Uso de 'latinx' pode atrapalhar democratas nas eleições de 2022, aponta pesquisa

Estudo mostra que 40% dos latinos se incomodam com o termo e só 2% o apreciam

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Washington

Usar o termo "latinx" em vez de "latino" ou "latina" é visto por alguns políticos democratas como uma forma de incluir mais eleitores e atrair votos. Mas uma pesquisa mostra que o neologismo pode gerar mais repulsa do que identificação no público hispânico dos EUA, e até atrapalhar o partido nas eleições de meio de mandato que serão realizadas em novembro.

O levantamento, divulgado inicialmente pelo site Politico, mostrou que só 2% dos eleitores escolheram o opção latinx para definir sua origem étnica. Outros 21% preferem latina ou latino, e 68% adotam hispânico.

Voluntária auxilia integrantes da comunidade latina de Upper Darby, na Pensilvânia, a receberem vacina contra a Covid
Voluntária auxilia integrantes da comunidade latina de Upper Darby, na Pensilvânia, a receberem vacina contra a Covid - Rachel Wisniewski - 22.ago.21/Reuters

Em outra questão, 40% disseram considerar o uso de latinx, adotado por ativistas como forma de incluir pessoas que não se identificam com o gênero masculino ou feminino, incômodo ou ofensivo.

Houve mais críticas ao termo entre eleitores de 30 a 39 anos e de 55 a 64. Entre eleitores republicanos, 50% disseram se incomodar. Questionados se o uso do termo pode afetar seu voto, 49% dos entrevistados disseram que isso não faz diferença, 30% afirmaram se sentirem menos propensos a apoiar um candidato que usa o neologismo, e 15% dizem que isso aumentaria as chances de apoio.

A pesquisa ouviu 800 eleitores de origem hispânica que moram nos EUA e se identificam como democratas, republicanos ou independentes, entre 17 e 21 de novembro. O estudo, feito pelo instituto Bendixen & Amandi, especializado no público latino, tem margem de erro de 3,4 pontos percentuais.

"O uso de latinx, termo que não existia até recentemente, mas tem sido abraçado por democratas, pode estar trazendo mais danos do que ganhos para as chances de vitória do partido", afirmou Fernand Amandi, presidente do instituto, ao divulgar a pesquisa.

Atualmente, os democratas possuem maioria no Congresso, mas com margens estreitas. Basta perderem um assento no Senado e oito na Câmara para ficarem sem o controle do Legislativo.

Após a publicação da pesquisa, a Lulac (Liga dos Cidadãos Latino-Americanos Unidos, na sigla em inglês) determinou que o termo latinx deixe de ser usado em seus documentos oficiais, embora não tenha proibido o uso por seus associados. A entidade foi criada em 1929. "A realidade é que há muito pouco ou nenhum apoio ao uso do termo, visto como algo usado dentro do Beltway [referência a Washington e arredores] ou na Ivy League [conjunto das principais universidades dos EUA], enquanto a Lulac sempre representou José e María, os moradores dos bairros, e temos certeza de que falamos com eles da forma que eles conversam entre si", disse Domingo García, presidente da entidade, à NBC News.

Ruben Gallego, deputado democrata pelo Arizona, também disse ter vetado o uso do termo em seu gabinete e em comunicados oficiais. "Quando políticos latinos usam o termo, é mais para agradar brancos ricos e progressistas que pensam que este é o termo que usamos. É um círculo vicioso de confirmação de tendência", afirmou ele, em uma rede social.

O jornal Miami Herald fez um editorial contra a nova palavra. "Toda vez que um democrata usa este termo, um republicano celebra. É tudo o que o Partido Republicano precisa para sair dizendo que os democratas estão muito ocupados sendo "wokes" [adjetivo usado para definir quem defende políticas identitárias, geralmente de forma estridente] para se importarem com as preocupações do cotidiano dos americanos".

O termo latinx passou a ser usado no começo dos anos 2000, mas ganhou força nos anos 2010, especialmente após o ataque à casa noturna Pulse, em Orlando, quando um atirador abriu fogo contra o público, boa parte dele LGBTQIA+. Reportagens, discursos e postagens sobre o caso usaram a palavra terminada em x.

Nos últimos anos, o vocábulo ganhou força em universidades, que o utilizaram para renomear aulas e centros de pesquisa sobre latinos. Políticos progressistas, como Alexandria Ocasio-Cortez, estrela do Partido Democrata, também o incluíram em discursos. Em 2018, um artigo de opinião na revista Time defendeu que o uso de latinx tinha virado um sucesso, enquanto outros termos de gênero neutro tinham falhado em ganhar espaço.

Em junho do ano passado, o presidente Joe Biden usou o neologismo em um discurso. "É difícil ter latinx vacinados. Por quê? Eles estão preocupados que poderão ser vacinados e deportados."

Mesmo com o termo sendo usado até pelo presidente, ele ainda é amplamente desconhecido. Segundo uma pesquisa do Pew Research Center, de agosto de 2020, 76% dos hispânicos não o conheciam, 20% já o ouviram, mas não o utilizam, e só 3% diziam adotá-lo.

Ativistas que defendem o termo dizem que adotá-lo é também uma forma de se aproximar de eleitores progressistas jovens, que buscam combater o machismo e as visões rígidas sobre os gêneros. "Queremos ter certeza de que estamos falando com a juventude, e vemos mais e mais latinos jovens que estão afinados com a inclusão do nosso movimento", disse Yadira Sanchez, codiretora da Poder Latinx, ONG que busca ampliar a presença de latinos na política dos EUA.

O debate sobre latinx é mais um capítulo sobre quais termos usar para definir a população dos EUA que tem origem na América Latina. Até os anos 1960, era comum o uso de "mexicano-americano". Nos anos 1970, o governo americano adotou o termo "hispânico" no censo, para abranger os moradores vindos de países do continente. Nos anos 1990, no entanto, surgiram críticas ao uso de hispânico, pela referência ao passado colonial, e o governo passou a usar "latino" em documentos oficiais.

Uma nova mudança oficial dependerá justamente de quais políticos serão eleitos nos próximos anos.

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