Descrição de chapéu Guerra na Ucrânia Rússia

Bateria antiaérea prometida por Biden pode ser o novo MiG-29 da guerra na Ucrânia

Modelo russo S-300 existe em três países da Otan, mas transferi-los sem que Moscou reaja parece irreal

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São Paulo

Em seu pacote adicional de US$ 800 milhões em ajuda à Ucrânia, o presidente Joe Biden prometeu entregar ao país baterias antiaéreas de longa distância, conforme lhe havia pedido Volodimir Zelenski.

O líder americano foi esperto ao não citar modelos, porque a promessa corre o risco de repetir a novela dos MiG-29 que a Otan, a aliança militar do Ocidente, iria entregar para ajudar a defesa de Kiev contra a invasão russa, só para desistir ante a impraticabilidade do arranjo.

Um S-300 russo é lançado durante treinamento em Achuluk, perto de Astrakhan
Um S-300 russo é lançado durante treinamento em Achuluk, perto de Astrakhan - Serguei Pivovarov - 19.jun.19/Reuters

Se quisesse entregar um modelo em uso pela aliança, teria de enviar também os operadores: a Ucrânia só tem no seu acervo baterias soviéticas. Isso configuraria tropas ocidentais no solo e, na lógica de Moscou, um envolvimento direto na guerra.

Nesta quinta (17), a chancelaria de Moscou criticou o anúncio americano. "Tais entregas seriam um fator de desestabilização que definitivamente não irá trazer paz", afirmou a porta-voz Maria Zakharova.

Os países ocidentais dizem ter entregado mais de 20 mil mísseis antitanque e antiaéreos, ambos lançados de forma portátil e de fácil manuseio. Ainda que na prática estejam matando russos, até aqui têm sido tolerados pelo Kremlin e não usados como "casus belli" para um conflito com a Otan.

Resta então buscar nos inventários dos membros que faziam parte do Pacto de Varsóvia (a aliança militar comandada pela União Soviética) e hoje são da Otan os tais sistemas de mísseis. O candidato é o S-300, modelo em uso em inúmeros países, com diversos graus de modernização.

Isso porque o Exército da Ucrânia tinha, segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, "alguns" S-300 mais antigos antes da guerra. A Força Aérea, 250 lançadores. A Rússia, sem apresentar provas, afirmou já ter destruído boa parte deles. São armas poderosas, que atingem alvos a até 250 km, a depender do míssil usado.

Eles existem marginalmente em três membros da Otan: na Eslováquia (um único lançador), Bulgária (10 lançadores) e Grécia (12 lançadores, mas mais distante do conflito). A Rússia usa o modelo, assim como seus irmãos mais modernos, o S-400 e o S-500. Membro da aliança ocidental, a Turquia comprou S-400 russos e foi punida pelos EUA, mas não há hipótese em que faça tal doação a Kiev, até porque teria de enviar soldados para operá-lo.

Quando a guerra estourou, no fim de fevereiro, União Europeia e Otan prometeram facilitar a entrega de caças para repor o estoque da Força Aérea da Ucrânia. A estratégia provou-se errada, pela impossibilidade de fazer entrar material com esse grau de sofisticação sem atrair a ira e provavelmente mísseis russos a comboios, caso o avião viesse desmontado, ou, pior, ao aparelho no ar.

A Polônia insistiu, sugerindo transferir a sua frota de 28 MiG-29 russos, modelo que Kiev usa, mas foi barrada pelos EUA e por outros membros da Otan por motivos de Terceira Guerra Mundial potencial.

Zelenski seguiu seu pedido diuturno para que a Otan faça uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia. É algo perigoso, pela evidente declaração de guerra que seria feita a Moscou, e algo inútil: mísseis de cruzeiro são lançados de navios e aviões longe do território ucraniano, e o grosso do estrago tem sido feito com mísseis balísticos, foguetes e obuses de artilharia.

Mesmo que houvesse defesa aérea mais eficaz, nada sugere que impediria os danos a essa altura. Pode ser que os ocidentais agora achem uma saída criativa para o problema, mas parece que os S-300 têm tudo para ser os novos MiG-29 na história deste conflito. Mais úteis parecem ser a munição, os já mencionados mísseis e drones —embora ninguém espere modelos avançados de ataque como o Reaper no pacote.

Até aqui, a Rússia tem criticado, mas não tomado ações como ataques a comboios, contra o fornecimento ocidental de armamento a Kiev.

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