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Qual foi o caminho político da Ucrânia até as atuais tensões com a Rússia

Desde quando Kiev se tornou independente, ucranianos lutam para se aproximar do Ocidente

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Kiev | Reuters

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, deu um passo considerável para o que seria um conflito na Ucrânia ao reconhecer as áreas autônomas resultantes da guerra civil no leste do vizinho. Depois de assinar o ato, determinou o envio de tropas do Kremlin para apoiar os separatistas étnicos russos.

Os americanos vêm alertando há semanas sobre o risco de uma invasão russa, que o Kremlin vinha negando, devido à mobilização de cerca de 150 mil soldados nas fronteiras com a Ucrânia.

Entre as principais razões para todo o conflito estão a histórica tentativa de distanciamento de Moscou por parte de Kiev e o desejo do Ocidente em angariar os ucranianos para sua área de influência. Para entender os recentes eventos neste confronto, é necessário conhecer os principais acontecimentos na política da Ucrânia desde o fim da União Soviética, quando, enfim, o país se tornou independente.

Membros do governo ucraniano cantam o hino nacional durante a celebração do Dia da Unidade, em frente ao prédio do governo, em Kiev
Membros do governo ucraniano cantam o hino nacional durante a celebração do Dia da Unidade, em frente ao prédio do governo, em Kiev - Sergey Starostenko - 16.fev.22 /Xinhua


1991

Leonid Kravchuk, líder da república soviética da Ucrânia, declara independência de Moscou. Em referendo e eleição presidencial, ucranianos aprovam a independência e elegem Kravchuk como presidente do país.

1994

Leonid Kuchma vence Kravchuk na eleição presidencial considerada livre e justa pelos observadores.

1999

Kuchma é reeleito em 1999 em uma votação com a acusação de diversas irregularidades.

2004

O candidato pró-Rússia Viktor Yanukovich é eleito presidente, mas alegações de fraude nas eleições desencadeiam protestos, no que ficou conhecido como a Revolução Laranja. Uma nova votação é realizada, e o ex-primeiro-ministro Viktor Yushchenko é eleito presidente, com uma narrativa pró-Ocidente.

Simpatizantes de Viktor Yushchenko carregam bandeiras e faixas e fazem o sinal da vitória em manifestação em Kiev
Simpatizantes de Viktor Yushchenko carregam bandeiras e faixas e fazem o sinal da vitória em manifestação em Kiev - Alexander Demianchuk - 7.dez.04 / Reuters

2005

Yushchenko assume o poder com promessas de tirar a Ucrânia da órbita do Kremlin, em direção à Otan e à União Europeia. A ex-chefe de uma das maiores empresas de energia do país, Yulia Timoshenko, é escolhida como primeira-ministra, mas depois de brigas internas no campo pró-Ocidente ela acaba deixando o cargo.

2008

A Otan promete à Ucrânia que um dia o país se juntará à aliança.

2010

Viktor Yanukovich derrota Timoshenko na eleição presidencial. Posteriormente, a Rússia e a Ucrânia fecham um acordo de preços de gás em troca da prorrogação do arrendamento de um porto ucraniano no Mar Negro para a Marinha russa –Yanukovich governava a região de Donetsk, uma das áreas mais pró-Rússia do país, havia oito anos.

2013

O governo de Yanukovich suspende, em novembro, as negociações que colocaria a Ucrânia na União Europeia e opta por retomar os laços econômicos com Moscou, provocando meses de manifestações em Kiev.

2014

Os protestos, em grande parte concentrados na praça Maidan, em Kiev, tornam-se violentos e dezenas de manifestantes são mortos. Em fevereiro, o parlamento afasta Yanukovich do poder e o então presidente foge para a Rússia –nessa época, o líder pró-Moscou é acusado de corrupção e tem sua mansão invadida por manifestantes (a propriedade, posteriormente, tornou-se uma espécie de "museu da corrupção").

Em poucos dias, homens armados tomam o Parlamento na região da Crimeia, no sul da Ucrânia, e hasteiam a bandeira russa —a região foi entregue à administração de Kiev ainda na década de 1950, quando a cidade era a capital da república soviética da Ucrânia, que respondia a Moscou. Anos mais tarde, com a dissolução da União Soviética, a Crimeia continuou sob a administração dos ucranianos, agora independentes.

Em março, moradores da região da Crimeia votam, por meio de um referendo, para serem anexados à Rússia e Vladimir Putin acata a decisão, contrariando o Ocidente.

Um mês depois, separatistas pró-Rússia nas regiões de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia, declaram independência –é lá onde está localizada boa parte daqueles que se identificam como russos, mas moram em território ucraniano. A região tem relações seculares com o país vizinho, tendo recebido no século 19 centenas de russos que pretendiam trabalhar em setores pesados da indústria. Além disso, nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial, russos ajudaram na reconstrução da área, completamente destruída devido às batalhas contra os nazistas.

A partir da declaração de independência, começam os combates entre Kiev e os separatistas, que continuaram esporadicamente, apesar dos frequentes cessar-fogos, até 2022.

Em maio, o empresário Petro Porochenko é eleito presidente com uma agenda pró-Ocidente e, em julho, em meio à guerra no leste ucraniano, um míssil derruba um avião comercial e mata as 298 pessoas que seguiam de Amsterdã para Kuala Lumpur, na Malásia. A arma usada é rastreada pelos investigadores até a Rússia, que nega envolvimento.

2017

Ucrânia e União Europeia chegam a acordo que prevê livre comércio entre ambas as partes e retira a necessidade de ucranianos terem vistos para entrarem em países do bloco.

2019

Ainda no início do ano, a Igreja Ortodoxa Ucraniana ganha reconhecimento formal, irritando o Kremlin. Quatro meses depois, o comediante Volodimir Zelenski derrota Porochenko e se torna o novo presidente do país, com promessas de combater a corrupção e acabar com a guerra no leste da Ucrânia. Completando a vitória, em julho, o partido de Zelenski, "Servo do Povo", vence as eleições parlamentares.

O então comediante Volodimir Zelenski comemora a vitória à Presidência da Ucrânia, em Kiev
O então comediante Volodimir Zelenski comemora a vitória à Presidência da Ucrânia, em Kiev - Sergey - 21.abr.19 / Xinhua

2021

Em janeiro, Zelenski apela ao presidente dos EUA, Joe Biden, para aceitar a Ucrânia na Otan e, um mês depois, seu governo impõe sanções a Viktor Medvedchuk, líder da oposição e o aliado mais proeminente do Kremlin na Ucrânia.

Entre março e junho, a Rússia reúne tropas perto das fronteiras da Ucrânia, alegando exercícios de treinamento. Em outubro, por outro lado, a Ucrânia usa o drone turco Bayraktar TB2 pela primeira vez no leste da Ucrânia.

Já a partir de setembro, a Rússia começa novamente a reunir tropas perto da Ucrânia, e Biden diz, três meses depois, que Moscou sofrerá graves sanções econômicas se invadir o país vizinho. A Rússia, por sua vez, apresenta exigências de segurança e pede uma uma garantia de que a Otan não inclua a Ucrânia na aliança, além de desistir de qualquer atividade militar no leste europeu.

2022

A Otan se recusa, em janeiro, a aceitar as demandas dos russos, e diplomatas dos EUA e da Rússia não chegam a um acordo. Enquanto as negociações estão em andamento, hackers atacam sites do governo ucraniano e alertam a população para "terem medo e esperar o pior". A Rússia coloca tropas na Belarus, a poucos quilômetros de Kiev, e a Otan reforça seu aparato na Europa Oriental, com mais navios e caças.

Em fevereiro, os Estados Unidos dizem que enviarão 3.000 soldados extras para a Polônia e para a Romênia com o objetivo de ajudar a proteger os aliados da Otan. Dias depois, Putin visita Pequim e ganha o apoio do regime chinês para evitar que a Ucrânia se junte à aliança ocidental. Enquanto isso, o presidente francês, Emmanuel Macron, tenta costurar um acordo entre as partes, mas é avisado, frequentemente pelo governo americano de que a invasão russa poderia ocorrer a qualquer momento.

A Rússia chega a anunciar a retirada de tropas da fronteira com o leste da Ucrânia, mas mantém as que estavam na Belarus. No mesmo dia, em uma ação coordenada com o Kremlin, o Parlamento russo pede a Putin que reconheça como independentes as duas regiões separatistas da Ucrânia. Nesta segunda (21), o presidente russo anuncia que assinou o pedido dos parlamentares e, oficialmente, torna a Rússia um ator ativo no conflito e não mais um presumido juiz.

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