Descrição de chapéu China Coronavírus Ásia

China flexibiliza lockdown em Xangai em meio a críticas de moradores

Porções da maior cidade da China que não registrarem casos por duas semanas poderão retomar atividades

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Xangai | Reuters

Em meio a forte pressão, as autoridades de Xangai, a maior cidade da China, anunciaram nesta segunda-feira (11) a flexibilização do lockdown imposto há duas semanas para conter um surto de Covid, ainda que mais de 25 mil novos casos diários —cifra recorde— tenham sido confirmados no domingo (10).

Nesta segunda, o número passou a 23.342, sendo 994 sintomáticos.

A cidade de 25 milhões de habitantes registrava episódios de insatisfação dos moradores, que relatavam desabastecimento de alimentos e remédios. Distritos chegaram a usar drones e robôs com mensagens sonoras para coibir as manifestações.

Trabalhador da saúde usando roupa de proteção contra Covid organiza barreiras nas ruas de Xangai - Aly Song - 11.abr.22/Reuters

As autoridades anunciaram o início de uma classificação dos bairros em três categorias de risco. Em locais sem registro de novos casos há pelo menos duas semanas haverá o relaxamento das restrições, a ser detalhado pelo governo local.

Alguns moradores já começaram a ser notificados sobre a retomada das atividades. "É bom estar fora finalmente, ainda que não haja lugar para ir", disse uma moradora que se identificou como Qin à agência de notícias Reuters.

Em um sinal de que a situação permanece em níveis preocupantes, porém, o Departamento de Estado americano orientou funcionários não essenciais do consulado na cidade a deixar a representação diplomática.

Gu Honghui, funcionário da administração de Xangai, explicou que a cidade contará com 7.624 áreas que ainda estão isoladas; pouco mais de 2.400 regiões estão classificadas como de médio risco, ainda sujeitas a controles; e outras 7.565 podem retomar as atividades.

Moradores das áreas onde o isolamento foi flexibilizado, porém, ainda devem cumprir o distanciamento social ao caminhar em espaços abertos, e o lockdown poderá ser retomado a qualquer momento caso novas infecções sejam registradas, acrescentou Gu.

Liang Wannian, líder do painel da Comissão Nacional de Saúde sobre Covid, disse que a flexibilização anunciada, descrita por ele como uma "autorização dinâmica", continua sendo a melhor opção para Xangai. "Se não agirmos, a pandemia seria um desastre para os mais vulneráveis", afirmou a um jornal local.

O lockdown na cidade, polo financeiro chinês, impôs desafios econômicos e logísticos ao regime liderado por Xi Jinping, que, desde o início da crise sanitária, adotou a estratégia de "Covid zero", com o objetivo de interromper a disseminação do coronavírus no território.

Cerca de 86% da população chinesa completou o primeiro esquema de vacinação, e 49% receberam a dose de reforço da vacina, segundo dados compilados pela plataforma Our World in Data.

Em Xangai, uma das medidas mais polêmicas adotadas pelas autoridades foi a decisão de separar crianças infectadas de suas famílias e levá-las para centros de quarentena. Frente às críticas, o governo recuou e permitiu que responsáveis acompanhassem as crianças durante o isolamento.

A cidade converteu hospitais, ginásios e condomínios em centros de quarentena, inclusive o Novo Centro Internacional de Exposições, com capacidade para até 15 mil pessoas. Quem se recusasse a realizar o teste sem justificativa poderia receber punições administrativas e criminais, segundo a polícia.

Também multiplicaram-se outros relatos de situações consideradas autoritárias por parte dos chineses. À Reuters moradores do distrito de Xuhui disseram que comitês de bairro, ligados ao centenário Partido Comunista Chinês, colocaram cadeados e correntes de bicicleta nas portas de suas casas para confiná-los a força.

Desde o início do mês, crescem também os relatos de moradores que receberam resultados falsos positivos em seus testes, o que gerou temor de que a prática tenha sido recorrente.

Em 2 de abril, segundo o jornal honconguês South China Morning Post, o governo do distrito de Pudong disse que estava investigando um caso em que um homem reclamou que seu pai obteve um resultado negativo no teste para detecção de Covid, mas os trabalhadores de prevenção da pandemia insistiram que era positivo.

Zhu Weiping, funcionário do centro de controle de doenças do distrito, disse ao homem, por telefone, que a falta de comunicação entre os diferentes departamentos causou confusão sobre se algumas pessoas foram realmente infectadas, segundo a gravação divulgada no aplicativo de mensagens WeChat.

A China tem apresentado grande cifra de casos assintomáticos da doença, e Xangai é expressiva nesse sentido. Dos 103.965 casos relatados localmente em março, apenas 3.046 apresentavam sintomas, segundo dados da Comissão Nacional de Saúde —ainda assim, essas pessoas são encaminhadas para isolamento.

Questionado pelo jornal SCMP, o diretor do Centro de Prevenção e Controle de Doenças de Xangai, Fu Chen, disse que há uma lista de razões por trás desse fator. As principais, afirmou, seriam as características do vírus, a imunidade dos cidadãos locais, os índices de vacinação e o fato de os casos estarem sendo detectados precocemente.

O surto na cidade está sendo impulsionado pela subvariante BA.2 da cepa ômicron do coronavírus, de rápida disseminação, e pessoas com menos de 60 anos foram responsáveis por mais de 84% dos casos. Mais de 22 milhões dos habitantes da cidade completaram o primeiro esquema vacinal, e metade já recebeu a dose de reforço, segundo Chen.

A maioria daqueles que foram infectados havia recebido as duas doses iniciais do imunizante, e os testes, realizados em massa, detectaram as infecções ainda no estágio inicial de incubação do vírus, antes do início dos sintomas de Covid.

Outro importante centro industrial, Guangzhou seguiu na direção oposta de Xangai, ao anunciar nesta segunda restrições para a entrada na cidade, segundo a agência de notícias Associated Press. Ainda que não tenha adotado medidas tão rigorosas quanto o centro financeiro, escolas primárias e secundárias passaram para o ensino online após 23 infecções terem sido detectadas na última semana.

Um centro de eventos foi ainda transformado em um hospital após as autoridades anunciarem testes de detecção em massa da população de 18 milhões de habitantes.

A saída de Guangzhou, por sua vez, só é permitida para aqueles com necessidade clara, que devem apresentar também um teste negativo realizado em no máximo 48 horas. ​

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.