Rússia vai limitar Facebook por censurar noticiário pró-Putin da guerra na Ucrânia

Moscou começa a registrar alterações no cotidiano devido ao conflito, como falta de dinheiro

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Moscou

A guerra entre Rússia e Ucrânia, que desde seu longo prelúdio tinha um forte componente de disputa narrativa entre Moscou, Kiev e o Ocidente, chegou agora aos meios de distribuição de informação e desinformação.

Policiais russos bloqueiam a praça Vermelha antes de protesto contra a guerra
Policiais russos bloqueiam a praça Vermelha antes de protesto contra a guerra - Alexander Nemenov - 24.fev.2022/AFP

A agência reguladora das comunicações Roskomnadzor disse nesta sexta (25) que irá limitar o Facebook no país devido ao que chamou de censura da rede social contra a RIA-Novosti, uma das principais agências de notícias estatais da Rússia.

O motivo foi a cobertura da guerra feita pela agência. Em postagens, ela chama o conflito de "operação militar especial destinada a proteger as repúblicas do Donbass e a desnazificar a Ucrânia". Noves fora a propaganda decalcada do discurso de Vladimir Putin ao anunciar a ação, a rede acatou queixas usuais no Ocidente.

Primeiro, as autoproclamadas repúblicas são parte da questão, mas a invasão russa da Ucrânia tem objetivos muito mais amplos. Segundo, a questão da fama ucraniana na Rússia de ser um país que abriga neonazistas no governo e nas Forças Armadas, por óbvio, é contestada como generalização preconceituosa.

Para o Facebook, isso é desinformação, e a RIA foi suspensa por 90 dias. Já o veto foi visto como "violação de direitos humanos e liberdades fundamentais, assim como direitos e liberdades de cidadãos russos", numa nota conjunta da agência com o Ministério das Relações Exteriores e a Procuradoria-Geral do país.

É uma discussão viva em diversos países, mas na Rússia se insere na disputa entre o Kremlin e o que considera agentes estrangeiros suspeitos, como todas as "big techs". A guerra só piorou as coisas, mas já houve embates semelhantes no passado, e o governo tem buscado controlar ao máximo redes sociais.

Não foi divulgada a natureza da limitação de acesso, nem a posição da rede social. O Facebook já havia suspendido contas de outros meios estatais russos, como o canal de TV Zvezda e a Gazeta.ru. Empresa-mãe da rede, a Meta afirmou neste sábado que vai bloquear anúncios e a possibilidade de monetização da imprensa estatal russa em suas plataformas, em qualquer lugar no mundo.

Não há ações semelhantes contra o Telegram, rede que surgiu na Rússia e prega liberdade plena, sendo amplamente usada no país para divulgar as versões do Kremlin sobre tudo.

O impacto será algo lateral na prática, até porque os russos preferem usar a versão local da rede, o VKontakte, aliás controlado por um aliado de Putin.

Mas há outros sinais de pequenas disrupções cotidianas, e nem se fala aqui da repressão policial aos protestos contra a guerra na quinta (24), que levaram 1.800 pessoas à cadeia em todo o país, que tem aumentado o policiamento em grandes cidades. Ou ainda a adesão de celebridades e intelectuais ao movimento antiguerra.

Casas de câmbio, onipresentes como padarias brasileiras, estão sem moeda forte para troca. Isso é, em parte, uma medida para tentar conter o câmbio galopante delas contra o rublo. Mas pode também refletir uma alta na procura.

Isso foi aferível mesmo com o rublo. Segundo o Banco Central russo, US$ 1,1 bilhão foi retirado de caixas eletrônicos em apenas um dia na quinta, um recorde histórico. Nas ruas do centro de Moscou, há diversas máquinas sem dinheiro, para desespero de turistas como o alemão Horst Jung, que procurava uma casa de câmbio ou um terminal na manhã de sexta na rua Piatintskaia, ao sul do Kremlin.

"Você tem rublos?", apelou, sem sucesso, à reportagem. Ele se queixou também de um outro problema: um renovado excesso de perguntas feitas por atendentes de hoteis. Eles exigem documentação completa de todos os estabelecimentos visitados antes do atual, algo que não acontecia desde os anos 2000.

"Motivos de segurança", afirmou o gerente de um hotel perto da estação de trem Paveletskaia. Pelo mesmo motivo, algumas empresas estão reinstalando detectores de metais que haviam sido populares no auge do terrorismo islâmico na capital, também nos 2000.

Outros problemas afetam os objetos de desejo dos moscovitas mais abastados. Foram interrompidas as remessas de veículos da Mercedes-Benz, BMW, Audi, Citroën e General Motors para a Rússia.

Eventos da Maslenitsa, um festival folclórico famoso, foram suspensas em Moscou. E mesmo deixar o país está complicado: a aérea russa S7 vai parar de voar à Europa, e a americana Delta rompeu o acordo que tinha com a Aeroflot —por sua vez, proibida de pousar no Reino Unido, que em troca teve seus voos vetados à Rússia.

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