Descrição de chapéu Partido Republicano

Partido Republicano diz que invasão do Capitólio foi 'discurso político legítimo'

Em outra frente, Mike Pence afirma que Trump errou ao sugerir interferência no resultado eleitoral

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O Partido Republicano, de Donald Trump, declarou nesta sexta-feira (4) que a invasão do Capitólio, sede do Legislativo americano, há um ano, foi um "discurso político legítimo". O episódio, quando apoiadores insuflados pelo então presidente tentaram impedir a ratificação da vitória eleitoral de Joe Biden, foi o maior ataque à democracia dos Estados Unidos na história recente.

A declaração consta em uma resolução da sigla que censurou a postura de dois parlamentares republicanos, Liz Cheney e Adam Kinzinger, por terem apoiado uma investigação do Congresso sobre os esforços de Trump para atrapalhar o pleito que alçou Biden à Casa Branca.

Os parlamentares Liz Cheney e Adam Kinzinger, censurados pelo Partido Republicano por criticarem a invasão do Capitólio - Drew Angerer - 4.fev.2022/Pool/AFP

Cheney e Kinzinger, que representam os estados de Wyoming e Illinois, respectivamente, votaram a favor do impeachment de Trump, procedimento aberto quando o ex-presidente foi acusado de incitar americanos à insurreição. Trump acabou absolvido pelo Senado, naquele que foi o segundo processo de destituição enfrentado por ele no mandato.

O Comitê Nacional Republicano acusou os deputados de participarem de uma "perseguição liderada por democratas a cidadãos comuns envolvidos em um discurso político legítimo". A resolução foi aprovada durante reunião da sigla que contou com 168 membros. Foi necessário apenas um minuto de votação, sem debates, segundo a mídia americana.

O texto diz ainda que as ações de Cheney e Kinzinger prejudicam a estratégia do partido para tentar reconquistar a maioria no Congresso, uma vez que ambos "demonstraram que apoiam os esforços democratas para destruir Trump muito mais do que apoiam os republicanos".

Em outro trecho, logo no início da resolução, o comitê alega que Biden e os democratas embarcaram em um trabalho sistemático para substituir a liberdade americana pelo socialismo. Também há espaço para críticas ao aumento a galope da inflação nos EUA, que atingiu o valor mais alto desde 1982.

O documento afirma que o comitê "encerrará imediatamente todo e qualquer apoio" a Cheney e Kinzinger como membros do partido, mas não chega a pedir que deixem a legenda —como chegou a ser proposto anteriormente. Os dois emitiram comunicados antes da reunião rechaçando as consequências que já previam sofrer.

"Os líderes do Partido Republicano se tornaram reféns de um homem que admite ter tentado derrubar uma eleição presidencial e sugere que perdoaria os réus do 6 de Janeiro, alguns dois quais acusados de conspiração", disse Liz Cheney, referindo-se ao fato de Trump ter dito que, caso seja reeleito em 2024, vai considerar conceder indultos aos condenados no caso.​

Adam ​Kinzinger afirmou que é um republicano conservador desde antes de Trump entrar na política. E prometeu continuar "trabalhando para combater a matriz política que nos levou a este ponto".

A repreensão aos parlamentares também foi criticada por outros membros da legenda. O senador Mitt Romney, de Utah, por exemplo, afirmou em uma rede social que Cheney e Kinzinger honraram seus papéis quando buscaram a verdade, mesmo que isso tenha vindo acompanhado de grande custo pessoal. "A vergonha recai sobre um partido que censura aqueles que buscam a verdade", escreveu ele.

Caracterizar a invasão do Legislativo como um "discurso político legítimo" também acendeu críticas dos democratas, como esperado. O deputado Jamie Raskin, de Maryland, disse que a descrição é um "escândalo que vai causar horror aos historiadores". "O Partido Republicano está tão perdido que agora descreve uma tentativa de golpe como forma de expressão política." Raskin compõe o comitê especial da Câmara que investiga o episódio.​

Horas depois, o Comitê Nacional Republicano tentou negar que tenha feito essa afirmação. Ronna McDaniel, que preside a instância, argumentou em comunicado que, na verdade, "a resolução se referia a cidadãos comuns que se engajaram em discursos políticos legítimos, sem quaisquer relações com violência no Capitólio."​

Ainda nesta sexta, o republicano Mike Pence, vice na gestão Trump, fez suas críticas mais contundentes ao ex-presidente. Falando a conservadores em Orlando, ele disse que o então cabeça de chapa errou ao dizer que seu vice teria autoridade legal para alterar o resultado das eleições.

Apoiado em uma norma obscura, Trump pressionou Pence, que chefiou a sessão de ratificação de Biden no Congresso, a não confirmar a vitória do democrata. "Eu não tinha o direito de anular a eleição", disse Pence, que também sugeriu que as falsas alegações de Trump e de apoiadores do ex-líder corroem a democracia americana.

"A verdade é que há mais em jogo do que nosso partido ou nossas fortunas políticas", disse ele, que pensa em concorrer à Presidência, segundo relato do jornal The New York Times. "Se perdermos a fé na Constituição, não perderemos apenas as eleições, perderemos nosso país."

Cinco pessoas, incluindo um policial, morreram na invasão do Capitólio. Cerca de 140 agentes de segurança ficaram feridos e outros quatro se suicidaram pouco depois. Um ano após o episódio, 727 americanos já foram indiciados pelo governo por adesão à violência, e menos de 30 receberam sentenças —a maior pena de prisão até aqui foi de cinco anos.

Uma pesquisa recente, que traçou o perfil daqueles que atacaram a sede do Legislativo, mostrou que eram majoritariamente homens radicais de ultradireita, com idade média de 42 anos, bem empregados e ajustados socialmente.

O Congresso tem avançado nas investigações sobre o caso, ainda que Trump e apoiadores, como o ex-conselheiro Steve Bannon, tenham tentado obstruir o processo se recusando a fornecer documentos.

Também nesta sexta, a mídia local revelou que os parlamentares têm em mãos registros da Casa Branca que fornecem detalhes sobre uma chamada telefônica entre Trump e o deputado republicano Jim Jordan ocorrida na manhã do 6 de Janeiro. Jordan foi um dos que foram ao plenário da Câmara, durante a cerimônia que ratificava a vitória de Biden, para se opor à certificação do democrata.

Ele havia se recusado a comparecer voluntariamente para prestar depoimento ao comitê, aumentando as especulações de que teria participado da articulação que chamou os apoiadores de Trump a ocuparem o entorno do Capitólio e, depois, invadi-lo.

Com Reuters e The New York Times

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