A editora holandesa que publicou um livro que revelaria o suposto traidor de Anne Frank comunicou, nesta terça-feira (22), que recolherá a obra, sob pressão de historiadores e especialistas que alegam que a conclusão das investigações de seis anos, lideradas por um ex-agente do FBI, é duvidosa.
O livro "Quem Traiu Anne Frank", publicado em janeiro, teve repercussão mundial ao apontar uma nova hipótese sobre as circunstâncias da prisão e da deportação de Anne Frank para um campo de concentração nazista, no qual morreu. Segundo a autora canadense Rosemary Sullivan, o traidor da família Frank seria o judeu Arnold van der Bergh.
As acusações contra o homem, que morreu em 1950, foram baseadas em evidências como uma carta anônima enviada ao pai de Anne, Otto Frank, após a Segunda Guerra Mundial.
Após a publicação do livro, grupos judeus, de historiadores e pesquisadores independentes, rechaçaram o desfecho encontrado por Sullivan. Em fevereiro, um coletivo que reúne as principais comunidades judaicas da Europa pediu que a editora americana Harper Collins suspendesse a edição em inglês da obra, alegando que o livro manchou a memória de Anne Frank e a dignidade dos sobreviventes do Holocausto.
Ainda nesta terça, um relatório feito por historiadores especialistas em Segunda Guerra e divulgado na Holanda apontou que as investigações publicadas por Sullivan não seguiram um padrão profissional.
"[A conclusão] é, sem exceção, muito fraca e às vezes baseada em uma leitura evidentemente errônea das fontes", comunicou a equipe, acrescentando que a obra "não foi submetida a uma avaliação crítica".
O desfecho dos especialistas foi o estopim para a editora holandesa Ambo Anthos. "Com base nas conclusões desse relatório, decidimos que, com efeito imediato, o livro não estará mais disponível."
A empresa também disse que solicitará às livrarias a devolução de obras em estoque. Em janeiro, ela já havia suspendido a impressão de novos exemplares, por dúvidas sobre a hipótese aventada no livro.
Além de apontar o traidor de Anne Frank, o livro detalha como os nazistas teriam encontrado o local onde a adolescente e sua família estavam escondidos —uma sala secreta em um armazém de Amsterdã.
Ela e outros sete judeus foram presos no dia 4 de agosto de 1944. Todos foram levados para campos de concentração, e Anne morreu aos 15 anos no campo de Bergen-Belsen, na Alemanha.
O pai dela publicou em 1947 seu diário, que já vendeu mais de 30 milhões de cópias desde então, foi traduzido para 60 idiomas e capturou a imaginação de milhões de leitores em todo o mundo.
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