Descrição de chapéu Rússia

Guerra na Ucrânia: Negociação dá passo à frente com acenos e promessas

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São Paulo

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Rússia e Ucrânia deram um passo à frente nas negociações pelo fim da guerra iniciada há 34 dias. Em um ponto do conflito em que os dois países tentam medir seus ganhos, e com Kiev anunciando a retomada de áreas dadas como dominadas por Moscou, o governo Putin busca ajustar suas metas e limitar seu campo de ação —podendo manter assim um discurso vitorioso, embora com saldo mais modesto.

Dois avanços importantes foram anunciados nesta terça (29), dia em que as tratativas diplomáticas presenciais prosseguiram na Turquia:

  • Rússia: anunciou reduzir ataques em Kiev e Tchernihiv, na primeira promessa de cessar-fogo sem fins humanitários;

  • Ucrânia: ofereceu a neutralidade militar, ou seja, a garantia de que o país não se alinhará a blocos político-militares do Ocidente, como a Otan e a União Europeia.

Entenda: A garantia de neutralidade da Ucrânia é um dos três objetivos declarados pelo pelo Kremlin para a invasão do país vizinho. Lembramos quais são, do mais avançado para o menos avançado:

Neutralidade

  • O que a Rússia exige: que a Ucrânia inclua em sua Constituição uma declaração de que não participará de blocos ou alianças militares, como a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) —o que Kiev sinalizava desejar, apesar de não haver nenhuma garantia do Ocidente de que sua entrada ocorreria. O Kremlin diz que a aproximação com a Otan seria um risco para a Rússia;
  • Em que ponto está: Ucrânia manifestou que aceitaria a neutralidade, ou seja, renunciaria ao seu objetivo de entrar na Otan.

Reconhecimento de áreas separatistas

  • O que a Rússia exige: que a Ucrânia reconheça o território Crimeia (anexado por Putin em 2014) como sendo russo e províncias de Donetsk e Luhansk (que estão na região do Donbass, no leste) como sendo independentes. É por esse ponto que a Rússia tem atacado cidades entre a Crimeia e o Donbass —caso de Mariupol— como forma de consolidar sua conquista e criar um corredor russo entre essas regiões;
  • Em que ponto está: pela primeira vez a Ucrânia admite discutir a situação da Crimeia —porém, em um período de 15 anos. Também sinalizou discutir o status do Donbass, embora sem termos concretos.

Desmilitarização e "desnazificação"

  • O que a Rússia exige: não está claro. Putin usou os termos em discursos e acusou o governo Zelenski de ser apoiado por grupos neonazistas. Um deles, o Batalhão Azov, foi em parte incorporado à Guarda Nacional ucraniana. Não se sabe, porém, o que Moscou quer dizer com a desmilitarização: a Ucrânia abriria mãos de suas Forças Armadas? Viraria um protetorado da Rússia?
  • Em que ponto está: Zelenski nega o elo com grupos neonazistas e recusa a rendição.

O que a Ucrânia quer da Rússia? Fim dos ataques e retirada de forças russas.

E qual é o possível ajuste de rota da Rússia? Com a redução dos ataques fora da região leste e sul, Putin tentará concentrar os esforços para consolidar o domínio de áreas próximas e formar o corredor até a Crimeia. O Kremlin já considera a liberação do Donbass o seu "objetivo principal".

Não se perca

Mapa da Ucrânia com a localização de sete cidades: Kiev e Irpin (norte); Lviv (oeste); Kharkiv (nordeste); Mariupol (leste); Mikolaiv e Odessa (sul)
Folhapress

1) Kiev

Russos fizeram, até agora, ataques na periferia da capital, que atingiram mais de 80 prédios. "Moscou apenas 'beliscou' a cidade com combates periféricos, mas não ensaiou invasão", explica a esta newsletter o repórter especial Igor Gielow.

Situação: segue sob controle ucraniano.

2) Irpin

Importante acesso para a capital tem sido desde o início da invasão um dos alvos preferenciais de Moscou. Na segunda, a prefeitura declarou que retomou o controle da cidade, mas a informação diverge de outros relatos.

Situação: incerta

3) Lviv

Próxima à fronteira da Polônia, virou um ponto de passagem de refugiados. No sentido contrário, também é destino de armas e ajuda militar vindas do Ocidente, razão pela qual tem sido alvo de ataques pontuais, mas não ameaça de invasão.

Situação: sob controle ucraniano.

4) Kharkiv

Segunda maior cidade da Ucrânia, vem sofrendo bombardeios desde o início da guerra. Abriga um centro de pesquisa nuclear que foi atacado no fim de semana. A Ucrânia diz ter retomado o controle das periferias, assim como de porções na região de Sumi, no noroeste

Situação: sob ataque mais intenso russo

5) Mariupol

A cidade no leste ucraniano é estratégica para os dois países, foi objeto de cerco brutal dos russos. Moscou considera o avanço sobre a região, com o objetivo de formar um corredor até a Crimeia, uma primeira fase da guerra que estaria "praticamente concluída".

Situação: dominada pelos russos

6) Mikolaiv

Foguete lançado pela Rússia contra o prédio da administração local matou ao menos nove pessoas. Cidade já teve combates na rua, mas agora está sob ataques pontuais. É caminho para um ataque a Odessa.

Situação: sob controle ucraniano e ataque russo

7) Odessa

Maior porto do país. Uma ação russa indicaria uma intenção de isolar Kiev do mar Negro. Sofreu bombardeios distantes.

Situação: sob controle ucraniano.

O que aconteceu nesta terça (29)

  • EUA disseram preparar sanções que atingem cadeia de abastecimento russo;

  • Bélgica e Holanda expulsaram diplomatas russos por suspeita de espionagem;

  • Macron conversou com Putin sobre a situação humanitária em Mariupol;

  • Rússia atacou Mikolaiv e se aproximou de Odessa.

Imagem do dia

Imagem de uma grande mesa, com negociadores russos de um lado e ucranianos de outro; Recep Tayyip Erdogan está no fundo, no palco, e aparece ao centro.
Presidente turco Recep Tayyip Erdogan discursa na abertura das negociações entre Rússia e Ucrânia em Istambul - Murat Cetin Muhurdar/Presidência da Turquia/AFP

O que ver e ouvir para se manter informado

As cenas da guerra em Kharkiv, transformada em cidade-fantasma por bombardeios, em Mikolaiv, atacada nesta terça, em dois vídeos.

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