Descrição de chapéu Guerra na Ucrânia Rússia

Ataque a quartel mata ao menos 50 soldados, diz Ucrânia

Número de vítimas pode passar de cem; em outra região, Rússia diz ter usado míssil hipersônico pela primeira vez

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Lviv | Reuters

Autoridades ucranianas disseram neste sábado (19) que um ataque ocorrido na sexta (18) contra um quartel em Mikolaiv, no sul do país, deixou ao menos 50 soldados mortos. Se confirmado, o evento poderá ter sido o mais letal para o lado ucraniano desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro.

As estimativas variam, mas testemunhas afirmam que cerca de 200 soldados dormiam no local quando houve o bombardeio. O número de vítimas poderia passar de cem, segundo militares locais.

Soldados ucranianos retiram neste sábado (19) corpo de escombros de quartel bombardeado em Mikolaiv, no sul da Ucrânia - Bulent Kilic/AFP

O governador da região de Mikolaiv, Vitali Klim, disse que a cidade voltou a sofrer ataques neste sábado. "Não damos conta de fazer o alerta. A mensagem [de alerta] e as bombas chegam ao mesmo tempo", declarou.

O sul e sudeste da Ucrânia têm sido alvo dos mais intensos ataques da Rússia, que tenta criar uma ponte terrestre ligando a península da Crimeia, anexada pelos russos em 2014, à região do Donbass, onde estão duas autoproclamadas repúblicas separatistas.

Também neste sábado, a Rússia afirmou que lançou mísseis hipersônicos Kinjal para destruir um depósito de armas na região de Ivano-Frankivsk, no oeste da Ucrânia, na sexta (18). Essa teria sido a primeira vez que os russos usam armas do tipo desde o início da guerra no Leste Europeu, de acordo com a agência de notícias Interfax.

Armas rápidas que podem evitar a detecção por sistemas de defesa antimísseis, os mísseis Kinjal, segundo os militares russos, podem atingir alvos a distâncias de mais de 2.000 km.​

Interceptadores MiG-31 com mísseis hipersônicos Kinjal durante exercício militar em Moscou - 9.mai.18/AFP

O porta-voz do Ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov, disse que o depósito atingido, em Deliatin, abrigava mísseis ucranianos. Ele também alegou que forças russas destruíram rádios militares e centros de reconhecimento ucranianos perto da cidade portuária de Odessa usando sistemas de mísseis costeiros Bastion.

Horas depois, um porta-voz das Forças Armadas da Ucrânia confirmou o ataque ao depósito de Ivano-Frankivsk. Yuri Ignat disse que o tipo do míssil ainda não havia sido determinado, mas que houve detonação da munição armazenada no prédio, com danos e destruição no local.

No 24º dia de guerra, a cidade de Mariupol, área estratégica para a construção de uma ponte ligando a península da Crimeia, anexada pela Rússia, à região do Donbass, onde estão duas autoproclamadas repúblicas separatistas, assistiu à intensificação dos ataques.

O Ministério da Defesa da Rússia alega que suas tropas, com apoio dos separatistas do leste, apertaram o cerco e já estão presentes no centro da cidade, de 400 mil habitantes. Autoridades da Ucrânia, por sua vez, afirmam que os bombardeios na região têm prejudicado a busca por sobreviventes e descrevem Mariupol como uma região sensível.

O governo local calcula que 40 mil pessoas tenham deixado a cidade nos últimos cinco dias e que outras 20 mil esperem para ser retiradas, somando-se aos mais de 6,4 milhões de deslocados internos.

Também afirma que 2.500 pessoas morreram na cidade desde o início da invasão russa, informação difícil de ser confirmada de forma independente, em especial porque organizações internacionais, como as Nações Unidas e a Cruz Vermelha, têm pouco ou nenhum acesso ao local. Até aqui, a ONU confirma a morte de 847 civis em toda a Ucrânia, ainda que reconheça tratar-se de uma cifra subnotificada.

A vice-primeira-ministra da Ucrânia, Irina Vereshchuk, afirmou que o país pretende abrir dez corredores humanitários para retirada de civis neste sábado. Um deles seria justamente em Mariupol, embora esforços anteriores tenham sido frustrados uma vez que o cessar-fogo temporário, acordado em negociações, foi desrespeitado.

À rede britânica BBC um parlamentar ucraniano cujos pais estão em Mariupol descreveu o cenário como "medieval". "As pessoas estão sem comida e sem água", disse Dmitro Gurin. "E, há vários dias, tanques começaram a atirar em prédios residenciais. Todos estão sentados em seus apartamentos e porões pensando se vão morrer na próxima hora."

A intensificação dos ataques, entre outras coisas, tem prejudicado os trabalhos de busca em um teatro da cidade bombardeado na quarta (16). Autoridades dizem que centenas de pessoas estavam abrigadas ali. Ao menos 130 teriam sido resgatadas na sexta, e cerca de 1.300 ainda estariam dentro do edifício, provavelmente em um abrigo antiaéreo.

A Ucrânia havia afirmado, na sexta, que perdera acesso ao mar de Azov, região onde está Mariupol, "temporariamente".

O Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês), um think tank americano, disse em seu último relatório, porém, que as forças russas continuam a obter ganhos territoriais apenas no entorno da cidade, portuária e não no centro da região, em grande parte devido a problemas logísticos e de abastecimento das tropas.

Também foram registrados novos bombardeios em Zaporíjia, na porção sul do país, onde pelo menos nove pessoas morreram e 17 ficaram feridas, disse o vice-prefeito Anatoli Kurtiev. O governo decretou toque de recolher na região por pelo menos 38 horas.

Equipes de resgate de Mikolaiv, no sul ucraniano, seguem ao longo deste sábado as buscas por sobreviventes de um ataque a uma base militar local na sexta. À agência de notícias AFP, testemunhas disseram que pelo menos 50 corpos já foram encontrados e que 200 homens dormiam no local no momento do ataque.

Enquanto isso, as negociações diplomáticas seguem com resultado incerto. A última semana foi marcada por declarações otimistas, sobretudo vindas de Moscou, sobre um possível acordo.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, disse em seu último discurso que "chegou a hora de conversar", e a chancelaria russa sinalizava que um acordo sobre a neutralidade ucraniana, demandada pelo líder russo Vladimir Putin, poderia estar na esteira.

Até agora, porém, nenhum cessar-fogo foi formalizado. O principal assessor de Zelenski, Mihailo Podoliak, voltou a criticar, em uma rede social, a falta de disposição da Otan (aliança militar ocidental) para estabelecer uma zona de exclusão aérea na Ucrânia, demanda que o governo local reforçou na última semana. "Essas declarações encorajam a Rússia a massacrar a Ucrânia", afirmou.

Também neste sábado, foram confirmadas as mortes de quatro fuzileiros navais dos EUA durante um exercício da Otan realizado na Noruega. Eles estavam em um avião militar que caiu. O exercício, conhecido como Resposta Fria, é periódico e voltado para o treinamento das tropas em condições climáticas extremas. Seu tamanho neste ano, porém, é inédito: 30 mil soldados participam.

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