Descrição de chapéu Guerra na Ucrânia Rússia

Onda de refugiados ucranianos deve superar crise dos Bálcãs, diz ONG

Avaliação é do presidente da International Rescue Committee; deslocamentos podem envolver até 5 milhões, estima ONU

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Milão

Filas em postos de gasolina e caixas eletrônicos, estações de trem e rodoviárias com plataformas lotadas, avenidas tomadas por carros em uma única direção –a de saída. A movimentação dentro e nas fronteiras da Ucrânia se intensificou assim que ficou claro que os ataques russos haviam, de fato, começado, na madrugada da quinta-feira (24).

Segundo os primeiros cálculos da ONU e da Comissão Europeia, entre 100 mil e 120 mil pessoas se deslocaram somente no primeiro dia da guerra.

Famílias ucranianas descansam na principal estação ferroviária de Przemysl, na Polônia, que foi transformada em centro de recepção temporário para refugiados do país sob ataque da Rússia - Wojtek Radwanski/AFP

São dois movimentos principais. Muitos deixam os grandes centros ou aqueles já alcançados pelos russos em direção a cidades menores dentro da própria Ucrânia, procurando se aproximar das áreas a sudoeste, a mais distante da linha com a Rússia. Outros já cruzam a fronteira de países vizinhos, especialmente os que fazem parte tanto da União Europeia quanto da Otan, a aliança militar Ocidental, caso da Romênia e da Polônia.

Os deslocamentos devem se manter nos próximos dias e, a depender do agravamento do conflito, envolver até 5 milhões de moradores —a população total da Ucrânia é de cerca de 44 milhões.

"Se a Rússia continuar nesse caminho, pode, de acordo com nossas estimativas, criar uma nova crise de refugiados, uma das maiores que o mundo enfrenta hoje, com até 5 milhões de pessoas deslocadas", afirmou Linda Thomas-Greenfield, embaixadora americana na ONU, na quarta-feira (23), um dia antes do ataque russo. A organização anunciou um pacote de ajuda humanitária para a Ucrânia de US$ 20 milhões.

O inglês David Miliband, presidente do International Rescue Committee, disse à TV britânica que a Europa deve enfrentar uma onda de refugiados muito maior do que a ocorrida nos anos 1990. Os conflitos relacionados à dissolução da antiga Iugoslávia, como em Croácia, Bósnia e Kosovo, provocaram o deslocamento dentro e fora das fronteiras de cerca de 4,4 milhões de pessoas.

"Só podemos ter esperança de que os números não cheguem a esse nível. Seria um grande e grave nível de deslocamento. Mas mesmo em deslocamentos realmente em grande escala, isso é algo que a Europa pode administrar", disse à Folha Catherine Woollard, diretora do Conselho Europeu sobre Refugiados e Exilados (ECRE), rede de 105 ONGs que atuam em 39 países.

Fabio Prevedello, presidente da Associação Itália-Ucrânia Maidan, que está em contato com famílias ucranianas diz que nas grandes cidades estão os alvos militares e político-administrativos na mira dos russos, e há o temor óbvio de que isso acabe atingindo também residências. "Nas fronteiras, os relatos são de que os países vizinhos estão deixando a passagem livre, sem a exigência de documentos especiais, apenas os que comprovam a identidade da pessoa."

Segundo ele, o perfil de quem cruza a fronteira é de mulheres, idosos e crianças, com muitos homens restando no país, para o combate.

Os países da União Europeia, tanto em bloco quanto individualmente, manifestaram nas últimas horas prontidão no acolhimento dos refugiados. "Temos, com os países da linha de frente, planos de contingência para acolher imediatamente os refugiados da Ucrânia. Esperamos que haja o mínimo possível de refugiados, mas estamos preparados e eles são bem-vindos", disse a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen.

Na Polônia, com 500 km de fronteira com a Ucrânia, o governo anunciou a disposição de oito pontos de acolhimento, com estrutura para que os refugiados possam dormir, comer e receber assistência médica.

"Quem estiver fugindo de bombas, das armas russas, pode contar com o apoio do governo polonês", declarou Mariusz Kamiński, ministro do Interior. Segundo uma rádio local, outra autoridade do ministério afirmou que a Polônia estava se preparando para uma onda de 1 milhão de ucranianos.

Os primeiros sinais positivos de recepção de refugiados contrastam com crises recentes, como a da Síria, em 2016, ou mesmo da Belarus, nos últimos meses, em que países se mostraram hostis em relação aos imigrantes. "Infelizmente, algumas políticas são determinadas por fatores como cor da pele, religião e nacionalidade. Esses fatores influenciam a resposta a diferentes movimentos de refugiados e, em alguns casos, ilegalmente e de forma antiética isso influencia a abertura e o acolhimento oferecidos", diz Woollard.

"Os eventos que começaram na manhã de quinta irão, inevitavelmente, levar a uma catástrofe humanitária colossal", afirma Tetiana Stawnychy, presidente da Cáritas Ucrânia. "É impossível acreditar que no século 21, no centro da Europa, pessoas tenham que acordar às 5 da manhã com explosões e o barulho de sirenes."

Segundo a organização, ligada à Igreja Católica, a crise gerada pela anexação russa da Crimeia, em 2014, provocou o deslocamento de 1,5 milhão de pessoas. A situação na fronteira entre Rússia e Ucrânia, que já vinha sendo monitorada nos últimos seis meses, já havia deixado quase 3 milhões de pessoas precisando de ajuda humanitária. "Esse número hoje está crescendo exponencialmente."

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