restauração da estrutura. Segundo as autoridades, não haverá mudanças estruturais na operação de remontagem.

O responsável pelo projeto, Marcel Walravens, disse que não seria prático terminar a construção do iate em outro lugar apenas para evitar que a ponte fosse desmontada. O iate está sendo erguido em Alblasserdã, a 20 quilômetros de Roterdã. "A construção naval é um importante pilar do município."

Roterdã, segunda maior cidade da Holanda, a 65 quilômetros da capital Amsterdã, tem uma das melhores infraestruturas portuárias do mundo e é considerada um polo de inovação marítima.

A medida, de toda forma, foi criticada por moradores da região e políticos como Stephan Leewis, do Partido Esquerda Verde. "Esse homem [Bezos] ganhou seu dinheiro explorando funcionários e evadindo impostos, e agora temos que derrubar nosso belo monumento nacional? Isso é ir longe demais", disse. Leewis solicitou um debate sobre a questão no Parlamento.

Holandeses contrários à operação criaram um evento no Facebook intitulado "Jogando ovos no superiate de Jeff Bezos". Como o próprio nome sugere, o convite é para a população de Roterdã "levar uma caixa de ovos podres" e "jogá-los em massa" na embarcação quando ela navegar pela Hef.

Nesta quinta (3), a página contava 545 pessoas confirmadas e 2.200 interessadas em comparecer.

De acordo com a revista Forbes, Bezos tem uma fortuna avaliada em US$ 166 bilhões (R$ 879 bilhões). Além de ser um gigante no setor de comércio eletrônico, ele também é dono do jornal americano The Washington Post e da empresa espacial Blue Origin.

Com AFP e The New York Times 

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