Descrição de chapéu Guerra na Ucrânia Rússia

EUA acusam China de querer ajudar Putin na guerra da Ucrânia

Washington aumenta pressão para evitar que Pequim forneça meios para Moscou driblar sanções

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São Paulo

Os EUA informaram a aliados na Europa e na Ásia que a China sinalizou querer dar apoio econômico e militar à Rússia durante a guerra na Ucrânia. A informação foi vazada de forma anônima a jornalistas em Washington, uma tática comum.

O aviso americano teria ocorrido por meio de telegramas diplomáticos nesta segunda (14), antes de um encontro de delegações americana e chinesa em Roma. Nele, o assessor de Segurança Nacional de Joe Biden, Jake Sullivan, fez o alerta ao chinês Yang Jiechi sobre o risco de apoiar Vladimir Putin.

Navios russos, chineses e iranianos participam de exercício conjunto no oceano Índico, em janeiro
Navios russos, chineses e iranianos participam de exercício conjunto no oceano Índico, em janeiro - Exército do Irã - 21.jan.2022/AFP

O vazamento dá sequência a outro, feito ao jornal The New York Times no domingo, segundo o qual a Rússia havia pedido ajuda aos chineses. Nesta segunda, Pequim e Moscou negaram a hipótese. Para o Kremlin, a Rússia está em plenas condições de atingir seus objetivos no país vizinho. Já a chancelaria chinesa acusou Washington de tentar criar intrigas com "objetivos sinistros".

Não é possível saber o grau de veracidade da informação. Que haja uma disposição chinesa de auxiliar economicamente Vladimir Putin, cujo governo está sob as mais duras sanções econômicas da história moderna, não parece impossível —ao contrário.

Até aqui, a ditadura liderada por Xi Jinping tem lidado com cautela extrema na crise na Ucrânia. Não condenou a guerra do aliado, mas tem insistido em uma solução negociada e pacífica, colocando-se como mediadora possível. Trata-se de uma modulação de tom.

Em dezembro, quando o Ocidente já via risco de invasão, Xi disse a Putin numa videoconferência que os dois países tinham de se aliar para reagir conjuntamente contra pressões do Ocidente, o nome genérico do clube liderado pelos EUA e que inclui países orientais, como Japão e Austrália.

Em 4 de fevereiro, 20 dias antes de a guerra começar, Putin fez sua primeira viagem internacional após a pandemia de coronavírus e participou da abertura dos Jogos de Inverno de Pequim. Assinou uma declaração de "amizade eterna" com Xi, ratificando sua entrada como parceiro da China na chamada Guerra Fria 2.0 vivida pela segunda maior economia do mundo contra a primeira, os EUA.

Enquanto a análise detida dos termos mostrava que não se tratava de uma aliança militar, e na realidade uma peça que atendia mais aos interesses chineses, a percepção de que Xi poderia vir em socorro financeiro a Putin está na pauta ocidental desde o começo da guerra.

No domingo, antes do encontro em Roma, Sullivan já havia dito que Pequim arriscaria "severas consequências" se a China ajudasse Moscou a furar o bloqueio das sanções.

​Se a questão econômica sugere que a parceria pode ser posta a teste, a militar não é tão clara. Como disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, parece evidente que a Rússia consegue manter seu esforço de guerra atual.

Por mais que haja dificuldades relatadas em solo na Ucrânia, não parece haver muita lógica em pensar que os russos precisem de algum tipo de insumo agora. Segundo o jornal britânico Financial Times, o relato americano diz que os russos pediram mísseis, drones e blindados —o que iria colocar as digitais de Pequim no solo ucraniano. Por outro lado, Moscou já disparou mais de 900 mísseis, segundo os EUA, e seu grande inventário não é infinito.

Claro, desconta-se aqui a possibilidade de uma guerra ampliada com outros membros da Otan que levasse a China a ter de tomar partido do aliado, até por exclusão e pela experiência pregressa em coordenação militar, no seu quintal estratégico do Indo-Pacífico. Mas aí o tema é guerra mundial.

Não de forma casual, os EUA e seus aliados do Quad (Japão, Austrália e Índia), grupo criado para conter a assertividade chinesa naquela região, já se alertaram que Pequim não deveria achar que Taiwan seria uma nova Ucrânia, em referência à atividade militar em torno da ilha autônoma que a ditadura considera sua.

No cenário colocado, a cautela chinesa tem a ver com o fato de que ela tem muito mais a perder se for confrontada com um regime draconiano de sanções do que Moscou. A lógica reversa é igual: A China se tornou parte central das cadeias globais de produção. Daí que a pressão americana pode ser só isso, uma pressão.

Ao fim, Pequim ainda pode lucrar muito com uma Rússia mais fraca politicamente e dependente de si para sobreviver, abrindo as vastas reservas de petróleo e gás que hoje abastecem a Europa para o Oriente, o que também ajuda a entender a discrição de Xi até aqui.

O que se desenrola é um drama de proporções planetárias, com provável efeito nas relações de Pequim com o resto do mundo daqui para a frente, independentemente do resultado da guerra na Ucrânia.

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