Míssil testado pela Coreia do Norte foi de modelo antigo, diz Seul

Coreia do Sul e EUA apontam que tecnologia de exercício seria semelhante a uma vista em 2017

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Seul | AFP e Reuters

Autoridades da Coreia do Sul informaram, nesta quarta-feira (30), que a Coreia do Norte mentiu ao falar na semana passada que havia testado um novo míssil balístico intercontinental. Segundo Seul, ainda que a ação tenha sido real, Pyongyang teria usado uma tecnologia menor e mais antiga do que o Hwasong-17 anunciado.

O regime na ocasião divulgou um vídeo de ares hollywoodianos, em que o ditador Kim Jong-un aparece de jaqueta preta e óculos escuros acompanhando o lançamento —comentaristas internacionais o compararam ao filme "Top Gun" e a clipes de K-pop.

Ditador norte-coreano, Kim Jong-un, caminha com militares durante teste de lançamento de míssil balístico intercontinental, em um local não revelado da Coreia do Norte
O ditador norte-coreano, Kim Jong-un, caminha com militares durante teste de lançamento de míssil balístico intercontinental, em um local não revelado da Coreia do Norte - Governo da Coreia do Norte - 24.mar.22 / AFP

Foram justamente as fotos e os vídeos divulgados pela mídia estatal norte-coreana após o lançamento que basearam as alegações do sul. De acordo com uma autoridade do Ministério da Defesa de Seul citada pela agência de notícias Reuters, as sombras e o clima vistos nas imagens sugeririam que elas teriam sido gravadas em outro dia.

Por essa interpretação, o regime de Kim Jong-un estaria tentando evitar uma reação doméstica negativa em relação a um lançamento fracassado do Hwasong-17 no último dia 16 —segundo a Coreia do sul, o vídeo teria sido gravado nesta data, apesar de Pyongyang nunca ter reconhecido esse teste.

Relatório apresentado pelo governo sul-coreano ao Parlamento também aponta que o ensaio teria como objetivo aumentar o status militar da Coreia do Norte e melhorar o poder de barganha contra Seul, os Estados Unidos e a comunidade internacional. O teste se deu a poucas horas de a Otan, a aliança militar ocidental, reunir-se para discutir a guerra na Ucrânia —o encontro contou com a participação do presidente americano, Joe Biden.

Ainda que os sul-coreanos estejam certos, a tecnologia testada por Pyongyang é bastante poderosa. O míssil Hwasong-15, conforme apuraram também autoridades dos EUA, é capaz de atingir a costa oeste americana, além de territórios no Pacífico como Havaí e Guam. A tecnologia já havia sido testada há cinco anos.

O míssil lançado na semana passada voou por 67,5 minutos a um alcance de 1.090 km e altitude máxima de 6.248,5 km, informou a mídia estatal. Esses números são semelhantes aos dados relatados pelo Japão e pela Coreia do Sul e são maiores do que o primeiro teste do Hwasong-15, que voou por 53 minutos, a uma altitude de 4.475 km e alcance de 950 km.

A razão para o aumento da tecnologia militar, sugeriram as autoridades sul-coreanas, pode estar no fato de a Coreia do Norte ter lançado o míssil sem carga útil de teste significativa, o que o tornaria mais leve.

De acordo com Vann Van Diepen, ex-funcionário do governo americano informado sobre armas de destruição em massa, um segundo teste bem-sucedido do Hwasong-15 teria confirmado sua confiabilidade, mas se seu desempenho aprimorado for apenas devido à carga útil reduzida, o significado seria limitado.

A tecnologia do Hwasong-17, por outro lado, requer um conjunto mais sofisticado de quatro motores da classe Paektusan em comparação com os dois do Hwasong-15.

O mais recente teste também é simbólico: trata-se do primeiro do tipo desde a série ocorrida há cinco anos, que obrigou o então governo de Donald Trump a negociar diretamente com Kim —as três rodadas de conversas diretas entre ambos, contudo, viriam a fracassar e colocar em pausa as negociações para a retirada de sanções contra Pyongyang devido ao seu programa nuclear.

Na mesma esteira, a mídia estatal disse após o teste que o país se prepara para um longo confronto com o que chama de imperialismo americano.

O desenvolvimento armamentista ajuda o regime norte-coreano a manter a imagem diante da população, que sofre com as consequências econômicas das sanções internacionais contra o programa militar e nuclear do país, além dos dois anos de fechamento de fronteiras determinado pelo próprio regime devido à Covid-19.

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