Descrição de chapéu Itamaraty Rússia

Veja como Putin recebeu Bolsonaro em comparação a Macron e Scholz, da mesa a aperto de mão

Brasileiro aparentemente seguiu protocolos de testagem e se aproximou mais do russo

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São Paulo

O presidente Jair Bolsonaro foi recebido nesta quarta-feira (16) por Vladimir Putin, em Moscou, com uma série de simbolismos aplicados a líderes que também se reuniram com o russo recentemente e se submeteram ao rígido protocolo do Kremlin contra a Covid-19.

O primeiro que alegadamente se recusou a cumpri-los foi Emmanuel Macron, primeiro convidado a se tornar coadjuvante em memes nas redes sociais nos quais uma enorme mesa branca de 5 metros a separar os dois chefes de Estado era a protagonista.

Diferentemente de Bolsonaro, que afirmou ter seguido os protocolos exigidos, o presidente francês se negou a fazer testes RT-PCR russos, com receio de que seu DNA fosse roubado. O Kremlin confirmou que Macron foi mantido a distância de Putin por causa dessa recusa.

O  presidente Jair Bolsonaro aperta a mão do presidente russo Vladimir Putin
O presidente Jair Bolsonaro aperta a mão do presidente russo Vladimir Putin - Alan Santos/Divulgação Presidência da República

Mesma justificativa foi dada no caso do primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, que evitou os testes russos e teve o mesmo tratamento: líderes em polos opostos de uma mesa gigante, sem intérpretes ao lado, além de distanciamento de seus púlpitos e bandeiras no salão em que discursam à imprensa. Putin é notório pelo temor de se infectar com Covid.

Com Scholz e Macron não houve apertos de mão por parte do russo, o que contrasta com a chegada de Bolsonaro, entusiasticamente cumprimentado de perto. À Jovem Pan na noite desta quarta, o brasileiro disse que chegou "a dar um abraço, o que não é usual" no colega.

Na conversa de abertura, o presidente foi recebido em uma sala menor que o salão onde fica a grande mesa branca, na qual quatro cadeiras (duas para os intérpretes) ficam separadas apenas por uma pequena mesa de centro, também branca, com um arranjo floral em cima. Às costas de ambos, uma lareira.

"Realmente, é mais que um casamento perfeito o sentimento que eu levo ao Brasil, e senti também pela fisionomia, pelo que foi tratado até fora da agenda oficial com as autoridades russas e em especial com o presidente Putin, que esse é também o sentimento que ele tem do Brasil", afirmou Bolsonaro à imprensa horas após o encontro.

"Não dou recado para ninguém. O Brasil é um país pacifista, e o mundo e vários outros países têm seus problemas regionais. Aqui existe um problema e nós somos solidários com todo e qualquer país, desde que o caminho para a busca da solução desses impasses seja pacífico."

Em outro momento, Bolsonaro também se sentou com o presidente russo e seus intérpretes a uma mesa oval —semelhante à "gigante", mas menor, ao centro do móvel, não nas pontas. "Teve muita descontração, até risada —coisa rara o Putin sorrir. Ele me levou depois, na despedida, fui conhecer a sala na qual ele despacha, como faço, muitas vezes com populares, após um evento em Brasília, convido para ver minha sala. Sei que pra quem vai lá é uma deferência", disse à Jovem Pan.

"Ficamos sem máscara, do lado, o tempo todo, conversamos por duas horas. E no almoço ficou também, a 1,5 metro de distância, almoçando, falando de forma descontraída, dos assuntos mais variados possíveis. Ele falou também que é motociclista, apaixonado por paraquedas. Só não faz o mergulho que eu faço."

O argentino Alberto Fernández, com quem Bolsonaro tem rusgas periódicas desde que o brasileiro lamentou a eleição do colega vizinho, em 2019, visitou o líder russo no dia 3 de fevereiro.

No Kremlin, Fernández sentou-se com Putin em uma mesa pequena igual à usada na visita de Bolsonaro, em frente à mesma lareira, mesa e arranjo de flores. A Argentina foi o primeiro país ocidental a adotar a vacina russa Sputnik V contra a Covid, e foi com uma dose dela que o presidente se tornou o primeiro líder latino-americano a se imunizar contra a doença.

Segundo o jornal La Nación, Fernández havia chegado à sede do governo russo após o "enésimo" teste de Covid, protocolo comparável aos testes prévios e diários exigidos de cada membro da comitiva brasileira, Bolsonaro incluso. O argentino, no entanto, só pôde entrar no Kremlin com um intérprete, sem outros membros da delegação.

Bolsonaro foi o único dos visitantes que usou um coturno, em vez de sapatos tradicionais. Ele já havia utilizado o calçado em visita à Casa Branca em 2019, então ocupada por Donald Trump.

No salão do Kremlin em que os discursos dos líderes são lidos para a imprensa, as bandeiras russas e argentinas foram exibidas intercaladas, assim como as brasileiras, por ocasião da visita de Bolsonaro, e as cazaques, quando Kasim-Jomart Tokaiev se reuniu com Putin, na última quinta-feira (10).

Tokaiev esteve na Rússia pouco mais de um mês depois de seu país, o maior da Ásia Central e ex-república soviética, explodiu em manifestações contra o governo que rapidamente escalaram para um princípio de conflito armado.

Foi Putin quem interveio, e tropas russas foram enviadas para o Cazaquistão para ajudar a reprimir a revolta, sob o pretexto de uma antiga aliança militar entre antigos membros da União Soviética.

A iniciativa foi lida como um experimento do russo para garantir a zona de influência russa em países fronteiriços pela força.

Embora as visitas de Macron e Scholz tenham chamado a atenção mundial, o premiê húngaro, Viktor Orbán, aliado de Putin, já havia sentado na ponta oposta do russo na mesa gigante. Mas com a presença de intérpretes ao lado, assim como quando da visita do presidente iraniano, Ebrahim Raisi, em 19 de janeiro.

Orbán visitou o Kremlin no dia 1º de fevereiro, e bebeu espumante com o presidente russo em uma sala na qual ficaram separados por uma distância semelhante à proporcionada pela mesa. Nos discursos à imprensa, no entanto, ambos foram posicionados à mesma distância que Bolsonaro, Fernández e Tokaiev, também com bandeiras intercaladas ao fundo.

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