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Acordo com Ilhas Salomão deve permitir à China enviar navios a 'quintal' australiano

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Igor Patrick
Pequim

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A China está próxima de confirmar acordo de segurança sem precedentes com as Ilhas Salomão, localizadas a 2.000 km da costa australiana.

Documentos obtidos e verificados pela emissora ABC mostram que o acerto permitirá aos chineses enviar navios de guerra para a região.

O texto também dá ao arquipélago o direito de requisitar a presença de "polícia armada, militares das forças armadas e forças-tarefa para manutenção da ordem" chineses que estariam responsáveis por "garantir a proteção à vida e à propriedade, prover assistência humanitária e responder a desastres".

A Austrália reagiu à notícia com irritação. Falando a jornalistas na quinta (24), a ministra do Interior australiana, Karen Andrews, chamou a região no Pacífico de "nosso quintal" e disse estar preocupada com "qualquer atividade [da China] ocorrendo nas ilhas" vizinhas.

Canberra mantém laços próximos com o governo do arquipélago e já forneceu apoio militar em diversas ocasiões, chegando a enviar para lá uma missão de policiamento que durou 14 anos (2003-2017).

Navio em alto-mar
O navio de pesquisa chinês Tansuo-2 transporta submersível Shenhai Yongshi - Zhang Liyun - 16.abr.2021/Xinhua

Esse é o movimento diplomático mais significativo das Ilhas Salomão com os chineses na história. A região mantinha relações diplomáticas com Taiwan, mas decidiu cortar laços e reconhecer a China continental como soberana única do território. A decisão quase custou ao premiê Manasseh Sogavare o seu cargo (no fim, ele derrotou uma moção de desconfiança e culpou "espiões taiwaneses" pela crise).

A China ainda não comentou o assunto, mas à Reuters o ministro da polícia nas Ilhas Salomão, Anthony Veke, confirmou ter assinado um memorando de entendimento com o Ministério da Segurança Pública da China para cooperação policial.

Por que importa: Esse pode ser o avanço mais assertivo dos chineses contra a Austrália até o momento. Pequim já tinha demonstrado irritação desde outubro do ano passado, quando Camberra anunciou ter assinado um acordo com os EUA e o Reino Unido para a construção de submarinos nucleares no país.

A relação entre chineses e australianos vem se deteriorando há anos, mas piorou após o início da pandemia após o premiê Scott Morrison insistir em uma investigação independente sobre a origem da Covid em Wuhan. Desde então, Pequim baniu ou sobretaxou exportações australianas e tem limitado os contatos diplomáticos com o país da Oceania.

Em fevereiro, uma remessa de suprimentos foi enviada pela China às Ilhas Salomão para ajudá-los no combate à Covid-19. Na foto, o ministro de Saúde Culwick Togamana discursa em Honiara, capital das Ilhas Salomão. - The Chinese Embassy in Solomon Islands/Handout via Xinhua

o que também importa

Equipes de resposta a emergências anunciaram ter encontrado uma das caixas-pretas e partes do motor de avião chinês.

Segundo a Administração de Aviação Civil da China (órgão semelhante à Anac no Brasil), a caixa-preta do avião da China Eastern Airlines, que caiu nesta semana na província de Guangxi (sul do país), possui registros de voz do cockpit. O material de gravação foi enviado para Pequim e será analisado por peritos. Já uma avaliação do motor pode trazer pistas sobre possíveis colisões com objetos ou falhas técnicas durante o voo.

Estavam a bordo 132 pessoas na aeronave, que despencou cerca de 30 mil pés (mais de 9 mil metros) em poucos minutos, de acordo com registros de radar. Não há sinais de sobreviventes até o momento, mas as buscas continuam.

Criticada pela incapacidade em conter a Covid em Hong Kong, a chefe do Executivo Carrie Lam corre o risco de perder o cargo.

Cheng Yuet-ngor é advogado e faz parte do bloco pró-Pequim. Ele vem criticando a resposta de Lam à crise há algum tempo e nesta semana declarou estar considerando mover uma moção de desconfiança contra ela. Se avançar, este seria o primeiro processo do tipo na história de Hong Kong desde o retorno da cidade à China em 1997.

Yuet-ngor disse à imprensa que "sente nojo da cara" de Lam e a criticou por abandonar a ideia de testagem em massa para a Covid. Ele pediu que os moradores se mobilizem para pressioná-la e cobrou planejamento do governo.

Até agora, a ideia de uma moção encontrou resistência no Conselho Legislativo, onde os deputados da maioria pró-Pequim consideraram as declarações do colega como um sinal de "traição", de acordo com a mídia local.

A chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, em coletiva com a imprensa. - Vincent Yu/Pool via Reuters

fique de olho

Hong Kong anunciou que vai começar a flexibilizar a chegada de viajantes internacionais, em uma grande mudança na estratégia que vinha trabalhando para abrir fronteiras com a China continental. Até então proibidos, voos vindos de Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Filipinas serão autorizados a pousar na cidade a partir de abril. A quarentena obrigatória de 14 dias vai cair para 7, embora ainda seja necessário apresentar comprovante de vacinação contra a Covid.

Por que importa: Com o avanço da variante ômicron, Carrie Lam dá sinais de estar jogando a toalha.

  • estima-se que metade dos residentes em Hong Kong se infectou com o novo coronavírus na atual onda de contágios;
  • as chances do território de zerar o número de casos é praticamente nula.


Sem alternativas e perdendo gradativamente o posto de hub econômico mundial, a cidade dá sinais de que vai precisar priorizar a abertura com o resto do mundo antes de poder restabelecer o trânsito de pessoas com a China continental.

para ir a fundo

  • O Centro de Estudos Globais e China da PUC Minas realiza na próxima quinta (31) a aula inaugural da especialização em China Contemporânea, iniciativa inédita no Brasil. O evento será online e contará com a presença do professor Evandro Menezes de Carvalho falando sobre governança chinesa. Mais informações aqui. (gratuito, em português)
  • Parte da série "China em Movimento", o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) recebe especialistas na próxima terça (29) para discutir a transição energética no país asiático e possíveis oportunidades de cooperação com o Brasil. As inscrições já estão abertas. (gratuito, em português)
  • Lançado pela Palgrave Macmillan o livro "Brazil-China Relations in the 21st. Century", obra assinada pelo sinólogo e professor da UERJ, Maurício Santoro. A obra é resultado de quase dois anos de pesquisa sobre o assunto e está disponível em versões física e digital (pago, em inglês)
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