Trump lança Truth Social, e app diz ter mais de 110 mil interessados em lista de espera

Nova rede social faz parte de projeto que pretende galvanizar atenção de apoiadores do ex-presidente e competir com CNN e Netflix

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Washington

O aplicativo Truth Social, rede social criada pelo ex-presidente Donald Trump, chegou à App Store dos Estados Unidos nesta segunda-feira (21). O uso da plataforma, no entanto, ainda é restrito.

Por enquanto, o programa abre a opção de fazer cadastro, com email e nome de usuário. Após confirmar a validade do endereço, porém, o interessado recebe um aviso de que terá de esperar. Ao fazer o registro, por exemplo, a reportagem foi informada de que estava na posição 18.792.

Telas do aplicativo Truth Social, lançado por empresa de Donald Trump
Telas do aplicativo Truth Social, lançado por empresa de Donald Trump - Reprodução

Horas depois, o número de interessados aguardando liberação havia disparado. "Sua conta foi criada com sucesso. Obrigado por entrar. Devido à demanda muito alta, nós te colocamos em uma lista de espera. Nós amamos você, e você não é só outro número para nós. Mas seu número de espera na lista está abaixo", diz a mensagem no aplicativo, que exibia o número 110.134, na manhã desta segunda.

Por ora, o Truth Social tem apenas um aplicativo para iOS, que inclui iPhones. A versão para Android ainda não foi lançada, nem a versão web. O site da ferramenta exibe a opção de deixar nome e email para a lista de espera. O recurso, porém, parece indisponível e exibe uma mensagem de erro após o preenchimento do formulário.

Capturas de tela da nova rede social mostram um visual muito similar ao do Twitter. O filho do ex-presidente Donald Trump Jr. divulgou uma imagem do que seria a primeira publicação de seu pai na nova rede. "Estejam prontos! Seu presidente favorito verá vocês em breve!"

Devin Nunes, CEO da TMTG (Trump Media & Technology Group), empresa dona do Truth Social, disse à emissora Fox News que o aplicativo, apesar de lançado nesta segunda, deve entrar em operação plena só no fim de março.

Como candidato e presidente, Trump usava sua conta no Twitter de forma frequentemente acalorada. Ele chegou a ter 88,7 milhões de seguidores, mas foi banido em janeiro de 2021, por incitação à violência, após seus apoiadores invadirem o Capitólio. O presidente depois também foi suspenso do Facebook e do YouTube.

Em maio de 2020, o Twitter colocou alertas em postagens de Trump de que as mensagens do presidente poderiam ter informações falsas. Em seguida, o republicano assinou uma ordem executiva para modificar uma lei conhecida como Seção 230, que autoriza as empresas a moderar o conteúdo presente em suas plataformas. A mudança não teve medidas práticas implantadas e foi revogada pelo presidente Joe Biden, em 2021.

Conforme as grandes plataformas adotaram regras para conter discursos de ódio e mentiras e passaram a suspender perfis, muitos ativistas de direita passaram a migrar para redes sociais menores ou a criar plataformas próprias, como Parler, Gettr e Rumble.

Outra ferramenta utilizada como alternativa é o Telegram. O aplicativo permite criar listas de distribuição de mensagens para grupos enormes. Um canal, com o nome Donald J. Trump mas sem o selo de verificação, tem 1,022 milhão de seguidores. Já o Donald Trump Jr. verificado conta com 851 mil participantes.

Em 2021, Trump e alguns sócios anunciaram a criação de uma rede social própria, como parte de uma nova empresa, a TMTG. Na época, disseram que a empreitada pretendia "criar uma rival ao consórcio da mídia liberal e combater as companhias do Vale do Silício ditas Big Techs", em um comunicado.

Visualização do aplicativo Truth Social, lançado por Donald Trump, em App Store
Visualização do aplicativo Truth Social, lançado por Donald Trump, em App Store - Chris Delmas - 20.out.21/AFP

A empresa dona do Truth Social foi criada por Trump em parceria com a DWAC (Digital World Acquisition Corp), fundada, por sua vez, em Miami no final de 2020. No ano passado, a DWAC tinha como diretor financeiro o deputado federal brasileiro Luiz Philippe de Orleans e Bragança (União Brasil-SP). De acordo com registros financeiros citados pelo jornal The New York Times, Bragança possuía participação ínfima na distribuição das ações —cerca de 0,11%, em outubro de 2021.

Em dezembro, houve uma fusão entre a DWAC e a TMTG. No mesmo mês, a empresa anunciou um acordo para receber mais US$ 1 bilhão em investimentos, que se juntariam aos cerca de US$ 300 milhões levantados pela Digital World ao longo de 2021 com a venda de ações.

A Folha perguntou à assessoria de imprensa de Bragança qual é a atual relação dele com as empresas DWAC e TMTG, mas não havia recebido resposta até a última atualização desta reportagem.

A TMTG tem planos ambiciosos. Além do Truth Social, quer criar um serviço de streaming para concorrer com Netflix e Disney+ e um canal de notícias, de modo a competir com a CNN. A longo prazo, quer entrar também no mercado de servidores em nuvem, para disputar mercado com Amazon e Google.

Em uma apresentação para investidores, a empresa destaca que Donald Trump tinha 146 milhões de seguidores —somando seus perfis de Twitter, Facebook e Instagram—, contra 209 milhões de assinantes da Netflix em 2021. Assim, argumenta que há uma grande uma oportunidade de investimento ao criar canais de conteúdo para o público que seguia o ex-presidente.

Apesar de ter perdido a reeleição em 2020, Trump pode concorrer novamente à Presidência em 2024. Assim, criar canais para manter seus seguidores engajados é parte importante do projeto de uma nova candidatura. Ele também segue arrecadando doações em dinheiro e diz que os recursos serão usados para prevenir fraudes eleitorais e seguir seu trabalho político.

O republicano nunca admitiu a derrota nas urnas. Ele apontou fraudes que nunca foram provadas. Ao mesmo tempo, o ex-presidente é alvo de processos por irregularidades em seus negócios e também tem tentado impedir o acesso de investigadores a documentos que possam esclarecer seu envolvimento —ou falta de ação— na invasão do Congresso.

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