Descrição de chapéu Rússia União Europeia

Guerra na Ucrânia: Conflito fortalece União Europeia, apesar de dilema energético

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São Paulo

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Os 33 dias de invasão do território ucraniano pela Rússia impuseram um novo choque à União Europeia, que ainda vive o trauma do brexit dois anos após a saída do Reino Unido. Com a guerra, os 27 países do bloco criado em 1992 têm se aproximado em torno de medidas para dar ajuda financeira e militar à Ucrânia, acolher refugiados e aplicar punições ao governo Vladimir Putin e a políticos e empresários que o apoiam.

Sim, mas... Os europeus não estão totalmente alinhados quando o assunto é como agir em relação à Rússia. Nosso convidado de hoje, o colunista da Folha Mathias Alencastro, pesquisador do Cebrap e professor de relações internacionais na UFABC, explica que há uma divisão entre os países do bloco.

  • Os que defendem aprofundamento das sanções: França, liderada por Emmanuel Macron, Polônia e Espanha;
  • Os que querem que as sanções sejam mantidas, mas que elas não pesem muito na carteira do europeu: Alemanha, Itália e Hungria.

Entenda: 40% do gás natural e cerca de 33% do petróleo consumidos na Europa vêm da Rússia. Na Alemanha, a dependência do gás chega a 50%. Em represália às sanções, a Rússia já ameaçou cortar a emissão de gás para a Europa e a cobrar em rublos.

No centro, o presidente da França, Emmanuel Macron aperta as mãos enquanto caminha. Ele usa terno escuro e é acompanhado por sete homens, também de terno, que parecem ser de sua comitiva.
O presidente da França, Emmanuel Macron, na saída de uma coletiva de imprensa após reunião da União Europeia, na sexta, em Bruxelas - Ludovic Marin - 25.fev.2022/AFP

A União Europeia fala que não aceitará "chantagem" e discute formas de diminuir de forma gradativa sua dependência do gás russo.

O continente é o principal destino dos ucranianos que fogem dos ataques. Quase 60% dos 3,8 milhões de refugiados estimados pela ONU foram para a vizinha Polônia, país que vem engrossando o coro europeu contra a Rússia.

Abaixo, Alencastro analisa a atuação da União Europeia diante da guerra e como o conflito pode impactar o futuro do bloco:

Você escreveu que a guerra fortalece a UE como bloco. Essa unidade pode preencher uma lacuna de poder deixada pelo fim da era Merkel? Ao mesmo tempo em que Merkel liderava, ela também era um obstáculo para a construção desse bloco. A Alemanha era contra uma integração maior do ponto de vista político, financeiro e sobretudo energético, porque ela tinha essa relação privilegiada com a Rússia.

A guerra está movendo o centro de decisão da Europa de Berlim para Bruxelas. Como a Alemanha se mostrou muito fragilizada com a sua relação de dependência com a Rússia, só uma resposta europeia, no sentido holístico, pode dar conta dos desafios que vêm pela frente.

Do ponto de vista das lideranças, como avalia o desempenho de Macron e Scholz na mediação do conflito? Eles estão tendo protagonismos diferentes, na medida em que Scholz está muito condicionado pela dependência estrutural da Alemanha em relação ao gás russo, o que impede que o país lidere esse bloqueio contra a Rússia. E a França aproveitou esse espaço para assumir a liderança do bloco europeu.

Agora você tem uma nova aliança se formando dentro da Europa entre os países que são a favor de um aprofundamento das sanções e de uma busca mais acelerada pela autonomia energética da Europa —liderado pelo Macron, mas também acompanhado por Polônia e Espanha—, e um bloco um bloco um pouco mais realista que defende que as sanções sejam mantidas, mas que elas não pesem muito na carteira do europeu. Nesse grupo estão Alemanha, Itália e Hungria.

As duras sanções aplicadas pela UE devem alterar a própria economia europeia? As sanções foram fortes e surpreendentes, porque foram implementadas de forma muito rápida e consensual, o que é algo raro —na Europa, tudo é lento e divisivo. No entanto, no quesito do gás, as sanções foram muito limitadas pela resistência da Alemanha e por uma visão estratégica de que era preciso guardar alguma coisa na cartola caso a guerra escalasse.

Não se perca

Desde fevereiro, a União Europeia aplicou quatro rodadas de sanções que atingiram 877 pessoas e 62 entidades da Rússia ou apoiadores em represália à invasão da Ucrânia.

Veja as principais medidas e seus alvos

23.fev

Contexto: após reconhecimento pela Rússia da independência de províncias separatistas do Donbass, no leste da ucrânia

  • Principais alvos: 351 membros da Duma (Parlamento russo) e 27 pessoas e entidades, como políticos, militares, empresários, bancos

  • Restrições: congelamento de bens, bloqueio de empréstimos e, em alguns casos, proibição de viajar pela UE

25.fev

Contexto: dia seguinte à invasão da Ucrânia pela Rússia

  • Principais alvos: Vladimir Putin e Serguei Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, e membros do Conselho Nacional de Segurança russo

  • Restrições: congelamento de bens de Putin e Lavrov; ampliação das restrições financeiras a 70% do mercado bancário russo e às principais empresas públicas; e proibição de exportação de bens e tecnologias europeus para setores da Rússia como petróleo e transportes

28.fev e 2.mar

Contexto: escalada de ataques da Rússia no território ucraniano

  • Principais alvos: sistema financeiro e empresas de comunicação

  • Restrições: fechamento do espaço aéreo a todas as aeronaves russas, proibição de realizar transações com o Banco Central da Rússia; proibição de acesso ao Swift (sistema de transações globais) a sete bancos russos; e suspensão na UE dos meios de comunicação estatais Russia Today e Sputnik

15.mar

Contexto: escalada de ataques da Rússia no território ucraniano

  • Principais alvos: o bilionário Roman Abramovich, dono do Chelsea, e outros "oligarcas, lobistas e propagandistas que insistem na narrativa do Kremlin sobre a situação na Ucrânia"

  • Restrições: congelamento de bens (nos casos individuais); proibição de todas as transações com determinadas empresas públicas; e restrições ao comércio de ferro, aço e artigos de luxo

Fonte: Conselho Europeu

O que aconteceu nesta segunda (28)

  • Ucrânia disse que retomou controle de Irpin, nos arredores de Kiev;

  • Rússia anunciou planos para restringir entrada de cidadãos de "países hostis";

  • Kremlin chamou de "alarmante" fala de Biden sobre Putin permanecer no poder;

  • Putin incluiu rede alemã Deutsche Welle em lista de "agentes estrangeiros".

Imagem do dia

Tanque despedaçado na frente de uma casa com marcas de bombardeio.
Tanque russo supostamente destruído em batalha em Trostyanets, no norte ucraniano; autoridades da Ucrânia dizem estar retomando cidades de tropas russas - Divulgação/Forças Armadas da Ucrânia/AFP

O que ver e ouvir para se manter informado

Dois exemplos de estratégias de cada lado em vídeos da TV Folha.

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