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Presidente mundial da CNN renuncia após caso com funcionária ser descoberto

Relacionamento de Jeff Zucker com alta executiva da rede veio à tona em meio a investigações sobre Chris Cuomo

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Jeff Zucker, 56, presidente da rede americana CNN e da divisão de notícias e esportes da WarnerMedia, anunciou sua renúncia aos cargos nesta quarta-feira (2), alegando que manteve um relacionamento amoroso com uma alta executiva da CNN sem tê-lo divulgado à empresa.

A notícia foi anunciada em memorando interno aos funcionários das empresas, obtido pelo jornal The New York Times. Zucker explica, no documento, que a existência do relacionamento veio à tona durante as investigações internas sobre a conduta do ex-âncora Chris Cuomo, realizadas no ano passado.

O agora ex-presidente da rede CNN Jeff Zucker, durante conferência em Barcelona, na Espanha - Luis Gene - 26.fev.2018/AFP

Irmão do ex-governador de Nova York Andrew Cuomo, que renunciou após ser acusado de assédio sexual contra colegas, Chris foi demitido da CNN em dezembro. A empresa alegou que novas evidências apontaram um envolvimento maior do jornalista na estratégia do irmão para reagir às denúncias.

"Como parte da investigação sobre o trabalho de Chris Cuomo, perguntaram-me sobre um relacionamento consensual com minha colega mais próxima, alguém com quem trabalhei por mais de 20 anos", escreveu Zucker. "Reconheci que a relação evoluiu nos últimos anos. Era obrigado a divulgar quando começou, mas não o fiz. Errei."

Zucker estava se referindo a Allison Gollust, vice-presidente executiva e diretora de marketing da CNN e uma das mais altas lideranças da rede, que está intimamente envolvida em decisões de negócios da empresa. Ela disse, em comunicado, que permanecerá no cargo.

Gollust explicou que seu relacionamento com o agora ex-presidente mundial da CNN mudou recentemente. "Jeff e eu somos amigos próximos e colegas profissionais há mais de 20 anos", escreveu. "Nosso relacionamento mudou durante a [pandemia de] Covid. Lamento que não o tenhamos divulgado no momento certo." Nenhum dos executivos envolvidos é casado.

O episódio se dá no momento em que a fusão entre WarnerMedia e Discovey está prestes a se concretizar, tornando-se o conglomerado de mídia com o segundo maior faturamento do planeta, atrás da Disney. Após a divulgação da renúncia, a empresa comunicou que em breve anunciará um presidente interino.

Antes de presidir a CNN, Zucker trabalhou durante anos na rede americana NBC e foi um dos responsáveis por lançar, em 2004, o programa "O Aprendiz", apresentado pelo então empresário Donald Trump, que mais tarde se tornaria o presidente dos Estados Unidos. Zucker começou na CNN em janeiro de 2013.

Nos últimos meses, esteve envolvido na formação do CNN+, um serviço de streaming por assinatura que deve ser lançado em breve. Por semanas, ele ficou do lado de Chris Cuomo, contra a possibilidade de demissão do âncora, mas mudou de ideia conforme as evidências vinham à tona.

Chris Cuomo em sua sala na CNN em Nova York
Chris Cuomo em sua sala na CNN em Nova York - Krista Schlueter - 12.dez.17/The New York Times

Cópias de mensagens de texto e emails, bem como depoimentos do ex-governador e de seus assessores mais próximos, contradisseram o que Chris declarava. As provas revelam que ele se comunicava frequentemente com a assessoria do irmão e opinava sobre o desenrolar dos acontecimentos.

Aos investigadores o âncora insistiu nunca ter manipulado a cobertura ou feito sugestões a jornalistas para beneficiar o ex-governador. Aos espectadores disse ter agido apenas como um irmão para "ouvir e dar conselhos", orientando o democrata a dizer a verdade, qualquer que fosse, e eventualmente a renunciar.

Devido ao acesso que ele tem a diversas fontes dentro e fora da imprensa americana, o jornalista foi acionado pela ex-assessora Melissa DeRosa —que deixou o cargo dois dias antes de Cuomo— enquanto ela tentava controlar, no início de março do ano passado, os repórteres que investigavam as histórias de assédio. "Pode deixar", foi a resposta de Chris Cuomo, de acordo com a mídia americana.

Dias depois, ela voltou a escrever para ele ao saber que um repórter da revista The New Yorker se preparava para publicar uma reportagem, pedindo que o âncora da CNN checasse a informação.

Ainda naquele mês, o jornalista também procurou DeRosa por mensagem de texto, dizendo-se em "pânico" devido à forma com que a equipe de seu irmão estava lidando com as acusações e pediu para ajudar na preparação de Andrew antes de redigir declarações propostas para o então governador ler.

Ele também pediu que a assessora confiasse nele e insistiu para que parassem de esconder detalhes. "Estamos cometendo erros que não podemos [cometer]", escreveu a certa altura.

Chris Cuomo ainda procurou a ex-assessora após uma reportagem do New York Times sobre um assédio cometido num casamento. O jornalista escreveu dizendo ter uma pista de que a mulher estaria agindo para ferir a imagem do ex-governador —o que não era verdade, segundo ele admitiu aos investigadores.

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