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Guerra na Ucrânia: Ameaça de corte de gás empareda Alemanha, que assume risco

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São Paulo

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Cumprindo uma ameaça repetida à medida que recebia novas sanções econômicas do Ocidente, a Rússia suspendeu o fornecimento de gás para a Polônia e a Bulgária.

A medida era uma das mais temidas pela União Europeia, que tem o gás como sua segunda principal matriz energética e importa da Rússia mais de 40% do consumo referente a esse combustível.

A justificativa da companhia russa de energia Gazprom é que os países não estavam cumprindo a nova exigência de pagar pelas importações em rublos —a medida, aplicada após sanções que restringiram a presença russa no sistema financeiro internacional, deu fôlego à moeda de Moscou.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que o corte do gás é "injustificado e inaceitável" e acusou o governo de Vladimir Putin de usar o combustível como "um instrumento de chantagem".

Homem com uniforme e capacete aparece diante de uma grande tubulação externa
Funcionário trabalha na construção de um medidor de gás ente Bulgária e Grécia - Nikolay Douchinov - 18.mar.2022/AFP

O temor de uma reação drástica da Rússia em relação ao gás fez com que os países europeus pisassem no freio em relação a sanções —em comparação com as aplicadas pelos EUA—, ainda que suas medidas venham sendo consideradas duras.

Enquanto o governo Biden baniu as importações de petróleo e gás de Moscou quando a invasão da Ucrânia completava 13 dias, a União Europeia fez seu primeiro embargo no setor energético um mês depois, contra o carvão russo.

Impor punições à Rússia é uma missão especialmente difícil para a Alemanha. Antes da guerra, a Rússia fornecia 55% do gás consumido no país —o que o governo de Olaf Scholz diz ter reduzido para 40% em razão de esforços para reduzir essa dependência.

Um eventual corte no fornecimento do combustível russo levaria o país a uma recessão em 2023, segundo as previsões de seis institutos econômicos alemães:

  • 2,2% seria a queda do PIB em 2023;

  • 220 bilhões de euros seria a perda acumulada em 2022 e 2023, o equivalente a 6,5% da riqueza anual do país.

Mas diante de uma guerra que chega a 63 dias, com milhares de mortos e sem sinal de um fim próximo, o risco econômico parece não ser mais suficiente para conter o engajamento da Alemanha contra um de seus principais parceiros.

Um exemplo disso é a decisão do governo Scholz de fornecer blindados à Ucrânia, o que rompe com seu posicionamento histórico de não exportar armas para países em conflito.

Mas o que explica a guinada alemã?

Para o colunista da Folha Mathias Alencastro, pesquisador do Cebrap e professor de relações internacionais na UFABC, o passo da Alemanha já vinha sendo ensaiado desde o início da guerra, quando em um discurso o chanceler Olaf Scholz falou em "mudança de rumo" de suas relações com a Rússia.

Segundo ele, a guerra expôs a necessidade de rever o arranjo energético entre Berlim e Moscou mantido por décadas pelas gestões da ex-chanceler Angela Merkel e seu antecessor, Gerard Schröder —que foi indicado em fevereiro para o conselho de administração da Gazprom e ocupou diversos cargos no setor energético russo.

Alencastro vê um risco grande para a economia alemã, mas provavelmente calculado. "Ao que tudo indica, a Alemanha está preparada. Ela deu um passo sabendo que está entrando numa fase do conflito que teria um custo direto para a economia alemã e seria um fardo para a população", avalia.

O pesquisador Laerte Apolinário Júnior, professor de relações internacionais da PUC-SP, atribui a guinada também a pressões internas e externas para que o país tomasse uma posição mais firme:

  • Plano externo: EUA têm aplicado medidas muito duras contra a Rússia e pressionado seus aliados a seguir o mesmo caminho. Ao mesmo tempo, o presidente Volodimir Zelenski também cobra mais ajuda dos países e da Otan;

  • Plano interno: envolve a opinião pública alemã, os partidos que compõem a coalizão do governo (em especial, os verdes e dos liberais) e os grupos de interesse específicos, como a indústria de defesa.

Além da deterioração das relações entre Rússia e Alemanha, Apolinário vê chances de escalonamento do conflito, com o envio de mais armas à Ucrânia, e "consequências indefinidas para a estabilidade no continente europeu e para a economia global".

Não se perca

Números que ajudam a entender a dependência europeia em relação aos combustíveis russos:

  • A Rússia é o exportador do mundo de gás natural e o maior de petróleo;

  • Em 2021, a União Europeia importou 90% do gás natural que consumiu, sendo que a Rússia foi a responsável por 45,3% dessas importações;

  • A Rússia também forneceu 27% do petróleo importado pelo bloco e 46% do carvão.

Fontes: Laerte Apolinário Júnior (PUC-SP) e Comissão Europeia

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Militares ucranianos desativam mísseis encontrados no local da queda de um helicóptero na região de Kiev
Militares ucranianos desativam mísseis encontrados no local da queda de um helicóptero na região de Kiev - Mykola Tymchenko/Reuters

O que aconteceu nesta quarta (27)

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  • ONU fez alerta sobre situação da usina nuclear da Europa;

  • Separatistas da Moldova acusaram Ucrânia por ação com tiros e drones.

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