Descrição de chapéu Guerra na Ucrânia Rússia

Rússia anuncia tomada de Kherson e mantém ofensiva contra Kharkiv no 7º dia de conflito

Zelenski acusa russos de quererem apagar a Ucrânia e tomar o país com bombas

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São Paulo

O sétimo dia da guerra na Ucrânia começou com bombardeios durante a madrugada desta quarta (2) em Kharkiv, segunda maior cidade do país. Ao todo, 21 pessoas morreram e 112 ficaram feridas nas 24 horas de combate, segundo autoridades ucranianas —o número não pôde ser checado de maneira independente.

Já pela manhã, as tropas russas atacaram a sede da polícia na cidade, e o telhado do edifício desabou com as chamas. Depois, um edifício do governo e um imóvel vizinho foram atingidos, com um incêndio sendo registrado no local. Com o andamento da operação, uma série de prédios na região central foram destruídos, incluindo o da Faculdade de Sociologia na Universidade Nacional de Karazin.

Bombeiros apagam incêndio no prédio do Departamento de Polícia em Kharkiv, atingido por bombardeio
Bombeiros apagam incêndio no prédio do Departamento de Polícia em Kharkiv, atingido por bombardeio - Serviço de Imprensa do Ministério de Emergência Ucraniano/AFP

De acordo com o Exército ucraniano, as tropas russas chegaram a Kharkiv por meio de aeronaves e atacaram um hospital. "Praticamente não há mais áreas na cidade que não tenham sido impactadas por projéteis de artilharia", afirmou Anton Geraschenko, do Ministro de Assuntos Internos.

"Os libertadores russos chegaram", disse em tom de piada um voluntário ucraniano à agência de notícias Reuters, enquanto ele e três outros se esforçavam para carregar o corpo de um homem, envolto em um lençol, para fora das ruínas de uma praça. Na terça (1º), a cidade já havia sido alvo de Moscou, com mísseis atingindo áreas residenciais e o prédio da administração local.

O prefeito Ihor Terekhov disse que a cidade não iria se render e que ataques aéreos continuam atingindo áreas residenciais. No início da tarde, um míssil de cruzeiro teria atingido o prédio do Legislativo.

No sul, o Exército russo reivindicou a tomada de Kherson, cidade portuária de 290 mil habitantes que passou a terça-feira cercada. No sábado (26), tropas do governo de Vladimir Putin chegaram a destruir uma barragem de concreto construída na região para cortar o fornecimento de água à Crimeia —a Ucrânia havia bloqueado o abastecimento para a península, feito por meio de um sistema da época soviética que canalizava o rio Dnieper, antes de Moscou anexar a região, em 2014.

Nesta quarta, o prefeito Igor Kolikhaiev chegou a anunciar que a cidade, alvo de intensos bombardeios nas últimas horas, continuava sob controle ucraniano. À noite, no entanto, afirmou que tropas russas estavam nas ruas e que forçaram a entrada no prédio do Legislativo municipal. Kolikhaiev pediu aos soldados russos que não atirem contra civis e orientou à população andar pelas ruas apenas à luz do dia e em pares. "Não temos as Forças Armadas na cidade, apenas civis e pessoas que querem viver aqui."

Confirmada a tomada de Kherson, este passa a ser o primeiro centro de porte razoável que Putin terá sob controle desde o início do conflito, na madrugada do dia 24. A cidade é o principal ponto ao norte da península da Crimeia, anexada sem conflito pelo presidente russo em 2014.

Com o controle estendido dos separatistas pró-Rússia às áreas históricas do chamado Donbass, faltaria para estabelecer uma ponte terrestre ligando a Crimeia ao leste russo da Ucrânia apenas a conquista de Mariupol, também sob forte bombardeio nas últimas 14 horas e com fornecimento de água interrompido.

O prefeito Vadim Boichenko afirmou que a cidade sofreu uma série de baixas após uma noite de ataques intensos, mas não informou o número de vítimas.

Em Kiev, a imprensa ucraniana relatou novas explosões na madrugada, e o prefeito Vitali Klischko alertou que as tropas russas estão cada vez mais próximas. "Estamos nos preparando e vamos defender Kiev", escreveu ele em uma rede social. Também foram registradas explosões em Bila Tserkva, 80 km ao sul.

Diante da ofensiva russa, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, diz que Moscou quer apagar o país e tomá-lo com bombas. "Eles não sabem nada sobre Kiev, sobre a nossa história", disse, em pronunciamento na TV. "Mas todos eles têm ordens para apagar nossa história, apagar nosso país, apagar a todos nós."

De acordo com o líder ucraniano, nos primeiros seis dias de conflito cerca de 7.000 russos foram mortos. Já Moscou fala em 498 baixas em suas fileiras e 1.597 feridos —trata-se da primeira vez que os russos falam em óbitos. De acordo com o Kremlin, 2.870 ucranianos foram mortos pelas forças russas. No entanto ainda não é possível verificar as cifras de forma independente.

A Rússia não tem conseguido avançar sobre a capital, na avaliação de governos do Ocidente. O principal avanço de Moscou sobre Kiev, uma coluna de tanques que se estende por quilômetros ao longo da estrada, estaria paralisado há dias. Um alto funcionário de defesa dos EUA citou na terça-feira problemas como escassez de alimentos e combustível, além de sinais de desânimo entre as tropas russas.

Mais cedo, com uniforme de batalha em um complexo governamental fortemente vigiado, Zelenski disse à Reuters e à CNN que o bombardeio deve parar para que as negociações ​avancem. "É necessário ao menos parar de bombardear as pessoas, apenas parar o bombardeio e depois sentar-se à mesa de negociações."

A segunda rodada de negociações entre Rússia e Ucrânia, prevista inicialmente para esta quarta-feira, foi adiada para quinta-feira (3), na Belarus.

Nesta quarta, a Assembleia-Geral da ONU aprovou uma resolução condenando a invasão, por 141 votos a favor, 5 contra e 35 abstenções. Os votos contrários foram de Belarus, Coreia do Norte, Eritreia, Rússia e Síria. O grupo que se absteve inclui China, Índia, África do Sul, Irã, Cuba, El Salvador e Nicarágua. O Brasil votou a favor da condenação, apesar de o presidente Jair Bolsonaro pregar uma postura de neutralidade.

Além de condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia, o documento reafirma que nenhuma aquisição de território por ameaça ou uso da força deve ser reconhecida como legal e expressa grave preocupação com ataques a civis. A resolução reafirma a independência da Ucrânia, deplora a agressão da Rússia contra o país vizinho e demanda que Moscou retire suas forças do país do Leste Europeu imediatamente.

Com AFP e Reuters

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