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Justiça do Canadá proíbe buzinas em protestos de caminhoneiros antivacina

Movimento encolhe em Ottawa, mas segue ativo e bloqueia principal passagem na fronteira com os EUA

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Ottawa | AFP e Reuters

O protesto de caminhoneiros contra as medidas anti-Covid do governo de Justin Trudeau, que paralisa o centro de Ottawa, capital do Canadá, há 12 dias, perdeu adesão e sofreu uma derrota judicial, mas continua ativo e passou a bloquear, também o principal ponto de passagem pela fronteira com os EUA.

O chamado "comboio da liberdade" começou no dia 28 de janeiro como uma manifestação contra a obrigatoriedade da vacina para motoristas que fazem a rota transfronteiriça –exigência também feita pelo governo americano– mas se transformou em um ato que pede a renúncia do primeiro-ministro.

Caminhão com cartazes antivacina durante protesto em Ottawa, no Canadá
Caminhão com cartazes antivacina durante protesto em Ottawa, no Canadá - Patrick Doyle - 7.fev.22/Reuters

Nesta segunda-feira (7), a Justiça canadense proibiu o som de buzinas no centro de Ottawa, após moradores entrarem com uma liminar reclamando do barulho ensurdecedor dos veículos dos manifestantes. A polícia também anunciou que apreendeu milhares de litros de combustível e removeu um petroleiro como parte da repressão ao ato.

O movimento encolheu: no último fim de semana, a polícia contou 1.000 caminhões e 5.000 manifestantes, um terço do que foi registrado no pico dos protestos contra as restrições, quando havia cerca de 3.000 caminhões e 15 mil pessoas nas ruas de Ottawa. De acordo com a agência de notícias AFP, nesta terça-feira (8) havia entre 400 e 500 caminhões bloqueando o centro da cidade.

Após perder terreno na capital, o comboio bloqueou na noite de segunda-feira o acesso à ponte Ambassador, na fronteira Windsor-Detroit, passagem internacional mais movimentada da América do Norte. O governo canadense informou que a ponte ficou fechada em ambos os sentidos durante a manhã desta terça.

O Canadá destina 75% de suas exportações para os EUA, e os caminhões desempenham um papel crucial no transporte entre os dois países, o que mostra a dimensão econômica do bloqueio.

A situação levou o Parlamento a convocar uma reunião em regime de urgência para debater os próximos passos. Em sua primeira aparição na Câmara dos Comuns após uma semana de isolamento devido a um diagnóstico de Covid-19, Trudeau disse que o protesto "tem que parar".

"Esta é a história de um país que passou por essa pandemia unido. Algumas pessoas gritando e acenando com suásticas não definem quem são os canadenses", afirmou. "O governo federal responderá."

O premiê canadense, Justin Trudeau, fala sobre o protesto de caminhoneiros na Câmara dos Comuns, em Ottawa, nesta segunda (7)
O premiê canadense, Justin Trudeau, fala sobre o protesto de caminhoneiros na Câmara dos Comuns, em Ottawa, nesta segunda (7) - Blair Gable/Reuters

O premiê e sua família deixaram Ottawa e foram para um local não revelado devido a preocupações de segurança. Em alguns dos atos, manifestantes carregavam bandeiras com símbolos nazistas e confederados, em um sinal de que a pauta dos protestos foi, ao menos em parte, cooptada por movimentos extremistas.

A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse nesta terça que "está claro para o governo americano que os bloqueios ampliaram seu escopo de manifestação para além da implementação da exigência de vacinas".

Os canadenses seguiram amplamente as medidas de saúde do governo e quase 79% da população elegível tomou duas doses da vacina. Mas pesquisas recentes mostraram que as frustrações contra as restrições estão crescendo.

O prefeito de Ottawa, Jim Watson, pediu ao governo central a nomeação de um mediador para dialogar com os manifestantes. No domingo, ele declarou estado de emergência na cidade ao afirmar que os protestos estavam "fora de controle". Na segunda, pediu ao gabinete de Trudeau que enviasse 1.800 policiais à capital para conseguir encerrar as manifestações, as quais descreveu como um "cerco".

Uma das porta-vozes dos manifestantes, Tamara Lich, afirmou que os ativistas estão dispostos a negociar em busca de uma solução para a crise, mas insistiu no fim das restrições aos não vacinados.

Em evento transmitido no YouTube, ela disse que os líderes do ato querem marcar uma reunião com representantes do governo para "começar os diálogos e ver como se pode avançar, obter a suspensão das restrições e mandatos, restaurar os direitos e liberdades dos canadenses e ir para casa".

Após as críticas por ter permitido o bloqueio do centro da capital, com lojas fechadas, a polícia de Ottawa anunciou no domingo novas medidas para controlar os protestos, com a proibição da entrega de combustível e mantimentos aos manifestantes. Várias pessoas foram detidas ou multadas, e veículos foram apreendidos.

Um integrante do governo do Partido Liberal disse que a facilidade com que os caminhoneiros bloquearam a área ao redor do Parlamento e a aparente impotência da polícia eram uma "humilhação nacional".

Já membros da oposição conservadora incentivaram os atos e tiraram fotos com caminhoneiros. Na semana passada, o Partido Conservador trocou seu comando porque Erin O'Toole, que liderava a sigla desde agosto de 2020, não teria demonstrado entusiasmo suficiente com o movimento.

​Segundo a polícia, o protesto conta com financiamento de apoiadores nos EUA. A plataforma de arrecadação GoFundMe suspendeu a página de doações para o "comboio da liberdade" —a decisão irritou congressistas ligados ao Partido Republicano, que prometeram abrir uma investigação contra o site. O ex-presidente Donald Trump e o bilionário CEO da Tesla, Elon Musk, expressaram apoio aos caminhoneiros.

A polícia disse ter indiciado quatro pessoas por crimes de ódio e ter aberto uma investigação junto ao FBI, a polícia federal americana, sobre ameaças contra figuras públicas.

Ecos na Nova Zelândia

Inspirado no movimento canadense, um grupo na Nova Zelândia usou, nesta terça, caminhões e outros veículos para bloquear as ruas ao redor do Parlamento na capital, Wellington, antes do primeiro discurso do ano da primeira-ministra Jacinda Ardern.

Os manifestantes também se intitulam "comboio da liberdade" e protestam contra as medidas decretadas para conter o avanço da pandemia no país, mas o ato é bem menor do que o da América do Norte —composto por algumas centenas de manifestantes.

Manifestantes contra a vacinação obrigatória e as medidas de contenção da Covid-19 bloqueiam rua ao redor do Parlamento em Wellington, na Nova Zelândia
Manifestantes contra a vacinação obrigatória e as medidas de contenção da Covid-19 bloqueiam rua ao redor do Parlamento em Wellington, na Nova Zelândia - Marty Melville/AFP

Jacinda não se encontrou com os manifestantes e disse a repórteres que eles não representam a opinião majoritária. "A maioria dos neozelandeses fez tudo o que podia para manter uns aos outros seguros."

O governo da primeira-ministra impôs algumas das mais duras restrições contra a Covid-19 nos últimos dois anos. As políticas rígidas de Jacinda ajudaram a manter o nível de infecções e de mortes em um patamar relativamente baixo: foram cerca de 18 mil casos confirmados e 53 mortes por Covid-19 até agora, no país de 5 milhões de habitantes.

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