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Protesto some das redes sociais e expõe censura na China

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Igor Patrick
Pequim

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Um vídeo publicado na internet que mostra uma mulher, mãe de oito filhos, acorrentada pelo pescoço em um galpão na zona rural da província de Jiangsu gerou reações e um protesto escrito por ex-alunos da Universidade de Pequim. A carta foi censurada pelo governo chinês após a sua divulgação.

Nas imagens divulgadas, a vítima aparece sem dentes e com roupas finas no rigoroso inverno chinês. Ela não conseguia nem responder às perguntas de quem estava filmando. O conteúdo viralizou no Douyin (versão local do TikTok).

A polícia de Jiangsu, inicialmente, minimizou a gravidade da história e divulgou que a mulher era natural de Yunnan, no sudoeste do país, e tinha sido levada para Jiangsu em 1998 por um amigo que queria encontrar para ela uma "boa família e um bom casamento".

Conforme mais dados foram desenterrados pelos internautas, descobriu-se que a mulher tinha sido traficada ainda nova.

A inaptidão da polícia gerou uma onda de fúria online e offline, motivando a carta dos alunos da prestigiada Universidade de Pequim.

  • O texto cobrou uma investigação das autoridades locais envolvidas no caso e uma "abrangente revisão das leis nacionais de proteção às mulheres e crianças traficadas";
  • Os alunos criticaram os relatos "cheios de inconsistências" dados pela polícia local e cobraram uma "resposta firme" do governo central.

A carta desapareceu das redes sociais chinesas pouco depois de ser publicada. Os posts foram substituídos pelo aviso padrão de censura: "não é possível visualizar este conteúdo porque ele viola regras."

Por que importa: a Universidade de Pequim (ou Beida, como é chamada pelos chineses) é conhecida pela natureza contestadora dos alunos. Foi no campus que começaram os protestos de Quatro de Maio de 1919 contra o imperialismo estrangeiro e o da Praça da Paz Celestial, em 1989.

Mesmo assim, um desafio aberto e público ao governo central do país é raro.

A reação dos alunos, vistos na China como a elite acadêmica nacional, mostra não só o quanto o caso reverberou como uma preocupação cada vez maior com os episódios de feminicídio, violência de gênero e agressões domésticas reportados nos últimos anos.

o que também importa

A China revelou nesta semana um ambicioso plano para elevar a qualidade do ensino superior no país. O país tem duas universidades no top 20 das melhores instituições do mundo.

O Ministério da Educação divulgou uma lista com 147 universidades e mais 300 disciplinas que se tornarão o foco de investimento. O objetivo é transformar os cursos em "formações de primeira classe", catapultando mais universidades chinesas nos rankings mundiais até 2030.

  • "Embora o primeiro conjunto de metas tenha sido alcançado, o progresso [das universidades chinesas] ainda está aquém da expectativa do Partido Comunista e do povo", informa o texto.

Engenharias, ciências biológicas e sociais receberão a maior fatia das verbas, embora a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma pretenda criar formações interdisciplinares para "aumentar a competitividade da China internacionalmente".

Xi Jinping expressou descontentamento e cobrou "responsabilidade" de oficiais governamentais de Hong Kong no controle da mais recente onda de Covid-19.

Segundo o jornal South China Morning Post, o líder chinês instruiu autoridades a "tomarem todas as medidas necessárias para proteger a vida e a segurança dos moradores, mantendo a estabilidade social". Ele também pediu que o vice-primeiro-ministro chinês Han Zheng transmitisse sua "preocupação" à chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, com o aumento no número de casos.

Pequim informou que vai estabelecer um grupo de coordenação de alto nível para colaborar com Hong Kong na contenção dos casos.

O número de casos de infecção pelo novo coronavírus em Hong Kong aumentou nas últimas duas semanas. Cientistas da cidade declararam que só um lockdown rigoroso de "dois ou três meses" possibilitaria o retorno à política de Covid zero.

Pacientes em camas de hospital colocadas na área externa do Caritas Medical Centre, em Hong Kong, na última quarta-feira (16). - Peter Parks/AFP

A China reafirmou que não vai renovar ou emitir passaportes para viagens não essenciais enquanto a Covid representar "grandes riscos de segurança" nacional.

A política foi introduzida no ano passado e visa reduzir o risco de o vírus ser trazido do exterior por chineses que retornam para casa.

  • O país não planeja rever a medida a curto e médio prazos;
  • Quem viaja para estudar, trabalhar ou fazer negócios está autorizado a pedir o documento.

"Boatos de renovação de passaporte para indivíduos que viajam a lazer são falsos", escreveu o órgão em uma nota oficial.

fique de olho

Falhou parcialmente aquela que poderia ser a primeira vacina chinesa contra a Covid com tecnologia mRNA, a mesma dos imunizantes americanos da Pfizer e Moderna.

Provisoriamente chamado de ARCoV, o composto vinha sendo desenvolvido há meses pela Academia de Ciências Médicas Militares. Dados preliminares mostraram que vacinados com duas doses "mantiveram atividade de neutralização baixa, mas detectável contra a ômicron". Ao se aplicar uma terceira dose, os níveis de neutralização foram maiores. A pesquisa deve continuar.

Por que importa: a China saiu na frente no desenvolvimento de vacinas apostando em uma tecnologia antiga, mas eficaz: a do vírus inativado. O problema é que estudos recentes indicam que a eficácia dessa técnica para prevenir infecções é baixa.

Fechado há mais de dois anos, o país precisa de um imunizante ou de um tratamento altamente eficaz que permitam às autoridades reabrirem as fronteiras sem arriscar perder o apoio da população, acostumada a manter uma vida próxima do normal dado o sucesso no controle do vírus. ​

para ir a fundo

  • O panda Bing Dwen Dwen, mascote das Olimpíadas de Inverno, tem roubado as atenções e viralizado na China. O The Wall Street Journal, porém conta mais sobre a confusão nos bastidores após o ator que usa a fantasia resolver falar. (paywall poroso, em inglês)
Bing Dwen Dwen, mascote dos Jogos Olímpicos de Inverno Pequim-2022
  • A Observa China retorna neste sábado (19) com a série de eventos semanais. A primeira palestra será com o diplomata Pedro Henrique Batista Barbosa, que vai falar sobre investimentos chineses no mercado energético do Brasil. (gratuito, em português)
  • A Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres recebe a professora Pei-Chia Lan no próximo dia 21 para uma palestra virtual sobre as novas dinâmicas familiares em Taiwan com o avanço da globalização na ilha. (gratuito, em inglês)
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