Descrição de chapéu Guerra na Ucrânia Rússia

Veja íntegra do discurso de Putin que anunciou invasão da Rússia à Ucrânia

Operação começou minutos após a divulgação da fala, nas primeiras horas desta quinta (24)

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São Paulo

Nas primeiras horas da manhã desta quinta-feira (24), no horário russo, Vladimir Putin anunciou que havia autorizado uma operação militar para "proteger a população" no leste ucraniano.

Na segunda-feira (21), Putin havia reconhecido as autoproclamadas repúblicas rebeldes nas regiões de Donetsk e Luhansk como áreas independentes do país vizinho.

Vladimir Putin sendo gravado durante pronunciamento divulgado nesta quinta-feira (24)
Vladimir Putin sendo gravado durante pronunciamento divulgado nesta quinta-feira (24) - Bai Xueqi - 24.fev.22/Xinhua

A invasão, porém, mostra sinais claros de que não se limita à região, e Kiev e a Otan (aliança militar ocidental) a classificam como "invasão total".

No pronunciamento divulgado nesta quinta, Putin justifica a operação como justiça para o que chamou de "genocídio" e "crimes" contra russos naquelas áreas, e como forma de "desmilitarizar e desnazificar" a Ucrânia.

Veja a íntegra do discurso de Vladimir Putin em que anunciou a invasão.

Caros cidadãos da Rússia, caros amigos,

Hoje, considero novamente necessário retornar aos trágicos acontecimentos ocorridos em Donbass e às questões-chave sobre a manutenção da segurança da própria Rússia.

Começo com o que disse em meu discurso de 21 de fevereiro deste ano. O assunto aqui é algo que nos desperta especial cuidado e inquietação: as ameaças básicas que, de ano em ano, de passo a passo, são criadas por políticos irresponsáveis no Ocidente em relação ao nosso país. Refiro-me aqui à expansão do bloco da Otan para o leste e à proximidade de sua infraestrutura militar das fronteiras russas.

Sabe-se bem que por 30 anos tentamos, persistente e pacientemente, chegar a um acordo com os principais países da Otan sobre os princípios de uma segurança igualitária e unida na Europa. Como resposta a nossas propostas, frequentemente nos debatemos ou com enganações cínicas e mentiras, ou com tentativas de pressão e chantagem, enquanto a Aliança do Atlântico Norte, no meio tempo, apesar de todos os nossos protestos e cuidados, se expande sem parar. A máquina de guerra se movimenta e, repito, se aproxima em cheio de nossas fronteiras.

Por que tudo isso? De onde vem esse comportamento arrogante de falar a partir de uma posição de excepcionalidade, infalibilidade e permissividade próprias? De onde vem essa atitude de menosprezo e desdém quanto aos nossos interesses e demandas, absolutamente legítimos?

A resposta é clara, tudo é compreensível e óbvio. A União Soviética enfraqueceu no final da década de 1980 e depois entrou totalmente em queda. Todo o curso dos acontecimentos da época são uma boa lição para nós ainda hoje: ele mostrou, de modo conclusivo, que a paralisia do poder e da vontade é o primeiro passo para a completa degradação e o esquecimento. Foi preciso perdermos, na época, nossa autoconfiança e pronto: o equilíbrio dos poderes no mundo foi rompido.

Isso levou ao fato de que os tratados e acordos anteriores já não funcionam mais realmente. Ajustes e pedidos não ajudam. Tudo o que não convém à hegemonia e ao poder supremo é declarado arcaico, antiquado e desnecessário. E vice-versa: tudo o que lhes parece proveitoso é apresentado como a maior das verdades, empurrado goela abaixo, de modo grosseiro, por todos os meios. Quem discorda é posto de joelhos.

O que digo agora não diz respeito apenas à Rússia e não desperta preocupação apenas em nós. Isso diz respeito a todo o sistema de relações internacionais e, por vezes, até aos próprios aliados dos EUA. Após a queda da URSS, iniciou-se uma verdadeira partilha do mundo, e as normas do direito internacional criadas até aquele momento —as normas fundamentais e básicas foram adotadas no final da Segunda Guerra Mundial e reforçaram, em muito, seus resultados— passaram a ser estorvadas por aqueles que se declararam vencedores da Guerra Fria.

É claro que, na vida prática, nas relações internacionais, nas regras de sua regulamentação, foi preciso considerar também as mudanças na situação mundial e no próprio equilíbrio de poderes. Mas era preciso fazê-lo com profissionalismo, harmoniosamente, pacientemente, com consideração e respeito pelos interesses de todos os países e compreendendo sua responsabilidade.

Mas não: havia um estado de euforia por sua absoluta superioridade, um tipo próprio de absolutismo moderno e, ainda por cima, contra o pano de fundo de um baixo nível de cultura geral e soberba de quem preparou, adotou e impulsionou decisões benéficas apenas para si próprio. A situação começou a se desenrolar em um outro cenário.

Não é preciso ir muito longe para encontrar exemplos. Primeiro, sem qualquer autorização do Conselho de Segurança da ONU, realizou-se uma sanguinolenta operação militar contra Belgrado, com uso de aviação e mísseis bem no centro da Europa. Foram várias semanas de bombardeio contínuo de cidades pacíficas e de infraestrutura vital.

É preciso lembrar esses fatos, já que alguns colegas ocidentais não gostam de lembrar esses eventos e, quando falamos disso, preferem apontar não para as normas do direito internacional, mas para as circunstâncias, que tratam como lhes convém.

Depois, foi a vez do Iraque, da Líbia e da Síria. O uso ilegítimo da força militar contra a Líbia e a deturpação de todas as decisões do Conselho de Segurança da ONU sobre a questão líbia levaram à destruição completa desse Estado, criando uma enorme concentração de terrorismo internacional ali e mergulhando o país em um desastre humanitário e no pântano de uma longa guerra civil que não terminou até agora.

A tragédia a que foram condenadas centenas de milhares, milhões de pessoas, não só na Líbia, mas em toda a região, deu lugar a um êxodo migratório massivo a partir do Norte da África e do Oriente Médio para a Europa.

Destino semelhante renderam também à Síria. A ação militar da coalizão ocidental no território do país sem o consentimento do governo sírio e sanção do Conselho de Segurança da ONU é nada menos do que uma agressão, uma intervenção.

Entretanto, nessa lista tem lugar especial a invasão do Iraque, claro, também sem qualquer base legal. O pretexto escolhido foram supostas informações confiáveis dos Estados Unidos sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque. Para provar isso publicamente, diante dos olhos do mundo todo, o Secretário de Estado dos EUA sacudiu um tubo de ensaio com um pó branco, assegurando a todos que aquilo era uma arma química sendo desenvolvida no Iraque.

Depois, revelou-se que era tudo invenção, um blefe: não há quaisquer armas químicas no Iraque. Pode ser incrível, surpreendente, mas o fato é esse. A mentira estava no nível mais alto do governo e da alta tribuna da ONU. O resultado foi um enorme número de vítimas, destruição e um inacreditável aumento do terrorismo.

Em geral, existe a impressão de que, praticamente em toda parte, em muitas regiões do mundo aonde o Ocidente vai para estabelecer sua ordem, o resultado são feridas cheias de sangue que não cicatrizam, chagas de terrorismo internacional e extremismo. Os exemplos que dei aqui eram os mais gritantes, mas estão longe de ser os únicos de negligência do direito internacional.

Nessa lista incluem-se também as promessas ao nosso país de a Otan não expandir nem uma polegada para o leste. Repito: eles enganaram ou, para falar a língua do povo, simplesmente largaram mão. Sim, pode-se ouvir frequentemente que a política é um negócio sujo. Pode ser, mas nem tanto, não até esse nível. Afinal, esse comportamento trapaceiro vai na contramão não apenas dos princípios das relações internacionais, mas sobretudo das normas geralmente aceitas de moral e ética. Onde está a justiça e a verdade aqui? Só há uma completa mentira e hipocrisia.

Aliás, os próprios políticos, cientistas políticos e jornalistas norte-americanos escrevem e dizem que se criou um verdadeiro "império das mentiras" dentro dos EUA nos últimos anos. É difícil não concordar com isso: é assim que é. Mas não é preciso de ser comedido: os EUA são, de qualquer maneira, um país grandioso, uma potência formadora de sistemas. Todos seus [países-]satélites não só fazem coro e eco aos EUA, dócil e resignadamente, mas também copiam seu comportamento e aceitam, entusiasmadamente, as regras que lhes são propostas. Por isso, com toda a base para tal, pode-se dizer com segurança que todo o chamado "bloco ocidental" formado pelos EUA com base em sua própria imagem e semelhança, é também, ele todo, um "império da mentira".

No que diz respeito a nosso país, após a queda da URSS —apesar de toda a abertura, sem precedentes, da nova Rússia moderna e de sua disponibilidade de trabalhar honestamente em conjunto com os EUA e com outros parceiros ocidentais em condições de um verdadeiro desarmamento unilateral—, tentaram imediatamente nos ceifar, acabar conosco e nos destruir de vez. Foi justamente isso que ocorreu na década de 1990 e início dos anos 2000, quando o chamado "Ocidente coletivo" apoiou, da forma mais ativa possível, o separatismo e as gangues de mercenários no sul da Rússia. Que sacrifícios e que perdas isso nos custou na época! Por quais provações tivemos que passar antes de fazermos em pedaços o terrorismo internacional no Cáucaso! Nós nos lembramos disso e nunca nos esqueceremos.

Sim, realmente, nem mesmo nos últimos tempos cessaram as tentativas de nos usar para seus próprios interesses, de destruir nossos valores tradicionais e nos impingir seus pseudovalores, que nos corroeriam, a nós, nosso povo, por dentro —aquelas diretrizes que eles já engendram agressivamente em seus países e que levam diretamente à degradação e à degenerescência, mesmo que isso contrarie a própria natureza humana. Isso não vai acontecer, nunca funcionou para ninguém. E não funcionará agora também.

Apesar de tudo, em dezembro de 2021 tentamos, de qualquer maneira, mais uma vez, chegar a um acordo com os EUA e seus aliados sobre os princípios de manutenção da segurança na Europa e sobre a não expansão da Otan. Tudo em vão. A posição dos EUA não muda. Eles não consideram necessário chegar a um acordo com a Rússia sobre esta questão-chave para nós: eles perseguem seus próprios objetivos e desconsideram nossos interesses.

E, claro, nesta situação nos surge a questão: o que fazer a seguir então, o que esperar? Sabemos bem, a partir da história, como, entre 1940 e o início de 1941, a União Soviética fez de tudo para evitar, ou pelo menos postergar o início da guerra. Para tanto, ela inclusive buscou, literalmente, até o último segundo, não provocar o potencial agressor, não realizar ou adiar as ações mais necessárias e óbvias a uma preparação para repelir o inevitável ataque. E as providências que foram tomadas no final das contas já estavam catastroficamente atrasadas.

Como resultado, o país revelou não estar pronto para enfrentar com completa força a invasão da Alemanha nazista, que atacou nossa Pátria, sem declaração de guerra, em 22 de junho de 1941. Foi possível deter o inimigo e, depois, destrui-lo, mas a um custo colossal. A tentativa de agradar o agressor na véspera da Grande Guerra Patriótica [como é chamada a participação russa na Segunda Guerra Mundial] foi um erro que custou caro ao nosso povo. Já nos primeiros meses de luta, perdemos enormes territórios estrategicamente importantes e milhões de pessoas. Não cometeremos esse erro uma segunda vez, não temos o direito de fazê-lo.

Aqueles que aspiram à dominação mundial, publicamente, impunemente e, sublinho, sem qualquer fundamentação, nos declaram, à Rússia, como seu inimigo. Eles, realmente, dispõem hoje grandes capacidades financeiras, científico-tecnológicas e militares. Sabemos disso e avaliamos objetivamente as ameaças que ressoam frequentemente endereçadas a nós na esfera econômica —assim como nossa capacidade de fazer frente a essa chantagem insolente e permanente. Repito: nós os avaliamos sem ilusões e da maneira mais realista possível.

No que diz respeito à esfera militar, a Rússia contemporânea, mesmo após a queda da URSS e a perda de parte significativa de seu potencial, é hoje uma das potências nucleares mais poderosas do mundo e, além disso, tem certas vantagens em uma série de tipos de armamentos de última geração. Nesse sentido, não deve haver dúvidas de que um ataque direto ao nosso país levaria à derrota e a consequências terríveis para qualquer potencial agressor.

Além disso, a tecnologia, inclusive a de defesa, está mudando rapidamente. A liderança nessa esfera passa e passará de mão em mão, mas se permitirmos a assimilação militar dos territórios adjacentes a nossas fronteiras, ela permanecerá por décadas, talvez para sempre, e representará uma ameaça sempre crescente e absolutamente inaceitável para a Rússia.

Já agora, à medida que a Otan se expande para o leste, a situação fica pior e mais perigosa para o nosso país a cada ano que passa. Além disso, nos últimos dias, a liderança da Otan fala abertamente da necessidade de acelerar e de forçar o avanço da infraestrutura da aliança rumo às fronteiras da Rússia. Em outras palavras, eles endurecem sua posição. Não podemos mais apenas observar o que acontece. Isso seria absolutamente irresponsável de nossa parte.

A continuação da expansão da infraestrutura da Aliança do Atlântico Norte e a assimilação militar que se iniciou nos territórios da Ucrânia são inaceitáveis para nós. O caso não está, é claro, na organização da Otan em si —ela é só um instrumento da política externa dos EUA. O problema é que, nos territórios adjacentes aos nossos —noto, em nossos próprios territórios históricos—, está se criando uma "anti-Rússia" hostil a nós, que foi colocada sob total controle externo, intensivamente povoada pelas forças armadas dos países da Otan e cheia das mais modernas armas.

Para os EUA e seus aliados, isso faz parte da chamada "política de contenção da Rússia", são claros dividendos geopolíticos. Mas, para nosso país, isto é, no final das contas, questão de vida ou morte, uma questão do nosso futuro histórico como nação. E isso não é exagero: é assim mesmo. É uma ameaça real não apenas aos nossos interesses, mas à própria existência de nosso Estado e de sua soberania. Esta também é aquela linha vermelha da qual se fala repetidamente. Eles a cruzaram.

A este respeito e sobre a situação em Donbass. Vemos que as forças que realizaram um golpe de Estado na Ucrânia em 2014 tomaram o poder e o mantêm com sua ajuda, em essência, por meio de procedimentos eleitorais decorativos, e recusaram definitivamente uma resolução pacífica do conflito. Por oito anos, oito anos infinitamente longos, fizemos todo o possível para que a situação fosse resolvida por meios pacíficos e políticos. Tudo em vão.

Como já disse em meu discurso anterior, não se pode olhar para o que está acontecendo ali sem pena. Então, isso tudo já era impossível. Era preciso pôr fim imediatamente a esse pesadelo: um genocídio voltado contra milhões de pessoas que lá vivem e cuja única esperança está na Rússia, pessoas que só têm esperança em nós, ou seja, em mim e em vocês. Foram justamente essas intenções, esses sentimentos, a dor das pessoas o principal motivo de nossa decisão de reconhecer as repúblicas populares de Donbass.

O que eu acho importante enfatizar também: os principais países da Otan, para alcançar objetivos próprios, apoiam de toda forma os nacionalistas extremistas e neonazistas na Ucrânia, os quais, por sua vez, nunca perdoarão o povo da Crimeia e Sebastopol por sua livre escolha, ou seja, a de se juntarem à Rússia.

Eles, é claro, penetrarão na Crimeia, assim como fizeram em Donbass, com uma guerra, para matar —assim como os executores das quadrilhas de nacionalistas ucranianos, colaboradores de Hitler durante a Grande Guerra Patriótica, mataram pessoas indefesas. Eles também declaram abertamente suas demandas por uma série de outros territórios russos.

Todo o curso do desenvolvimento dos eventos e a análise das informações que nos chegam mostram que um choque entre a Rússia e essas forças é inevitável. É apenas questão de tempo: eles se preparam, esperam o momento oportuno. Agora eles também afirmam possuir armas nucleares. Não vamos deixar que isso aconteça.

Como já disse anteriormente, a Rússia, após a queda da URSS, aceitou as novas realidades geopolíticas. Respeitamos e respeitaremos todos os países que se constituíram novamente no espaço pós-soviético. Respeitamos e respeitaremos a soberania deles, e um exemplo disso é a ajuda que prestamos ao Cazaquistão, que enfrentou acontecimentos trágicos, com desafios a seu estadismo e a sua integridade. Mas a Rússia não pode se sentir segura, se desenvolver ou existir com a ameaça constante proveniente do território da Ucrânia contemporânea.

Relembro que, entre os anos de 2000 e 2005, fizemos resistência militar aos terroristas no Cáucaso, defendemos a integridade de nosso Estado e resguardamos a Rússia. Em 2014, apoiamos o povo da Crimeia e de Sebastopol. Em 2015, colocamos em uso nossas Forças Armadas para montar um bloqueio à penetração de terroristas da Síria para a Rússia. Não havia outra maneira de nos defendermos.

O mesmo ocorre agora. Nós, eu e você, simplesmente ficamos sem outra maneira de proteger a Rússia, o nosso povo, além daquela que seremos forçados a usar hoje. As circunstâncias demandam de nós ações decisivas e imediatas. As Repúblicas Populares de Donbass entraram em contato com a Rússia com um pedido de ajuda.

Nesse contexto, em conformidade com o artigo 51, parágrafo 7, da Carta das Nações Unidas, com a sanção do Conselho da Federação da Rússia e cumprindo os tratados de amizade e assistência mútua com a República Popular de Donetsk e a República Popular de Lugansk ratificados pela Assembleia Federal em 22 de fevereiro deste ano, decidi conduzir uma operação militar especial.

Seu objetivo é proteger as pessoas que há oito anos são submetidas a abusos e a um genocídio por parte do regime de Kiev. E, para tanto, buscaremos desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia, assim como levar aos tribunais aqueles que cometeram inúmeros crimes sanguinolentos contra moradores pacíficos, entre eles, cidadãos da Federação Russa.

Mas não estão entre nossos planos a ocupação de territórios ucranianos. Não pretendemos impor nada a ninguém pela força. Além disso, ouvimos recentemente declarações frequentes do Ocidente de que documentos assinados por um regime soviético totalitário consolidando os resultados da Segunda Guerra Mundial não devem mais ser implementados. Bem, o que responder a isso?

O resultado da Segunda Guerra Mundial é sagrado, assim como os sacrifícios do nosso povo no altar da vitória sobre o nazismo. E isso não contradiz os altos valores dos direitos humanos e das liberdades do homem, com base nas realidades das décadas do pós-guerra. Isso também não anula o direito das nações à autodeterminação assegurado no artigo 1º da Carta das Nações Unidas.

Relembro que, nem durante a criação da URSS, nem após a Segunda Guerra Mundial, ninguém jamais perguntou às pessoas que vivem nestes ou naqueles territórios que compõem a Ucrânia hoje como elas mesmas queriam fazer suas vidas. A liberdade está na base de nossa política, a liberdade de escolha para que cada um determine seu próprio futuro e o futuro de seus filhos. E acreditamos ser importante que esse direito —o direito de escolha— possa ser aproveitado por todos os povos que vivem no território da Ucrânia atual, todos os queiram fazê-lo.

A esse respeito, dirijo-me também aos cidadãos da Ucrânia. Em 2014, a Rússia tinha o dever de proteger os moradores da Crimeia e de Sebastopol daqueles que vocês mesmos chamam de "natsik" [como os ucranianos chamam os nacionalistas locais]. O povo da Crimeia e de Sebastopol fez sua escolha: estar com sua Pátria histórica, com a Rússia. E nós apoiamos isso. Repito, nós simplesmente não poderíamos agir de maneira diversa.

Os eventos atuais não estão ligados ao desejo de ferir os interesses da Ucrânia e do povo ucraniano. Eles estão ligados à defesa da própria Rússia contra aqueles que tomaram a Ucrânia como refém e tentam usá-la contra nosso país e o povo dele.

Repito: nossas ações são de defesa própria contra as ameaças que nos são feitas e contra uma calamidade ainda maior do que a que ocorre hoje. Por mais difícil que seja, peço-lhes que entendam isso e clamo pela cooperação para que possamos virar esta trágica página o quanto antes e avançar juntos, não permitindo que ninguém interfira em nossos assuntos, em nossas relações, e sim construindo-as independentemente —de modo a criar as condições necessárias para superar todos os problemas e, apesar da existência de fronteiras estatais, fortalecer-nos a partir de dentro, como uma entidade única. Acredito nisso, justamente nesse nosso futuro.

Devo também me dirigir aos militares das Forças Armadas da Ucrânia.

Caros camaradas! Seus pais, avôs e bisavôs não lutaram contra os nazistas, defendendo nossa Pátria comum, para que os neonazistas de hoje tomassem o poder na Ucrânia. Vocês fizeram um juramento de lealdade ao povo ucraniano, e não à junta antipopular que está roubando a Ucrânia e abusando desse mesmo povo.

Não cumpram as ordens criminosas dela. Peço-lhes que deponham suas armas imediatamente e vão para casa. Deixo claro: todos os membros do exército ucraniano que atenderem a esta demanda poderão deixar a zona de guerra sem impedimentos e retornar para suas famílias.

Mais uma vez, insisto em salientar: toda a responsabilidade pelo possível derramamento de sangue estará inteira e completamente na consciência do regime que governa o território da Ucrânia.

Agora algumas palavras importantes, muito importantes para quem tiver a tentação de interferir, de fora, nos eventos correntes. Quem quer que tente nos impedir, e ainda mais colocar em perigo nosso país e nosso povo, deve saber que a resposta da Rússia será imediata e o levará a consequências nunca enfrentadas antes na história. Estamos prontos para qualquer desenvolvimento dos acontecimentos. Todas as decisões necessárias foram tomadas a esse respeito. Espero ser ouvido.

Caros cidadãos da Rússia!

O bem-estar, a própria existência de Estados e povos inteiros, seu sucesso e viabilidade sempre têm origem no poderoso sistema nativo de suas culturas e valores, na experiência e nas tradições de seus antepassados e, claro, dependem diretamente de sua capacidade de se adaptar rapidamente a uma vida em constante mudança, da união da sociedade, de sua prontidão para se consolidar, para reunir todas as forças para seguir adiante.

As forças são sempre necessárias — sempre, mas a força pode ter diferentes qualidades. Na base da política do "império de mentiras", sobre a qual falei no início de meu discurso, está principalmente a força bruta e direta. Nesses casos, dizemos: "Ter força dispensa inteligência."

Mas você e eu sabemos que a verdadeira força está na justiça e na verdade, que está ao nosso lado. E, se é assim, então é difícil não concordar que justamente a força e a prontidão para lutar são a base da independência e da soberania, são o fundamento necessário sobre o qual se pode construir sozinho seu futuro, sua casa, sua família, sua Pátria.

Caros compatriotas!

Estou certo de que os soldados e oficiais das Forças Armadas russas, devotos a seu país, cumprirão seu dever com profissionalismo e coragem. Não tenho dúvidas de que agirão com coerência e efetivamente todos os níveis de poder, os especialistas responsáveis pela estabilidade de nossa economia, de nosso sistema financeiro e da esfera social, as chefias de nossas empresas e todas as empresas russas. Conto com uma posição consolidada e patriótica de todos os partidos parlamentares e das forças públicas.

No final, como sempre ocorreu na história, o destino da Rússia está nas mãos capazes de nosso povo multiétnico. Isso significa que as decisões tomadas serão implementadas, que os objetivos colocados serão alcançados e a defesa de nossa Pátria será seguramente garantida.

Acredito em seu apoio e na força invencível que nos dá o amor que temos por nossa Pátria.

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