Descrição de chapéu Folhajus

Justiça britânica proíbe polícia de obrigar jornalista a revelar fonte em caso de atentado

Autor de ataque nos anos 1970 confessou crime a repórter e nunca teve nome revelado

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Londres | AFP

A Justiça do Reino Unido decidiu nesta terça (22) a favor de um jornalista que a polícia tentava obrigar a revelar a identidade do autor de um dos piores atentados terroristas da história do país.

Chris Mullin, 74, conseguiu impedir a polícia de West Midlands de usar a legislação antiterrorismo para fazê-lo contar quem plantou as bombas que destruíram dois pubs de Birmingham em 1974. Os ataques, atribuídos ao Exército Republicano Irlandês (Ira, na sigla em inglês), deixaram 21 mortos e dezenas de feridos.

O jornalista e político britânico Chris Mullin
O jornalista e político britânico Chris Mullin - 20.jan.17/Reprodução/@Universidade de Sunderland no YouTube

Mullin, que também foi deputado pelo Partido Trabalhista por mais de duas décadas e secretário durante a gestão de Tony Blair, escreveu um livro que ajudou a garantir a libertação de seis homens condenados injustamente pelo crime. Durante a investigação do jornalista, o verdadeiro terrorista fez o que Mullin chamou de "confissão completa", e ele prometeu nunca revelar a identidade do criminoso.

A apuração deu origem a "Error of Judgement: The Truth About the Birmingham Bombings" (erro de julgamento: a verdade sobre os atentados de Birmingham), publicado em 1990. Investigações posteriores levaram à soltura do grupo que ficou conhecido como "os seis de Birmingham", após 17 anos na prisão.

Na sentença divulgada nesta terça, o juiz Mark Lucraft concordou com os argumentos de Mullin de que não poderia revelar sua fonte. O magistrado afirmou que não existe "interesse público superior ao direito à proteção da fonte jornalística" previsto no artigo 10 da Convenção Europeia dos Direitos do Homem.

"O direito de um jornalista de proteger suas fontes é essencial para uma imprensa livre em uma democracia", disse Mullin, que já havia acusado a polícia de não ter feito a investigação adequadamente. Se tivessem apurado direito, argumentou ele, "poderiam ter detido os verdadeiros culpados".

Para o advogado de Mullin, Louis Charalambous, a decisão é "um marco" para a liberdade de expressão. "Se uma fonte confidencial não puder confiar na promessa de proteção vitalícia de um jornalista, essas investigações nunca verão a luz do dia", afirmou.

Para Michelle Stanistreet, secretária-geral do NUJ, sindicato nacional dos jornalistas britânicos, o "caso ameaçava a liberdade de imprensa e representava mais uma tentativa de criminalizar as ações legítimas de jornalistas". A polícia de West Midlands, por sua vez, afirmou que "investigaria cuidadosamente" o caso, mas não respondeu se irá recorrer da decisão.

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