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Guerra da Ucrânia deixa 5 milhões de refugiados, e Rússia dá novo ultimato a Mariupol

Prazo imposto por Moscou expira sem sinal de rendição em meio a nova fase do conflito

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Kiev e Kharkiv (Ucrânia) | Reuters

Às vésperas de completar dois meses, a Guerra da Ucrânia ultrapassou a marca de 5 milhões de refugiados nesta quarta-feira (20), de acordo com dados compilados pelas Nações Unidas.

A maioria dos ucranianos que deixaram a terra natal —dos quais metade são crianças, segundo a ONU—cruzou as fronteiras para chegar a nações da União Europeia, em especial Polônia, Eslováquia, Hungria e Romênia. À medida que se intensifica o fluxo migratório, considerado sem precedentes em tão curto espaço de tempo, países que recebem refugiados começam a demonstrar dificuldades em lidar com o impacto humanitário que a guerra representa.

A cidade de Mariupol, na Ucrânia, em ruínas, com a usina de Azovstal, reduto das forças de Kiev, ao fundo - Alexander Ermotchenko - 19.abr.22/Reuters

E o conflito não dá sinais de que caminha para um fim. A Rússia estabeleceu um novo prazo —a tarde desta quarta, no horário local— para a rendição dos combatentes que ainda resistem em Mariupol. O líder da Tchetchênia, Ramzan Kadyrov, que tem militares na cidade para apoiar o Kremlin, disse que suas forças devem ter o total controle da cidade a partir de quinta (21).

A pressão sobre a cidade no sudeste da Ucrânia é o símbolo de uma nova fase da guerra e compõe o que Kiev já chama de Batalha do Donbass, em referência à ofensiva de Moscou para tomar as duas províncias no leste do país das quais reconheceu a independência dias antes do início da invasão.

A televisão russa mostrou o presidente Vladimir Putin se dirigindo a uma garota em Lugansk para reforçar seu argumento de que Moscou invadiu o país vizinho porque não teve escolha. "Foi a tragédia que ocorreu no Donbass, inclusive na República Popular de Lugansk, que forçou, simplesmente forçou, a Rússia a lançar esta operação militar, da qual todos estão bem cientes hoje", disse Putin, recorrendo ao eufemismo usado pelo Kremlin para se referir ao que, na prática, é uma guerra.

Antes da guerra, Mariupol era uma próspera cidade portuária com cerca de 400 mil habitantes. Agora, está praticamente em ruínas após quase oito semanas sob cerco das forças russas, que concentram ataques sobre o último reduto dos ucranianos, a siderúrgica Azovstal. De acordo com Kiev, há centenas de civis abrigados no local, em meio à grave crise humanitária que deixou os milhares de pessoas que ainda não conseguiram deixar a cidade sem acesso a água, comida e energia elétrica.

"O mundo assiste online ao assassinato de crianças e permanece em silêncio", afirmou Mikhailo Podoliak, conselheiro do presidente Volodimir Zelenski, no Twitter. A postagem ecoa uma das principais mensagens do líder ucraniano, a de que o Ocidente poderia fazer mais para reagir a Moscou e encerrar o conflito.

Apesar do ultimato russo, que expirou às 14h (8h no horário de Brasília), não há sinais de que tenha ocorrido deposição de armas em massa por parte dos ucranianos. Segundo lideranças separatistas pró-Rússia, cinco pessoas se renderam —em prazos anteriores impostos pela Rússia, foram zero. A Ucrânia prometeu nunca se render em Mariupol, e seu Estado-Maior disse que os combates continuam na usina de Azovstal.

O comandante da 36ª Brigada de Fuzileiros Navais da Ucrânia, considerado um dos últimos regimentos a resistirem em Mariupol, publicou um vídeo no Facebook em que pede ajuda à comunidade internacional.

"Esse é o nosso apelo ao mundo. Pode ser o nosso último. Podemos ter apenas alguns dias ou horas restantes", disse o major Serhii Volina. "As unidades inimigas são dezenas de vezes maiores que as nossas, têm domínio no ar, na artilharia, nas tropas terrestres, nos equipamentos e nos tanques."

Por outro lado, às 16h30 (horário de Brasília), Mikhailo Podoliak publicou no Twitter que está disposto a conversar com representantes russos sobre a saída de civis e militares da cidade. "Estamos prontos para realizar uma 'rodada especial de negociações' em Mariupol. Um em um. Dois em dois. Para salvar nossos caras, Azov [batalhão formado por neonazistas que ajudam a combater os russos], militares, civis, crianças, os vivos e os feridos. Todos", escreveu.

Em meio à ameaça contra a cidade, Kiev anunciou planos de enviar 90 ônibus para retirar 6.000 civis de Mariupol ainda nesta quarta. A tentativa é fruto do que autoridades ucranianas chamaram de "acordo preliminar" com a Rússia sobre um corredor humanitário e é a iniciativa mais importante nesse sentido em semanas, visto que tentativas anteriores foram frustradas enquanto os dois países trocavam acusações.

Grande parte dos civis de Mariupol conseguiu sair em veículos próprios. Outras dezenas de milhares foram levados de ônibus à Rússia —o que Moscou chama de ação humanitária, e Kiev, de deportação forçada ilegal. A nova fase da guerra também é marcada pelos entraves às negociações de paz. Nesta quarta, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, acusou a Ucrânia de voltar atrás nos diálogos.

Segundo ele, a bola está agora com Kiev, após a Rússia entregar um documento com demandas aos negociadores ucranianos. Moscou está esperando uma resposta, disse Peskov. Na terça (19), o principal representante da Ucrânia disse que é difícil prever quando as negociações de paz poderão ser retomadas.

No campo diplomático, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, visitou Kiev e cidades nos arredores nesta quarta. Em Borodianka, Michel publicou uma foto ao lado de militares ucranianos e voltou a acusar a Rússia de crimes de guerra, embora não tenha citado nominalmente o país de Vladimir Putin.

"A história não esquecerá os crimes de guerra que foram cometidos aqui. Não pode haver paz sem justiça", escreveu o belga, depois de fazer referência a Butcha, cidade onde centenas de corpos foram encontrados nas ruas e em valas comuns após um recuo das forças russas.

Mais tarde, na capital ucraniana, Michel afirmou que a União Europeia vai enviar à Ucrânia um pacote equivalente a € 1,5 bilhão (R$ 7,5 bilhões) em assistência militar.

A Casa Branca disse que novas sanções contra a Rússia estão sendo preparadas e que o presidente Joe Biden, deve anunciar um novo pacote de ajuda militar, outra vez no valor de de US$ 800 milhões. As informações são de fontes que falaram sob condição de anonimato à agência de notícias Reuters.

Além dos EUA, países como Reino Unido, Canadá, Alemanha, França e Noruega também prometeram mais assistência militar a Kiev. Essa é uma demanda antiga de Zelenski que, desde antes da guerra, pedia ações mais concretas dos países da Otan, a aliança militar ocidental, para frear os avanços de Moscou.

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