EUA repetem alertas de que Rússia pode invadir Ucrânia 'a qualquer momento'

Kiev critica pedido de retirada de cidadãos estrangeiros, e Moscou vê relação com Reino Unido 'próxima de zero'

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Moscou e Washington | Reuters e AFP

Líderes das principais potências do Ocidente conversaram nesta sexta-feira (11) para tentar encontrar uma saída para a crise que se instalou na Ucrânia, com o temor de uma invasão russa —a qual os Estados Unidos voltaram a dizer que pode acontecer "a qualquer momento".

Em meio ao aumento das tensões no Leste Europeu, falaram-se por telefone Joe Biden (EUA), Boris Johnson (Reino Unido), Emmanuel Macron (França) e Olaf Scholz (Alemanha), além dos chefes de Estado de Polônia, Itália e Canadá, bem como o secretário-geral da Otan, a presidente da Comissão Europeia e o presidente do Conselho Europeu.

Em paralelo, o conselheiro de Segurança Nacional de Biden, Jake Sullivan, voltou a falar, sem citar evidências específicas, que a Rússia já reuniu forças suficientes para lançar uma ofensiva militar que, segundo ele, poderia ocorrer antes mesmo do fim das Olimpíadas de Inverno, em Pequim, que terminam no próximo dia 20.

Tropas americanas são posicionadas na Romênia, país membro da Otan na fronteira com a Ucrânia - Andrei Pungovschi/AFP

Sullivan ainda detalhou que um eventual ataque começaria por ar, e a Casa Branca estima que, em caso de invasão na fronteira, a capital Kiev poderia ser tomada pelos russos. O secretário de Estado, Antony Blinken, também repetiu a promessa de "apoio robusto" à Ucrânia. Com esse cenário, o governo americano deve deslocar mais 3.000 soldados para a Polônia, segundo disseram autoridades à agência de notícias Reuters.

Moscou nega intenções de invadir o país vizinho, embora tenha posicionado mais de 100 mil soldados e equipamentos militares em diferentes pontos próximos à fronteira. Por outro lado, o Kremlin diz que pode tomar "ações militares", sem especificar quais, se o Ocidente não aceitar garantias de segurança, dentre as quais a promessa de que a Ucrânia jamais vai ingressar na aliança militar do bloco —proposta que os EUA consideram inaceitável.

Em meio ao impasse, Biden e Vladimir Putin devem se falar por telefone mais uma vez neste sábado (12), confirmaram autoridades de lado a lado.

Como o governo americano não apresentou evidências de que um ataque seja mesmo iminente, sobraram comparações com a invasão do Iraque em 2003, sob a premissa, jamais confirmada, de que havia armas químicas no país. Sullivan respondeu às comparações nesta sexta. "[À época] eram informações sobre intenções, sobre coisas escondidas, que não podiam ser vistas; agora estamos falando de mais de 100 mil tropas ao longo da fronteira", disse. "Você pode acreditar nos seus próprios olhos."

Outro temor de uma guerra controversa assombra a Casa Branca, a desastrosa retirada de tropas do Afeganistão. Por isso, o governo Biden tem pedido que os americanos deixem a Ucrânia o mais rápido possível, e o presidente afirmou que não vai enviar tropas para resgatar cidadãos em caso de um ataque russo. "As coisas podem ficar loucas rapidamente", disse o presidente à rede americana NBC News.

Imagens de satélite publicadas por uma empresa privada dos EUA mostraram novas unidades militares russas em vários locais próximos à fronteira da Ucrânia.

Kiev voltou a criticar nesta sexta os pedidos ocidentais de evacuação, tidos como alarmistas, e afirmou que "não há evidência de mudança radical na situação". A Ucrânia tem repetido que quer uma saída diplomática, e, no último fim de semana, chamou as previsões de invasão iminente de "apocalípticas".

Não foi o suficiente para acalmar ânimos. Com a estridência se espalhando, Japão, Coreia do Sul e Holanda também pediram nesta sexta que seus cidadãos deixem o país imediatamente. A missão diplomática holandesa deve ser retirada de Kiev e movida para Lviv, no oeste, longe da fronteira russa. Israel também disse que está retirando a missão diplomática da capital por causa "do agravamento da situação". Depois, Reino Unido e Estônia anunciaram medidas similares. Já na manhã de sábado (12), noite de sexta no Brasil, foi a vez de Austrália e Nova Zelândia.

A Comissão Europeia, por outro lado, anunciou que não vai retirar seus quadros do país.

Na reunião de líderes, outros alertas renovados, nas palavras do alemão Olaf Scholz, foram os de "rápidas sanções" a Moscou em caso de invasão e os de "esforços diplomáticos para persuadir a Rússia a ir para a desescalada e [...] impedir uma guerra na Europa".

No front russo, o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, disse em reunião com seu homólogo britânico que as relações entre Moscou e Londres estão em seu ponto mais baixo, segundo as agências de notícias do país. "Infelizmente, o nível da nossa cooperação está perto de zero e prestes a cruzar o meridiano e se tornar negativo, o que não é desejável."

Ben Wallace afirmou que ouviu garantias de que não haverá uma invasão, mas pediu ações. No encontro de líderes, Boris Johnson afirmou aos aliados que temia pela segurança da Europa.

Moscou já vinha zombando abertamente da ministra das Relações Exteriores britânica, Liz Truss, que cometeu uma gafe geográfica ao dizer que apoiaria "aliados do Báltico através do mar Negro" —que fica a mais de mil quilômetros dos países bálticos.

A chancelaria russa afirmou que os países ocidentais estão espalhando informações falsas em conluio com a imprensa para distrair a população de suas próprias ações agressivas.​ Foram citados veículos como os americanos Bloomberg e The New York Times e o britânico The Guardian.

Do outro lado do oceano, os EUA ainda questionaram a movimentação dos franceses para apaziguar a crise. No começo da semana, o presidente Emmanuel Macron foi a Moscou se reunir com Vladimir Putin e anunciou que ouviu do russo a promessa de que não escalaria o conflito —na terça, ele também se reuniu com Volodimir Zelenski, em Kiev, para negociar com o lado ucraniano.

Autoridades americanas expressaram em público dúvidas quanto aos resultados da viagem. "Certamente, se houvesse um progresso diplomático, agradeceríamos, mas acreditamos quando vemos com nossos próprios olhos na fronteira", disse na terça-feira (8) a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki.

No dia seguinte à viagem de Macron, para minimizar qualquer promessa que Moscou poderia ter feito à França, o Pentágono disse que a Rússia continuava reforçando suas forças na fronteira.

Na quinta-feira, Moscou mobilizou seus tanques pela Belarus para realizar exercícios com fogo real, o que provocou advertência da Otan. Também enviou seis navios de guerra através do Bósforo para manobras navais planejadas no mar Negro e no vizinho mar de Azov.

A subsecretária de Estado, Wendy Sherman, disse em entrevista ao canal MSNBC na quinta-feira (10) que as manobras militares realizadas na Belarus por forças desse país e russas equivalem, "do nosso ponto de vista, a uma escalada, não uma desescalada" —como disse o presidente francês.

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