Guerra na Ucrânia entra no 2º mês com expectativa alta em reuniões do Ocidente

Cúpulas da Otan, da União Europeia e do G7 podem ter papel decisivo sobre próximos passos do conflito

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São Paulo

No dia em que a invasão da Ucrânia pela Rússia completa um mês, as atenções e expectativas voltam-se a Bruxelas, na Bélgica, onde ocorrem nesta quinta-feira (24) três reuniões de lideranças do Ocidente que podem ter influência direta sobre os próximos acontecimentos da guerra.

O dia começa na sede da Otan, onde os líderes da aliança, incluindo o presidente dos EUA, Joe Biden, devem anunciar o aumento de forças militares no leste europeu. Outro encontro reunirá chefes de Estado da União Europeia, e um terceiro, o G7 (Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão e Reino Unido).

O presidente dos EUA, Joe Biden, conversa com o presidente da França, Emmanuel Macron, entre outras lideranças ocidentais na sede da Otan, em Bruxelas - Gonzalo Fuentes - 24.mar.22/Reuters

Na véspera, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, usou seu pronunciamento diário para pressionar as lideranças ocidentais, tratando esta quinta como uma espécie de divisor de águas da guerra. "Nas três cúpulas, poderemos ver quem é nosso amigo, quem é parceiro e quem nos traiu por dinheiro."

Zelenski também pediu "medidas significativas" de apoio à Ucrânia e reiterou duas de suas principais reivindicações. A primeira foi a criação de uma zona de exclusão aérea sobre o país —considerada improvável porque, na prática, representaria um ataque direto à Rússia de Vladimir Putin e, por consequência, uma escalada ainda mais acentuada do conflito. O segundo pedido foi por ações mais assertivas da Otan. "Pedimos que a aliança diga que vai ajudar totalmente a Ucrânia a vencer essa guerra."

Em um discurso pré-gravado e transmitido aos membros da cúpula, o presidente ucraniano pediu que o grupo envie jatos, tanques, armas antinavios e equipamento militar para defesa aérea. "A Ucrânia precisa de ajuda militar irrestrita. Assim como a Rússia usa todo o seu arsenal contra nós sem restrições", disse.

Zelenski disse ainda que Moscou tem planos de avançar sobre outros países do Leste Europeu, como a Polônia. "A Otan ainda precisa mostrar o que a aliança pode fazer para salvar as pessoas", argumentou.

O secretário-geral da aliança militar, Jens Stoltenberg, anunciou na quarta-feira (23) a preparação de novos grupos de batalha na Europa Oriental para impedir a Rússia de atacar qualquer um dos membros do grupo. O norueguês repetiu, entretanto, que a Otan não vai enviar soldados ou aviões à Ucrânia.

"O presidente Putin cometeu um grande erro", disse ele, apontando para a força da resistência da Ucrânia e a unidade do Ocidente. Nesta "crise de segurança mais séria em uma geração", continuou, "estaremos seguros enquanto estivermos juntos".

As 30 nações que compõem a aliança seguem alarmadas com a perspectiva de que a Rússia possa agravar o conflito com o vizinho e concordaram em enviar mais assistência à Ucrânia, incluindo equipamento para "se proteger de ameaças químicas, biológicas, radiológicas e nucleares".

"Os passos de Putin são feitos para nos deixar com medo também, de um modo que nos impeça de ajudar a Ucrânia. Definitivamente não devemos cair nessa armadilha", disse Kaja Kallas, primeira-ministra da Estônia, ao chegar à cúpula. "Putin não pode vencer esta guerra, isso é muito importante para todos nós."

No Parlamento da União Europeia, outras lideranças reiteraram seus posicionamentos. "Devemos garantir que a decisão de invadir um país soberano independente seja entendida como um fracasso estratégico que acarreta custos desastrosos para Putin e para a Rússia", disse o premiê do Canadá, Justin Trudeau.

Para o líder britânico, Boris Johnson, Putin "cruzou a linha vermelha para a barbárie". "Quanto mais duras as nossas sanções, quanto mais pudermos fazer para ajudar a Ucrânia, mais rápido isso pode acabar."

O Reino Unido anunciou nesta quinta mais um conjunto de medidas contra instituições financeiras da Rússia e contra uma enteada de Serguei Lavrov, o chanceler russo, que vive em Londres. À agência de notícias RIA o decano da diplomacia mundial disse que Boris é o "participante mais ativo da corrida anti-Rússia" e que sua postura levaria a um "beco sem saída na política externa".

Na reunião do G7 —que, com exceção do Japão, é formado também por países-membros da Otan—, a expectativa é a de mais um pacote de sanções contra Moscou. Autoridades dos EUA disseram que Biden e seus colegas europeus anunciariam ainda medidas para endurecer as sanções já existentes. Diplomatas da UE, no entanto, minimizaram as expectativas de que sejam anunciadas retaliações significativas.

A Rússia sofreu um bloqueio no comércio mundial em um grau nunca visto contra uma economia tão grande. Mas a maior brecha está relacionada à exceção para exportações russas de gás e petróleo. Vários membros da UE resistem em intensificar a retaliação porque dependem da energia produzida na Rússia.

Nas redes sociais, o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia fez um apelo com ares de acusação aos países do bloco europeu e os instou a demonstrarem força. "Líderes da UE, a Ucrânia os protege da agressão russa há quase um mês. Parem de financiar a guerra, parem de pagar pela energia russa."

Com AFP e Reuters

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