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China anuncia acordo com Ilhas Salomão que permite trânsito de tropas de Pequim no Pacífico

Tratado é criticado por Austrália, que teme presença militar chinesa em sua zona de influência

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São Paulo

A China anunciou nesta terça (19) a assinatura de um acordo de segurança com as Ilhas Salomão, país na região do Pacífico Sul, próximo à Austrália e à Nova Zelândia. O tratado elevou as preocupações em torno da circulação de tropas chinesas na região e das ambições militares de Pequim no quintal australiano.

O acordo terceiriza a segurança no arquipélago e coloca as forças de segurança chinesas à disposição do governo salomônico para garantir a ordem em caso de revoltas internas, além de proteger equipamentos de infraestrutura do país e responder a desastres naturais, segundo o pouco que foi divulgado até aqui.

Na prática, também expande a presença militar chinesa a uma nova região do Pacífico, além do já contestado avanço sobre o mar do Sul da China, criticado por nações do Sudeste Asiático.

Bandeira das Ilhas Salomão hasteada na praça da Paz Celestial, em Pequim - 7.out.2019/Reuters

O pacto anunciado nesta terça foi assinado pelos ministros das Relações Exteriores da China, Wang Yi, e das Ilhas Salomão, Jeremiah Manele, disse Wang Wenbin, porta-voz da chancelaria chinesa a jornalistas em Pequim, sem especificar exatamente quando ou onde o acordo foi assinado.

"Os dois lados vão cooperar em assuntos como a manutenção da ordem social, proteção da segurança das vidas e das propriedades do povo, assistência humanitária e resposta a desastres naturais", afirmou.

Em março, uma versão preliminar do tratado vazou para a imprensa e provocou uma série de críticas, pois contemplava a possibilidade de deslocamentos militares chineses na região de influência australiana.

Em resposta, o primeiro-ministro salomônico, Manasseh Sogavare, afirmou no começo de abril que não permitiria a construção de uma base militar chinesa no país, mas isso não foi suficiente para acalmar a Austrália e aliados, que se mobilizam para pressionar o governo do país. O arquipélago fica a pouco mais de 1.600 quilômetros do ponto mais próximo da costa australiana.

Marise Payne, ministra australiana das Relações Exteriores, afirmou nesta terça que está "profundamente decepcionada" e que continua buscando entender os termos do acordo. "Estamos preocupados com a falta de transparência no desenvolvimento do tratado, dado seu potencial para minar a estabilidade em nossa região", disse, em comunicado.

Na semana passada, Zed Seselja, ministro australiano para o Desenvolvimento Internacional e o Pacífico, visitou Honiara, capital das Ilhas Salomão, para pedir a Sogavare que não assinasse o pacto.

Acuados pelo avanço chinês, os Estados Unidos resolveram reforçar a presença no país e anunciaram uma visita com membros de alto escalão do governo para a capital nesta semana, quando pretendem também reabrir a embaixada americana, fechada há 29 anos.

"Apesar dos comentários do governo das Ilhas Salomão [de que não permitirá a instalação de uma base militar chinesa], a natureza ampla do acordo de segurança deixa aberta a porta para o envio de forças militares da China" para o arquipélago, disse Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA. "Acreditamos que a assinatura de tal acordo pode aumentar a desestabilização nas Ilhas Salomão e estabelecer um precedente preocupante para a região mais ampla das ilhas do Pacífico."

Os EUA são aliados da Austrália no chamado Quad, grupo que inclui ainda Japão e Índia e que tem como objetivo principal conter a presença da China na região do Indo-Pacífico.

Pequim reagiu à pressão diplomática. "Tentativas deliberadas de inflar as tensões e mobilizar campos rivais estão fadadas ao fracasso", disse o porta-voz da diplomacia nesta terça. "As Ilhas Salomão não são quintal de ninguém, muito menos peças de xadrez em uma disputa geopolítica, e têm a real necessidade de diversificar sua cooperação com outros países e o direito de escolher de forma independente seus parceiros."

Ele ainda afirmou que os EUA "difamam infundadamente a China enquanto criam parcerias que trazem risco de proliferação nuclear", referindo-se ao Quad.

A China também deve mandar uma delegação a Honiara em maio, e o governo salomônico permanece negando que o pacto permitirá à China instalar uma base militar. Douglas Ete, deputado e presidente do comitê de contas públicas do Parlamento do país, afirmou que a visita deve fechar acordos para aumentar a cooperação em comércio, educação e pesca, mas que não inclui a instalação de bases militares.

Até 2019, as Ilhas Salomão reconheciam o governo em Taiwan, não Pequim, como representantes legítimos da China —com a Revolução Comunista de 1949, o governo deposto se exilou em Taipé e permanece reivindicando o controle sobre todo o território continental, sem reconhecimento internacional.

Com a mudança do reconhecimento do governo comunista, o primeiro-ministro Sogavare derrotou uma moção de desconfiança da qual foi alvo no Parlamento e enfrentou grandes manifestações de rua, que acabaram desmobilizadas com a ajuda de equipamentos antiprotestos enviados por Pequim.

Com Reuters

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