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Guerra na Ucrânia: quem foi Molotov e por que ele dá nome a explosivos que ucranianos usam contra russos

Muitos civis atenderam chamado do governo e estão usando bombas caseiras para lutar contra a invasão do país

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Alguns estão incrédulos com a guerra, outros estão com medo, mas há milhares de civis ucranianos que decidiram ajudar seu Exército a defender o país da invasão russa. Cidadãos responderam ao chamado do governo do país, que tem uma força militar e uma população significativamente menor que a da Rússia.

Muitos recorreram aos chamados coquetéis molotov, bombas incendiárias caseiras feitas de substâncias inflamáveis ​em um recipiente de vidro.

Civil treina lançamento de coquetel molotov em Jitomir, na Ucrânia
Civil treina lançamento de coquetel molotov em Jitomir, na Ucrânia - Viacheslav Ratynskyi - 1º.mar.22/Reuters

As imagens de pessoas comuns dedicadas à fabricação desses explosivos rodaram o mundo.

Com eles e outras armas fornecidas pelo Estado, os civis ajudaram a defender as principais cidades ucranianas, como Kiev ou Kharkiv, ainda sob controle ucraniano. O Ministério da Defesa até deu orientações em suas mídias sociais sobre como usá-los contra veículos do Exército russo.

Essas "bombas caseiras" têm uma origem surpreendente —e seu nome vem de um ex-dignitário da antiga União Soviética (URSS), Viacheslav Mikhailovich Molotov, protagonista de outro conflito militar.

População de cidades ucranianas aprendeu a fabricar o explosivo caseiro
População de cidades ucranianas aprendeu a fabricar o explosivo caseiro - Viacheslav Ratynskyi - 1º.mar.22/Reuters

Quem foi Molotov?

Viacheslav Mikhailovich Molotov, de nacionalidade russa e nascido com o sobrenome Scriabin, foi ministro das Relações Exteriores da URSS duas vezes, entre 1939-1949 e 1953-1956.

Nascido em 1890 de pais de classe média, ele era desde 1906 parte da facção bolchevique do Partido Social Democrata Russo, que mais tarde se tornou o Partido Comunista da URSS.

Viacheslav Molotov (à esquerda) e Joachim von Ribbentrop se cumprimentam após assinarem pacto de não agressão entre União Soviética e Alemanha, em 1939
Viacheslav Molotov (à esquerda) e Joachim von Ribbentrop se cumprimentam após assinarem pacto de não agressão entre União Soviética e Alemanha, em 1939 - Creative Commons

De acordo com o Wilson Center, nos Estados Unidos, ele foi colaborador de Vladimir Lênin e Josef Stálin na revolução de 1917, que levou à queda da dinastia czarista e inaugurou a República Socialista Federativa Soviética Russa. Mais tarde, ocupou vários cargos no partido, como secretário do Comitê Central e a liderança do Comitê do Partido em Moscou.

Esta última posição, segundo o Wilson Center, foi alcançada após a participação no chamado "expurgo" do Partido Comunista Soviético, um processo de perseguição aos opositores de Stálin.

O Pacto Molotov-Ribbentrop

No entanto, ele é mais conhecido por assinar —como comissário de Relações Exteriores— o pacto Molotov-Ribbentrop em agosto de 1939, um tratado de não agressão entre a URSS de Stálin e a Alemanha nazista de Adolf Hitler. O acordo, segundo várias fontes, também continha um acerto entre ambas as potências para dividir seus interesses de conquista na Polônia e no resto da Europa.

Civis ajudaram a defender as principais cidades ucranianas, como Kiev ou Kharkiv
Civis ajudaram a defender as principais cidades ucranianas, como Kiev ou Kharkiv - Viacheslav Ratynskyi - 1º.mar.22/Reuters

Sem medo de provocar a URSS, em setembro de 1939 o governo nazista atacou a Polônia, invasão que levou à Segunda Guerra Mundial. Os soviéticos, por sua vez, invadiram a Finlândia em novembro do mesmo ano, o que ficou conhecido como a Guerra de Inverno.

Foi nesse conflito que os coquetéis molotov ganharam fama.

A Guerra de Inverno e as bombas caseiras

Uma resenha do livro "Um Inferno Congelado: A Guerra de Inverno Russo-finlandesa de 1939-1940", do historiador William Trotter, explica por que os soldados finlandeses nomearam suas bombas caseiras de "coquetéis Molotov". O diplomata Molotov, na rádio soviética, disse que o Exército de seu país durante o conflito não lançou bombas em território finlandês, mas "suprimentos e alimentos".

Com suas palavras, os soldados começaram sarcasticamente a chamar os bombardeios soviéticos de "cestas de piquenique Molotov". Mais tarde, adotaram o nome para suas próprias bombas improvisadas.

A origem dos coquetéis molotov foi anterior, no entanto —há registros do uso desses explosivos, por exemplo, na Guerra Civil Espanhola de 1936-39. Agora, os coquetéis molotov estão de volta ao noticiário com a resistência do povo ucraniano à invasão russa.

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