Descrição de chapéu União Europeia Rússia

Maioria dos europeus quer que Otan defenda Ucrânia em caso de guerra contra Rússia

Pesquisa mostra que população acreditar em conflito neste ano e teme consequências, especialmente as energéticas

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Uma eventual guerra na Ucrânia tem movimentado o xadrez geopolítico e diplomático na Europa nos últimos meses, com efeitos que já se fazem sentir também entre a população do continente.

Pelo menos 62% dos habitantes de sete países que, juntos, representam mais da metade da população da União Europeia (UE) defendem que a Otan, aliança militar ocidental liderada pelos Estados Unidos, apoie a Ucrânia caso a Rússia faça uma invasão. Parcela de 60% diz que o próprio bloco deve sair em defesa de Kiev, e mais de 50% acham que Washington também tem um papel a assumir.

Militares da Ucrânia prestam homenagem a soldados mortos durante conflito com a Rússia em 2015 - 20.jan.2022/Presidência da Ucrânia via Reuters

Os resultados são de uma pesquisa do Centro Europeu de Relações Exteriores (ECFR, na sigla em inglês) divulgada nesta quarta. Cerca de 5.500 europeus de sete países —Finlândia, França, Alemanha, Itália, Polônia, Romênia e Suécia— foram ouvidos no final de janeiro.

O levantamento mostrou que a crise pode estar concentrada no Leste Europeu, mas que a população do continente está certa de que ela vai respingar em outros locais. A preocupação cresce porque muitos acreditam que uma invasão vai, de fato, ser concretizada, a despeito das especulações de que Moscou ameaça o vizinho apenas para barganhar demandas históricas e afastar o Ocidente, sem estar disposto a pagar o preço de mais uma guerra.

Na Polônia, que faz fronteira com a Ucrânia, 73% disseram achar que uma invasão russa é provável ou mesmo muito provável ainda neste ano. Na Romênia, outra vizinha, essa parcela é de 64%. Os mais céticos a essa possibilidade são os finlandeses —44% disseram achar que Moscou vá concretizar a ameaça especulada há meses.

Ainda que diga apoiar Kiev em meio ao conflito, a maior parte dos respondentes está certa de que o avanço russo representa uma ameaça à segurança da Europa em diferentes frentes, sendo a principal delas o abastecimento energético. Mais de 60% dizem que esse seria o principal desdobramento para os demais países europeus.

O assunto é ponto crítico para a Alemanha, até agora um agente diplomático secundário no conflito, que está ligada à Rússia pelo gasoduto submarino Nord Stream 2.

Autoridades alemãs se disseram dispostas a pagar o preço das consequências econômicas para defender Kiev, ao mesmo tempo que já recusaram enviar armas para os ucranianos. Na pesquisa, 59% dos respondentes alemães apontaram o desabastecimento energético como um risco para seu país em meio à crise no Leste Europeu.

A potencial crise migratória desencadeada por uma invasão também está entre as preocupações dos europeus. Pelo menos 48% estariam preocupados com o fluxo massivo de migrantes no continente, sugere o levantamento. Na Polônia, está o maior temor: 77% dizem que o país sofreria as consequências de uma onda de refugiados.

Saber o preço do conflito, no entanto, não parece arrefecer a defesa que a maior parte dos respondentes faz de Kiev. Para 46%, lidar com refugiados valeria o risco de se defender o país diante de uma invasão do governo de Putin. Arcar com preços mais altos de energia também seria uma consequência que valeria a pena para advogar a favor da nação do Leste Europeu para 44% dos entrevistados.

A tensão na fronteira ucraniana se desenrola há meses, desde que o Kremlin concentrou mais de 100 mil soldados na fronteira com o vizinho. Negociações diplomáticas entre o governo de Vladimir Putin e o de Joe Biden falharam, e figuras como o francês Emmanuel Macron e o alemão Olaf Scholz entram, aos poucos, nas mesas de diálogo que buscam estabelecer a paz na Ucrânia.

Os EUA moveram tropas para o Leste Europeu. Já a Otan, no final de janeiro, disse que não moveria seus soldados para a Ucrânia no caso de invasão. Isso porque, justificou o norueguês Jens Stoltenberg, secretário-geral da aliança, a Ucrânia não é um país-membro, ainda que seja um "parceiro altamente valorizado".

Nesta quarta, o papa Francisco voltou a falar sobre a crise, descrevendo a eventual guerra como "uma loucura".

Ao jornal britânico The Guardian o diretor e cofundador do ECFR, Mark Leonard, um dos autores da pesquisa, disse que os resultados encontrados apontam para um despertar geopolítico na Europa.

O estudo conclui que uma potencial invasão russa seria interpretada pelos europeus não apenas como um ataque a Kiev, mas à própria ordem de segurança do continente. "Se Putin ameaçou a Ucrânia para forçar os europeus a pensarem na viabilidade da segurança europeia, ele conseguiu", dizem os pesquisadores na conclusão. "Mas, a julgar pelos resultados, o presidente russo pode se surpreender, já que que a maioria dos europeus parece pronta para defender a Ucrânia."​

Com Reuters

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