Rússia veta resolução contra si na ONU e vê Brasil subir tom contra invasão

Medida teve apoio de 11 integrantes do Conselho de Segurança, 3 abstenções e voto contra apenas de Moscou

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Washington e Brasília

O Brasil votou nesta sexta (25) a favor de uma resolução no Conselho de Segurança das Nações Unidas para condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia.

A medida, no entanto, foi vetada por Moscou, que tem o poder de barrar medidas por ser um dos cinco membros permanentes do colegiado. Assim, na prática a resolução serviu apenas para que os países mostrassem seu descontentamento com a ação de Vladimir Putin, sem gerar ações imediatas.

Reunião do Conselho de Segurança da ONU, em Nova York - David Dee Delgado/Getty Images/AFP

A resolução vetada condenava a declaração feita pelo presidente russo de uma "operação militar especial" na Ucrânia; deplorava nos termos mais fortes a agressão contra a Ucrânia, em violação à Carta da ONU; e decidia que o Kremlin deveria interromper imediatamente o uso da força contra o território ucraniano.

Também determinava que a Rússia deveria retirar suas tropas da Ucrânia de forma imediata e incondicional e rejeitava o reconhecimento feito por Moscou das províncias rebeldes ucranianas de Donetsk e Lugansk.

A medida, proposta por EUA e Albânia, teve 11 votos a favor, 1 contra (Rússia) e 3 abstenções (China, Índia e Emirados Árabes Unidos). Além dos dois proponentes, Brasil, França, Gabão, Gana, Irlanda, México, Noruega, Reino Unido e Quênia defenderam a resolução.

O embaixador brasileiro na ONU, Ronaldo Costa Filho, adotou um tom duro contra a Rússia, inédito em suas falas sobre a crise. As declarações do diplomata podem sinalizar uma guinada do governo Jair Bolsonaro (PL), que até aqui vinha evitando responsabilizar diretamente os russos pela situação —e sendo diretamente cobrado por outros países, como os EUA, para mudar de posição.

"Primeiro, o Conselho de Segurança deve reagir de forma rápida ao uso da força contra a integridade territorial de um Estado-membro. Uma linha foi cruzada e esse Conselho não pode ficar em silêncio", disse Costa Filho, no debate que antecedeu a votação.

O chefe da missão brasileira afirmou que, na negociação do texto, o governo brasileiro buscou um "equilíbrio para manter espaço para o diálogo", mas destacou que é preciso sinalizar que "o uso da força contra a integridade territorial de um Estado-membro não é aceitável no mundo hoje".

Após a votação, Costa Filho voltou a se pronunciar. "O Brasil lamenta que o Conselho de Segurança foi incapaz de reagir a uma violação da paz e segurança internacional, que está acontecendo enquanto falamos", disse. Ele classificou a invasão russa como "um ato de agressão".

"Poderíamos ter terminado com um texto que fosse mais direcionado à reconciliação. O Brasil lutou por isso. No entanto, nas condições atuais, mesmo um texto diferente não teria sido suficiente para permitir ao conselho cumprir sua responsabilidade de manter a paz e a segurança internacional", afirmou.

"Nenhum país, com ou sem poder de veto, deveria ser capaz de usar a força contra a integridade territorial de outro Estado. A paralisação do conselho quando a paz mundial está em risco pode levá-lo à irrelevância quando ele era mais necessário."

Nas duas últimas reuniões do CS para tratar o tema, realizadas nesta semana, Costa Filho tinha evitado ataques diretos às ações russas em seus discursos. O Brasil vinha tentando se equilibrar entre a posição dos EUA e aliados da Otan (a aliança militar Ocidental) e a da Rússia de Vladimir Putin.

A última manifestação de Costa Filho havia sido feita na noite de quarta (23). Na ocasião, o diplomata brasileiro disse que "a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial, soberania e independência política de um membro da ONU é inaceitável".

Apesar dos termos críticos, na ocasião ele não mencionou diretamente o governo da Rússia e passou longe da retórica americana e de aliados europeus, que responsabilizam diretamente Putin pela maior ameaça militar no continente europeu desde a Segunda Guerra Mundial.

A invasão da Ucrânia foi anunciada pelo presidente russo naquela mesma noite, justamente enquanto a ONU debatia a questão.

Nos últimos dias, diplomatas americanos e de outros países ocidentais tiveram reuniões com o Itamaraty para tentar assegurar o voto do Brasil. Na manhã desta sexta, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, conversou por telefone com o ministro das Relações Exteriores, Carlos França.

Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro fez uma visita a Moscou e disse que o Brasil "é solidário" à Rússia, sem especificar a que aspecto manifestava solidariedade. O gesto do líder brasileiro foi repudiado pelos EUA.

"A vasta maioria da comunidade global está unida em sua visão de que outro país tomando parte de sua terra, aterrorizando seu povo, é certamente algo não alinhado aos valores globais. E então, penso que o Brasil pode estar do outro lado em que a maioria da comunidade global está", disse Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca, no último dia 18.

Após as críticas, Bolsonaro disse em uma live que sua viagem a Moscou não "foi para tomar partido de ninguém". "Até falei que o mundo é nossa casa e que Deus está acima de todos. Falei uma mensagem de paz", afirmou.

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