Postura neutra serve apenas a escalada de tensões, diz embaixada da Ucrânia no Brasil

Anatoliy Tkach defende que governo Bolsonaro condene decisão de Putin de reconhecer territórios rebeldes e enviar tropas

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Brasília

Chefe da embaixada da Ucrânia no Brasil, o diplomata Anatoliy Tkach afirmou nesta terça-feira (22) que a responsabilidade de evitar o agravamento do conflito no leste do país europeu deve ser compartilhada por toda a comunidade internacional. Para ele, manter uma posição de isenção serve apenas para a estimular a escalada das tensões.

Ele fez ainda um apelo para que o governo Jair Bolsonaro (PL) condene a decisão do presidente da Rússia, Vladimir Putin, de reconhecer os territórios rebeldes de Donetsk e Lugansk e mandar tropas para essas localidades.

Manifestantes com bandeira da Ucrânia em Odessa
Manifestantes com bandeira da Ucrânia em Odessa - Oleksandr Gimanov- 20.fev.22/AFP

"Toda a comunidade internacional é responsável pela prevenção do novo conflito. A ausência de uma postura ou uma postura neutra servirá apenas para uma maior escalada [das tensões]", afirmou Tkach.

Após meses em que Estados Unidos e aliados denunciaram a concentração de tropas russas na fronteira com a Ucrânia, Putin reconheceu, na segunda (21), a independência de duas províncias resultantes da guerra civil no leste ucraniano. Depois de assinar o ato, determinou o envio de tropas do Kremlin para apoiar os separatistas étnicos russos.

Na entrevista, Tkach pediu que o governo Bolsonaro se oponha à decisão. "Gostaríamos de contar com um apoio do Brasil na questão relacionada à decisão [tomada por Putin]. O Brasil sempre se pronunciou a favor da retomada das negociações diplomáticas e também gostaríamos que o Brasil condenasse a decisão da federação da Rússia", afirmou.

A posição brasileira sobre o tema foi expressa na segunda-feira pelo embaixador do país na ONU, Ronaldo Costa Filho, durante sessão do Conselho de Segurança. Na ocasião, o diplomata brasileiro defendeu um cessar-fogo imediato, bem como a "retirada abrangente de tropas e equipamentos militares no terreno". No entanto, Costa Filho não mencionou Putin em seu discurso e evitou qualquer condenação específica à decisão russa de reconhecer os territórios e ocupá-los militarmente.

Com isso, o Brasil tenta se equilibrar no delicado tabuleiro internacional e não se indispor com o governo Putin. A Rússia é parceira do Brasil no Brics (bloco também formada por Índia, China e África do Sul) e foi destino, na semana passada, de uma visita do presidente Bolsonaro.

O chefe da embaixada ucraniana em Brasília argumentou que a manifestação do Brasil na ONU "foi um sinal claro de que o discurso da Rússia não está influenciando todos os membros da comunidade internacional".

A passagem de Bolsonaro por Moscou em meio à escalada das tensões na fronteira ucraniana foi controversa. A agenda foi mantida mesmo depois de pressões dos EUA para que se cancelasse a viagem. Em declarações, o presidente disse "ser solidário" à Rússia —sem especificar a que aspecto se manifestava— e se referiu a Putin como alguém que busca a paz, o que provocou críticas do governo americano.

Nesta terça, Anatoliy Tkach afirmou que a Ucrânia vive a "ameaça real de uma invasão russa" que visa ocupar parte ou a totalidade de seu território.

"Essa invasão seria uma violação grave dos princípios fundamentais do direito internacional e a Ucrânia, junto com os seus parceiros, está aplicando os esforços diplomáticos para impedir [que ela ocorra]".

Ele afirmou também que a determinação de Putin de reconhecer os territórios de Donetsk e Lugansk representa a retirada unilateral russa dos Acordos de Minsk —mecanismo de diálogo criado para tentar solucionar o conflito no leste ucraniano.

"Entendemos os propósitos das ações da Rússia, de provocar a Ucrânia, mas estamos comprometidos com a solução político-diplomática do conflito armado."

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