Descrição de chapéu Guerra na Ucrânia Rússia

Discussão no Twitter sobre Guerra da Ucrânia tem ação automatizada

Ferramenta detecta 15% de perfis com alta probabilidade de serem robôs publicando mensagens em português sobre o conflito

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Maurício Moraes
Rio de Janeiro | Agência Lupa

Usuários com alta probabilidade de automatização, bots foram responsáveis por 12% das publicações em português no Twitter sobre a Guerra da Ucrânia na segunda semana do conflito. Análise do Pegabot, ferramenta do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-Rio), mostra que 15% das contas que postaram sobre o confronto entre 2 e 9 de março têm 70% de chance de serem robôs.

O estudo analisou um conjunto de palavras-chave presentes nas mensagens —Ucrânia, Rússia, Kiev, Moscou, Vladimir Putin e Volodimir Zelenski, incluindo variações nas grafias. Nas publicações de usuários automatizados, "Rússia" e "Ucrânia" foram as palavras mais citadas, presentes em 36,2% e 35,2% dos tuítes atribuídos aos robôs, respectivamente. Em seguida vieram "Kiev" (13,8%), "Zelenski" (7,9%), "Moscou" (2,9%) e "Vladimir Putin" (2,1%). As variações ortográficas não ultrapassaram 1% cada uma.

O volume de comportamento automatizado ficou acima do encontrado em outras análises no passado.

Nadia, 65, gesticula em frente a sua casa, com um buraco na parede causado por bombardeio em Zalissia, próximo a Kiev - Genia Savilov - 12.abr.22/AFP

"Normalmente o volume de usuários com comportamento automatizado fica entre 6% e 9%. Esse levantamento foi um dos que retornaram o maior volume de usuários nessa categoria", diz a cientista de dados Malu Mondelli, do ITS-Rio. "O volume de usuários que apresentaram altos níveis de automação e a quantidade de tuítes servem como sinal de alerta de que as discussões sobre o tema no Brasil também contam com o uso de técnicas de automação."

Foram analisados, ao todo, 725.475 tuítes, publicados por 13.188 perfis. Desse total, 1.979 dos usuários têm mais de 70% de probabilidade de serem automatizados, de acordo com os critérios de análise do Pegabot.

As contas foram responsáveis por aproximadamente 84 mil mensagens no período de uma semana. Dessas, 71 mil foram retuítes. A quantidade de postagens desses perfis manteve-se similar, variando de 8% do total, em 3 de março, a 13% do total nos dias 6, 7 e 8, datas em que houve o pico de publicações.

Outro fator comum identificado foi a data de criação no Twitter. Um gráfico mostra que 75% dessas contas foram criadas nos últimos cinco anos, com uma aceleração a partir de 2018, data da última eleição presidencial no Brasil.

Mondelli afirma, contudo, que não foi possível verificar se os perfis estavam direcionando o debate público de alguma forma. "Mas pôde-se identificar usuários automatizados interagirem mais com perfis com alinhamento político de direita —@biakicis e @taoquei, por exemplo."

As três publicações mais retuitadas pelas contas automatizadas, por exemplo, fazem críticas ao Movimento Brasil Livre (MBL) por não prestar contas sobre dinheiro arrecadado para ajudar a Ucrânia. O tuíte mais replicado pelos robôs foi da deputada estadual Janaina Paschoal (PRTB-SP).

Em segundo lugar ficou um tuíte do jornalista Kim Paim também cobrando prestação de contas da organização, citando o ex-ministro Sergio Moro.

Na terceira posição ficou uma mensagem sobre o mesmo tema da coordenadora do Movimento Advogados do Brasil, Flavia Ferronato.

Temas da política nacional também aparecem entre as postagens com maior engajamento publicadas pelos robôs. A mensagem com maior volume de interações faz uma crítica ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT): "Na Ucrânia soltaram presidiários para irem à guerra. Aqui soltam para concorrer à Presidência".

A segunda compara o prazo de cinco dias para que o Palácio do Planalto explicasse a viagem do vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos) à Rússia, dado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, a um inquérito contra a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que estaria parado há quatro anos na corte.

Diagnóstico dos perfis

Para concluir que um usuário tem alta probabilidade de comportamento automatizado, o Pegabot analisa um conjunto de quatro critérios: perfil do usuário, ou seja, o nome da conta, quantidade de seguidores e de contas seguidas, texto de descrição, número de postagens e favoritos; frequência e horário de publicações; rede, que consiste na verificação de uma amostra da linha do tempo, considerando hashtags e menções ao perfil; e sentimento, ou seja, o teor positivo ou negativo dos cem tuítes mais recentes.

Tudo isso resulta em uma nota que vai de 0, que representa nenhuma probabilidade de automatização, a 100, para alta chance de comportamento automatizado.

Questionado pela Agência Lupa sobre a ação de robôs nas mensagens sobre a Guerra da Ucrânia na plataforma, o Twitter afirmou, em nota, que uma análise preliminar dos perfis detectados pelo Pegabot indica que não há evidências de atividade automatizada na proporção indicada no estudo.

"Vale lembrar que aplicativos que tentam adivinhar se contas são ou não robôs só acessam sinais externos das contas, o que pode levar a falsos positivos", diz o texto. A plataforma afirmou ainda que tem uma política contra spam e manipulação e que têm identificado esses comportamentos e agido para coibi-los.

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