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Jornalista americano que cobria guerra na Ucrânia é morto em ataque

Polícia local fala que tiros vieram de soldados russos; informação não pôde ser confirmada de maneira independente

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Guarulhos e São Paulo

Um jornalista americano que cobria a guerra na Ucrânia foi morto nos arredores de Kiev neste domingo (13), 18º dia da invasão russa, quando tentava documentar os ucranianos que buscam deixar o país.

O chefe da polícia local, Andri Niebitov, disse que Brent Renaud, 50, foi baleado por forças russas que abriram fogo contra um carro perto de Irpin, cidade sob constante bombardeio de Moscou desde a última semana. A informação, porém, não pôde ser confirmada de maneira independente. Cada vez mais esvaziada, Irpin conta com muitos civis armados e com pouco ou nenhum treinamento prévio.

A cidade assiste a combates se intensificarem em seu entorno, no município de Butcha e na área do aeroporto de Hostomel. Assim, não é possível descartar que os tiros tenham vindo de tropas ucranianas.​

O jornalista americano Brent Renaud - Divulgação/Universidade do Arkansas

Juan Arredondo, jornalista que estava com Renaud no momento do ataque, ficou ferido, com estilhaços na perna, e foi levado para o hospital infantil Okhmatdit, o maior de Kiev.

Em vídeo publicado no perfil do hospital no Instagram, Arredondo relata que ele e o colega haviam cruzado uma ponte de Irpin e passado por um posto de controle quando se tornaram alvo dos tiros.

"Cruzamos um posto de controle, e eles começaram a atirar em nós. Então o motorista virou, e eles continuaram atirando. Há dois de nós. Meu amigo é Brent Renaud, e ele recebeu um tiro e foi deixado para trás... Eu o vi levando um tiro no pescoço", contou o jornalista enquanto é atendido numa maca.

No local em questão, uma avenida que atravessa Irpin e dá acesso a Butcha, um grupo de milicianos locais comanda o posto que dá acesso a uma base do Exército ucraniano, improvisado dentro de um conjunto de prédios residenciais no qual os militares conseguem observar movimentações russas no horizonte.

Nas últimas 24 horas, tropas russas reforçaram os ataques ao local, com fortes baterias de morteiros, que chegaram a atingir a avenida. Pela cidade, relatos dão conta de que um ataque maciço russo esteja para acontecer nas próximas horas, o que elevou o nível de tensão e alerta entre os soldados ucranianos.

Horas antes do incidente, o colaborador da Folha André Liohn, acompanhado de dois outros colegas, foi recebido com hostilidade no mesmo posto de controle. Um dos milicianos responsáveis por guardar o local chegou a ameaçar o repórter a distância com um fuzil Kalashnikov.

A polícia local fala em dois feridos, sem especificar quem é a outra pessoa, mas os dois homens foram atingidos dentro de um carro dirigido por um civil ucraniano, que também ficou ferido, disse à agência de notícias AFP Danilo Shapovalov, médico envolvido com as forças ucranianas que cuidaram das vítimas.

Segundo o jornal The New York Times, Anton Gerashchenko, assessor do ministro do Interior da Ucrânia, disse em comunicado que Renaud "pagou com a vida por tentar expor a crueldade dos agressores".

Renaud foi inicialmente identificado como repórter do New York Times, mas a empresa divulgou uma nota lamentando a morte e afirmando que o profissional havia colaborado para o diário pela última vez em 2015. "Apesar de ele ter colaborado para o New York Times no passado, ele não estava na Ucrânia a serviço de nenhum setor do jornal", disse. "Notícias iniciais de que ele trabalhava para o New York Times circularam porque ele usava uma credencial da empresa obtida numa pauta de muitos anos atrás."

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ, na sigla em inglês), organização que monitora a atividade da categoria há mais de quatro décadas, lamentou a morte de Renaud e pediu que a liberdade de imprensa seja assegurada no conflito. "Esse tipo de ataque constitui uma violação do direito internacional", disse Carlos Martínez de la Serna, diretor do CPJ em Nova York. "As forças russas na Ucrânia devem parar a violência contra jornalistas e civis, e quem matou Renaud deve ser responsabilizado."​

A Fundação Nieman, projeto voltado para o jornalismo e apoiado pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, onde Renaud estudou, também se manifestou. Ann Marie Lipinski, curadora da fundação, disse no Twitter que o repórter era talentoso e gentil e que seu trabalho sempre esteve impregnado de humanidade.

Brent Renaud se dividia entre Nova York e a cidade de Little Rock, no estado do Arkansas. Ao longo da carreira, colaborou com veículos de mídia como The New York Times, HBO, Discovery Channel e NBC.

O jornalista já havia registrado as guerras do Iraque e do Afeganistão, os efeitos de terremotos no Haiti, a disputa entre cartéis de drogas no México e a revolta política no Egito. Ele costumava trabalhar com o irmão, Craig, com quem fundou a produtora cinematográfica Renaud Brothers.

A última postagem da produtora no Facebook, publicada cinco dias atrás, traz uma foto de famílias ucranianas esperando por transporte para fugir do conflito. Os irmãos Renaud venceram prêmios importantes como Peabody, IDA, Overseas Press Club, Columbia Dupont e Edward R. Murrow.

O americano é o segundo profissional da imprensa morto na guerra. O cinegrafista ucraniano Ievhenii Sakun, 49, morreu em 1º de março durante um ataque russo a uma torre de TV em Kiev, quando outras quatro pessoas também foram mortas. Ele cobria o conflito para a rede local Live.

Outros profissionais ficaram feridos. Em 5 de março, o jornalista Stuart Ramsay e o cinegrafista Richie Mockler, que trabalhavam para a rede britânica Sky News, foram baleados durante uma emboscada nos arredores de Kiev. Eles já retornaram para o Reino Unido.

Também sofreram ferimentos o repórter Stefan Weichert e o fotógrafo Emil Filtenborg Mikkelsen, ambos dinamarqueses, que estavam baseados na Ucrânia há dois anos, quando estavam a caminho de uma creche bombardeada na cidade de Ohtirka, no nordeste do país.

Com AFP, Reuters e The New York Times

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