República Dominicana começa a construir muro na fronteira com o Haiti

Projeto busca coibir imigração ilegal, contrabando de mercadorias e tráfico de armas e drogas

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Santo Domingo e Dajabon (República Dominicana) | Reuters e AFP

O governo da República Dominicana começou neste domingo (20) a construção de um muro que pretende cobrir quase a metade dos seus 392 quilômetros de fronteira com o Haiti.

O presidente Luis Abinader afirma que o projeto tem a intenção de coibir a imigração ilegal, o contrabando de mercadorias e o tráfico de armas e drogas.

Duas pessoas observam cimento caindo em uma estrutura metálica onde será construído um muro
O presidente da República Dominicana (à dir., de colete amarelo) e o ministro da Defesa Carlos Diaz Morfa observam o início das obras do muro entre o país e o Haiti - Erika Santelices/AFP

Os dois países compartilham o território da ilha de Hispaniola, mas vivem realidades muito divergentes. Enquanto o Haiti é uma das nações mais pobres das Américas e enfrenta crises de ordem política e econômica, a República Dominicana prospera como um popular destino turístico caribenho.

Por isso, muitos haitianos cruzam a fronteira clandestinamente em busca de trabalho no campo ou na construção civil na República Dominicana.

"O benefício para os dois países será de grande importância porque permitirá controlar de forma muito mais eficiente o comércio bilateral, regular os fluxos migratórios e combater as máfias que traficam pessoas, drogas e fazem a venda ilegal de armas", disse Abinader pouco antes de apertar o botão para começar a despejar concreto nas fundações do que será o muro na província de Dajabón, a cerca de 230 quilômetros a noroeste da capital.

Cerca de 500 mil haitianos e dezenas de milhares de seus descendentes vivem na República Dominicana, que tem cerca de 11 milhões de habitantes, de acordo com dados de 2018.

Abinader disse que a primeira fase do projeto será concluída em nove meses. O muro de concreto terá 20 centímetros de espessura, 3,9 metros de altura e será equipado com fibra ótica, sensores de movimento, câmeras, radares e drones.

O projeto, que terá um investimento aproximado de 31 milhões de dólares, inclui ainda a construção de 70 torres de vigia e 41 portões de acesso. A segunda fase, explicou o presidente, contempla a construção de mais 110 quilômetros de muro.

Organizações de direitos humanos criticam a iniciativa, classificando-a de xenófoba e racista. O prefeito de Dajabón, Santiago Riverón, disse à agência de notícias AFP que discorda de sua construção.

"Vai ser construído um muro físico. Agora temos que trabalhar com o muro na cabeça dos militares, que são os que aproveitam a fronteira e recebem propina de 100 ou 200 pesos (2 ou 4 dólares) para permitir que haitianos ilegais entrem no território dominicano", disse Riverón.

O Haiti, primeiro país da América Latina a se declarar independente, em 1804, passa por um momento de sobreposição de crises. Em julho de 2021, o presidente Jovenel Moïse, sob o qual recaíam acusações de autoritarismo, foi assassinado por mercenários —48 pessoas, incluindo 18 colombianos e 2 americanos de origem haitiana, foram presas. O episódio provocou protestos, com desabastecimento de suprimentos e casos de violência nas ruas.

Além disso, a situação social do país foi agravada devido a um terremoto de magnitude 7,2, em 14 de agosto. O tremor deixou mais de 2.200 pessoas mortas e cerca de 130 mil casas danificadas.

Com a grave situação política e econômica, o Haiti também vive uma crise de segurança: no fim do ano passado, um grupo de missionários foi sequestrado e depois conseguiu fugir. O crime é uma ferramenta usada por organizações criminosas conseguirem dinheiro —foram ao menos 628 episódios do tipo de janeiro a setembro de 2021, segundo o Centro Haitiano para Análise e Pesquisa em Direitos Humanos.

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