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Rússia e Ucrânia fazem novas negociações em meio a ataques em Kiev

Autoridades ucranianas denunciam atentados a prédio residencial e fábrica da Antonov na capital

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Lviv (Ucrânia) | Reuters e AFP

Autoridades russas e ucranianas fizeram nesta segunda (14) uma nova rodada de negociações, desta vez por videoconferência, em meio a novos ataques à capital e um constante bombardeio em Mariupol.

A segunda-feira começou com um ataque contra um edifício residencial em Kiev, que deixou ao menos uma pessoa morta e 12 feridos, segundo equipes de emergência. Três dos feridos foram hospitalizados.

As equipes de resgate afirmaram que o prédio fica na zona norte da capital ucraniana e que um incêndio foi controlado pelos bombeiros depois de um disparo de artilharia durante a madrugada.

Prédio residencial atingido nesta segunda-feira no norte de Kiev; uma pessoa morreu, segundo autoridades ucranianas - Serviço de Emergência da Ucrânia/AFP

"Saímos do apartamento e vimos que a escada não estava mais lá, tudo estava pegando fogo", disse Maksim Korovii, que vive no prédio com a mãe, à agência de notícias Reuters.

"Nós não sabíamos o que fazer, então corremos para a varanda. Conseguimos colocar as roupas que tínhamos à mão e fomos de varanda em varanda. No final, descemos pela entrada do prédio ao lado. Agora estamos tentando recuperar algumas de nossas coisas com a ajuda dos bombeiros", afirmou ele.

O governo local também afirmou que outra pessoa morreu e seis ficaram feridas após serem atingidas por fragmentos de um míssil cujo alvo era a fábrica de aviões Antonov. Os estilhaços caíram numa rodovia.

Além de Kiev, sirenes de alertas de ataque aéreo soaram antes do amanhecer em diferentes regiões da Ucrânia, como Lviv, Odessa, Ivano-Frankivsk e Tcherkássi.

Por outro lado, separatistas pró-Rússia de Donetsk, no leste da Ucrânia, afirmaram nesta segunda que um ataque ucraniano deixou 16 mortos e 23 feridos no centro da cidade. No Telegram, forças de defesa de Donetsk publicaram fotos que mostram corpos ensanguentados entre escombros. A mensagem afirma que a defesa aérea da região interceptou um míssil ucraniano e que estilhaços atingiram a população.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, insistiu no domingo que a Otan deve impor uma zona de exclusão aérea após o ataque a uma base a 25 quilômetros da fronteira com a Polônia, deixando 35 mortos, na contagem ucraniana —os russos falam em 180 mercenários estrangeiros mortos.

Até aqui, os EUA descartaram intervir militarmente no conflito, e o presidente Joe Biden alertou que, se a Otan entrar para combater a Rússia, será a Terceira Guerra Mundial. No domingo (13), o líder americano conversou com o presidente francês, Emmanuel Macron, e ambos "destacaram o compromisso de responsabilizar a Rússia por suas ações e de apoiar o governo e o povo da Ucrânia", disse a Casa Branca.

Russos e ucranianos dispararam mensagens otimistas sobre o andamento das negociações e chegaram a sinalizar no domingo que um acordo poderia chegar nos próximos dias. Enquanto outras negociações focaram assuntos humanitários, nesta segunda autoridades dos dois países discutiriam um cessar-fogo, segundo o negociador ucraniano Mikhailo Podoliak. "Negociações. Quarta rodada. Discutirá paz, cessar-fogo, retirada imediata das tropas e garantias de segurança. Discussão difícil", escreveu nas redes sociais.

As negociações ocorrem em meio ao constante bombardeio ao porto de Mariupol, no sul do país, onde quase 2.500 pessoas foram mortas nos ataques, segundo autoridades ucranianas —o número não pôde ser verificado de forma independente, e a Rússia diz que não tem como alvo civis.

Cerca de 160 veículos com civis deixaram a cidade nesta segunda, disseram autoridades do país, no que é até agora a primeira tentativa bem-sucedida de um corredor humanitário na cidade sitiada há duas semanas. Por volta das 13h do horário local (8h em Brasília), a coluna de veículos tomou uma estrada que liga esta estratégica cidade portuária no litoral do mar de Azov com a cidade ucraniana de Zaporíjia, disse a prefeitura de Mariupol no aplicativo Telegram, sem especificar quantas pessoas conseguiram fugir.

O último relatório de inteligência do Ministério da Defesa do Reino Unido aponta que a Rússia teria estabelecido um bloqueio naval do mar Negro para isolar a Ucrânia do comércio marítimo internacional.

Enquanto isso, um dos aliados mais próximos de Putin reconheceu que o avanço russo não é tão rápido quanto o Kremlin esperava. "Gostaria de dizer que sim, mas nem tudo está indo tão rápido quanto gostaríamos", disse Viktor Zolotov, chefe da Guarda Nacional russa, que já foi responsável pela segurança pessoal de Putin. "Mas estamos indo em direção ao nosso objetivo passo a passo, e a vitória será nossa", afirmou, durante cerimônia religiosa liderada pelo patriarca da Igreja Ortodoxa, Cirilo, no domingo.

O progresso mais lento do que o esperado se dá pelo que ele chamou de forças de ultradireita ucranianas escondidas por trás de civis, acusação repetida por autoridades russas. Na sexta, o ministro da Defesa da Rússia, Serguei Choigu, disse a Putin que "tudo está indo de acordo com o planejado".

Em meio ao progresso mais lento, a Rússia teria pedido à China equipamento militar para atuar no conflito, afirmaram autoridades americanas à imprensa dos EUA, provocando preocupação na Casa Branca de que Pequim possa intervir mais diretamente na guerra. Moscou também teria pedido a Pequim assistência econômica para enfrentar as sanções impostas por potências ocidentais, informou o jornal The New York Times, que citou fontes do governo que pediram anonimato.

O conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, que se encontra com o principal diplomata da China, Yang Jiechi, em Roma, nesta segunda-feira, afirmou que "haverá consequências no caso de esforços em larga escala para evitar sanções". Questionado sobre o pedido de ajuda militar da Rússia, um porta-voz da chancelaria em Pequim negou e acusou os Estados Unidos de desinformação. "Apoiamos e encorajamos todos os esforços que conduzam a uma solução pacífica da crise", disse.

A ONU estima que mais de 2,8 milhões de pessoas deixaram a Ucrânia desde a invasão, principalmente para a Polônia. No domingo, o papa Francisco pediu o fim do que chamou de massacre. "Em nome de Deus, peço que parem com este massacre", afirmou o pontífice.

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