China acusa EUA de corrida armamentista com míssil hipersônico

Washington fez teste e anunciou projeto com Reino Unido e Austrália dentro de pacto anti-Pequim

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São Paulo

A China acusou os EUA nesta quarta (6) de fomentar uma corrida armamentista na Ásia. A crítica veio após o anúncio americano de que o país e seus parceiros militares Reino Unido e Austrália desenvolverão um míssil hipersônico.

Segundo o porta-voz da chancelaria chinesa Zhao Lijian, os planos de cooperação bélica dos países dentro do pacto conhecido com Aukus (acrônimo a partir de suas iniciais em inglês) "não apenas aumentam o risco de proliferação nuclear, mas também intensificam ainda mais a corrida armamentista na Ásia-Pacífico". "Os países da região precisam estar altamente vigilantes."

Foto de teste malsucedido de míssil hipersônico americano, lançado por um B-52 em 2010
Foto de teste malsucedido de míssil hipersônico americano, lançado por um B-52 em 2010 - Força Aérea dos Estados Unidos - 26.mar.10/AFP

A citação à questão da proliferação se deve ao fato de que o primeiro objetivo declarado do Aukus, fundado em setembro passado, era o de fornecer à Austrália submarinos de propulsão nuclear —mas não para lançar armas atômicas, e sim convencionais.

Na terça (5), os líderes do Aukus, Joe Biden à frente, anunciaram a intenção de aprofundar a cooperação militar, incluindo mísseis hipersônicos. A medida visa a China, mas também a Rússia. Na Ucrânia, Moscou testou pela primeira vez em combate um modelo de míssil hipersônico, o Kinjal (punhal, em russo).

Do ponto de vista militar, eles não fariam diferença, dado que as defesas antiaéreas ucranianas não têm sofisticação suficiente contra a arma, que voa a até dez vezes a velocidade do som e poderia manobrar.

Assim, foi tanto um teste prático quanto uma demonstração de força. A China, segundo os Estados Unidos, testou um modelo mais sofisticado de míssil hipersônico no fim do ano passado, embora negue o ensaio e diga que se tratava apenas de um experimento espacial.

Até a Coreia do Norte, outra rival americana e apoiada por Moscou e Pequim, entrou na onda e anunciou em janeiro ter lançado um míssil do tipo. Não há confirmação independente disso, mas é evidente que o tema virou prioridade no campo contrário a Washington.

Os americanos vinham patinando no tema, apesar de pesquisá-lo há décadas. Na terça, contudo, a Darpa (Agência de Pesquisa Avançada de Projetos de Defesa, na sigla em inglês) completou o anúncio de Biden, Boris Johnson (Reino Unido) e Scott Morrison (Austrália), dizendo ter realizado um teste há duas semanas de um novo modelo hipersônico.

Desta vez, ao contrário do que ocorreu no ano passado, o míssil voou 555 km a 19,8 km de altitude com velocidades pouco acima de Mach 5, ou cinco vezes a do som. O ensaio não foi divulgado antes porque havia o temor de elevar a tensão explosiva com a Rússia devido à guerra.

Dias antes do início do conflito, Vladimir Putin fez testes de armas hipersônicas e intercontinentais de seu arsenal nuclear. No anúncio da guerra, ameaçou sem muita sutileza usar ogivas atômicas contra quem se intrometesse no assunto e, logo depois, colocou suas forças estratégicas em alerta máximo. De repente, o risco de uma Terceira Guerra Mundial entrou com naturalidade nos discursos de políticos.

O míssil americano utiliza o chamado scramjet, que faz a combustão interna com fluxo de ar supersônico. É o mesmo princípio do russo Tsirkon (zircão), que está em fase avançada de teste, mas não operacional. Já o Kinjal é basicamente um míssil balístico com combustível sólido disparado de aviões, uma tecnologia mais antiga, com a alegada capacidade de manobra.

Os EUA separaram US$ 4,7 bilhões em seu orçamento enviado ao Congresso para o ano fiscal de 2023 (outubro deste ano até setembro do que vem) para mísseis hipersônicos, dentro de um orçamento de desenvolvimento de armas que chega a US$ 130 bilhões.

O Aukus é um dos instrumentos da política agressiva de Biden ante a China, que até a guerra havia aproximado Putin e Xi Jinping a ponto de formar uma aliança retórica na Guerra Fria 2.0 entre Pequim e Washington. Outro é o Quad, um pacto de segurança com a mesma Austrália e outros dos rivais dos chineses na região, Japão e Índia.

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