Descrição de chapéu Coronavírus Ásia

Hong Kong adia eleição para líder do Executivo em meio a surto de Covid

Decisão ocorre dois dias após Xi Jinping alertar que combate ao vírus deve ser prioridade das autoridades

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Em meio a um surto de Covid-19 que levou hospitais a tratar pacientes ao ar livre, a chefe-executiva de Hong Kong, Carrie Lam, anunciou nesta sexta-feira (18) o adiamento da eleição para a liderança do território governado por Pequim, que estava prevista para 27 de março.

Lam, que não oficializou se irá ou não concorrer à reeleição, citou o uso da Portaria de Emergência para passar o pleito para 8 de maio, dizendo que o foco agora deve ser o combate ao coronavírus. O período de nomeação —ainda não há um nome forte na disputa, algo inusual a cinco semanas da votação— ocorrerá entre 3 e 16 de abril, e a posse, mesmo com o adiamento, segue prevista para 1º de julho.

Líder de Hong Kong, Carrie Lam, fala sobre situação da Covid-19 no território durante entrevista coletiva
Líder de Hong Kong, Carrie Lam, fala sobre situação da Covid-19 no território durante entrevista coletiva - Lui Siu Wai - 15.fev.22/Xinhua

"Permaneço otimista que seremos capazes de superar essa crise de saúde pública", declarou a repórteres, acrescentando não descartar a possibilidade de um novo adiamento caso haja uma deterioração na situação epidemiológica. Lam também disse que Pequim consentiu com a mudança de data, que ocorre dois dias após o líder chinês, Xi Jinping, alertar que conter o surto deve ser prioridade das autoridades locais.

É a segunda vez que a ex-colônia britânica, devolvida à China em 1997, usa a pandemia como justificativa para adiar eleições. As legislativas, que deveriam ocorrer em setembro de 2020, acabaram realizadas apenas em dezembro de 2021.

Naquela época, o cerco de Pequim a Hong Kong aumentava. Os ativistas pró-democracia denunciaram a decisão, tomada em julho de 2020, como uma interferência do governo central da China.

Os democratas esperavam conquistar nas urnas uma maioria histórica no Conselho Legislativo, que era dominado por parlamentares alinhados ao regime de Xi, embalada pelos votos de protesto contra a nova lei de segurança nacional, promulgada por Pequim um mês antes.

A abstenção no pleito, no entanto, foi recorde, após apenas candidatos "patriotas" serem autorizados a concorrer. Somente 29,3% dos 4,5 milhões de eleitores aptos a votar compareceram às urnas.

Na época do adiamento das eleições legislativas, o país registrava média móvel de 128 casos e 1 morte. A situação desta vez, porém, é mais grave. A ilha passa pelo pior momento da pandemia após a chegada da variante ômicron, no fim do ano passado.

De 23 de janeiro, quando o número de casos registrados começou a subir, a 14 de fevereiro houve um salto de 1.300% nas infecções diárias –102 para 1.448, número nunca antes visto na pandemia. Isso levou a média móvel dos últimos sete dias nesta quinta (17) a 609.

Desde segunda, porém, tem havido uma queda, e nesta quinta, foram 461 casos, segundo a plataforma Our World in Data. O governo, por outro lado, divulgou que foram registradas nesta sexta 3.629 infecções, o que continuará a puxar a média móvel para cima.

As mortes também alcançaram níveis sem precedentes, apesar de a cifra ainda ser relativamente baixa. Nesta quinta, foram 11 óbitos, quase o dobro do pico anterior, com 6, registrado em agosto de 2020.

Os estabelecimentos para quarentena chegaram à sua capacidade máxima, e Lam converteu mais de 20 mil quartos de hotéis para esse fim. Já os hospitais têm operado em 95% de sua capacidade, com pacientes, inclusive pessoas mais velhas, recebendo tratamento do lado de fora, sob um clima frio e, às vezes, chuvoso.

A autoridade responsável pelos hospitais disse pretender transferir esses pacientes, diante de uma previsão de 10°C nesta sexta.

Diante da grave situação, a mídia chinesa reportou que Xi instruiu seu vice, Han Zheng, a transmitir a Lam "sua preocupação sobre a situação pandêmica". O dirigente falou que o governo "precisa mobilizar todo o poder e os recursos para adotar todas as medidas necessárias para garantir a segurança e a saúde da população de Hong Kong e assegurar a estabilidade da sociedade".

No início desta semana, a chefe-executiva admitiu que a resposta adotada pelo governo não tem sido satisfatória e reconheceu que as autoridades não conseguiram manter a obrigação de testagem e isolamento, adotada para controlar a Covid.

Pequim enviou especialistas para auxiliar o território a lidar com o surto e trabalha para aumentar a capacidade de testagem, com veículos para a realização de exames. Segundo a imprensa honconguesa, 300 mil testes podem ser realizados diariamente até o fim do mês —atualmente, essa capacidade está em 200 mil.

A China prometeu ainda garantir o fornecimento de alimentos frescos, com uma nova rota de Guangdong a Hong Kong começando a operar ainda nesta sexta. A medida vem após uma falha no abastecimento, já que motoristas cruzando a fronteira receberam diagnóstico da Covid.

Em meio ao surto, cresce ainda o movimento de pais levando seus filhos para serem imunizados após o governo diminuir a idade mínima para três anos. No centro de vacinação no distrito de Novos Territórios, longas filas se formavam no começo da manhã desta sexta.

Com Reuters

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.