Joe Rogan pede desculpas por usar linguagem racista, e Spotify deleta episódios

Podcaster diz que algumas falas foram tiradas de contexto, mas que conteúdo era 'horrível, até para mim'

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Nova York e Washington | AFP e Reuters

O podcaster americano Joe Rogan pediu desculpas pelo uso de linguagem racista neste sábado (5), mesmo dia em que o jornal The New York Times publicou que o Spotify, plataforma que distribui o programa apresentado por ele, deletou alguns dos episódios mais ofensivos da atração.

"Minhas mais sinceras e humildes desculpas", afirmou Rogan num vídeo de cinco minutos no Instagram, apontando se tratar da "coisa mais lamentável e vergonhosa" que ele teve que abordar publicamente.

O podcaster americano Joe Rogan - Carmen Mandato - 10.dez.21/AFP

O pedido de desculpas ocorre após a divulgação de um compilado de vídeos antigos nos quais o podcaster aparece utilizando a palavra "nigga", forma ofensiva com a qual brancos se dirigiam aos negros na época da escravidão, mas que hoje é utilizada de forma coloquial no hip-hop, nos Estados Unidos.

O termo, porém, continua soando pejorativo quando proferido por uma pessoa branca, e Rogan, 54, reconheceu que esta não é uma palavra para ele usar. Para o podcaster, algumas de suas falas foram tiradas de contexto, mas o conteúdo era "horrível, até para mim" e terrível também dentro do contexto.

"Nunca usei [termos racistas] para ser racista, porque não sou racista", declarou. "Mas toda vez que você está em uma situação em que tem de dizer que não é racista, você errou feio."

O New York Times informou que cerca de 70 episódios do programa "The Joe Rogan Experience" foram deletados pelo Spotify —o serviço de streaming não se pronunciou.

Rogan enfrenta uma outra controvérsia depois de ter publicado uma entrevista de três horas com o imunologista americano Robert Malone, que traçou paralelos entre a Alemanha nazista e os EUA de hoje, citando que a sociedade estaria sendo "hipnotizada" para acreditar nos imunizantes contra a Covid e nas medidas sanitárias para combater a pandemia. O episódio foi publicado em 31 de dezembro.

Dias depois, um grupo de cientistas e profissionais de saúde relatou ao Spotify dados falsos a respeito da vacinação e da Covid-19 no podcast, mas a empresa optou por manter o episódio na plataforma —movimento contrário ao do YouTube, que derrubou o conteúdo no canal oficial do programa e as tentativas de outros usuários de fazerem upload do vídeo.

Na sequência, vários artistas decidiram retirar suas músicas do Spotify, como forma de protesto. A iniciativa foi liderada pelo cantor Neil Young e contou com a adesão de Joni Mitchell e do trio David Crosby, Stephen Stills e Graham Nash. Só Young tinha 2,4 milhões de seguidores na plataforma e mais de 6 milhões de ouvintes mensais. A mídia americana também noticiou que fãs de Taylor Swift têm pressionado a cantora a seguir a campanha.

Ao comentar a polêmica, Rogan defendeu continuar recebendo convidados com "pontos de vista controversos", mas disse estar aberto para balancear essas perspectivas. "Não quero mostrar só a opinião contrária à narrativa corrente. Quero mostrar todas as opiniões, para que possamos entender o que está acontecendo. E não só sobre a Covid, mas tudo", afirmou em post no Instagram

Já o Spotify anunciou no domingo (30) que todos os podcasts que mencionarem a Covid-19 terão links com informações factuais, cientificamente comprovadas sobre a pandemia –algo semelhante ao que acontece em redes sociais como o Instagram. Segundo a plataforma, já foram removidos mais de 20 mil episódios relacionados ao coronavírus desde o início da pandemia devido à desinformação.

"Sabemos que temos um papel crítico a desempenhar no apoio à liberdade de expressão do criador [de conteúdo], ao mesmo tempo que temos que equilibrá-la com a segurança de nossos usuários", escreveu o CEO e um dos fundadores da empresa, Daniel Ek, em carta pública.

"Nesse papel, é importante para mim que não assumamos a posição de censurar o conteúdo, ao mesmo tempo que nos certificamos de que existem regras e consequências para aqueles que as violam."

Estima-se que o podcast "The Joe Rogan Experience" atraia cerca de 11 milhões de ouvintes por episódio e, segundo o jornal The Wall Street Journal, o Spotify teria pago mais de US$ 100 milhões (R$ 532 milhões) pela exclusividade da atração. O podcaster tem 14,4 milhões de seguidores no Instagram e 8,2 milhões no Twitter. Como comparação, nessas redes sociais, o presidente americano, Joe Biden, soma 17,6 milhões e 32,3 milhões de seguidores, respectivamente.

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