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Guerra na Ucrânia: Horror nas ruas de Butcha eleva cobrança de punição à Rússia

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São Paulo

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A pressão para que a invasão da Ucrânia pela Rússia, prestes a completar 40 dias, seja punida em investigações internacionais por crimes de guerra ganhou escala neste fim de semana com a descoberta de mais de 400 cadáveres de civis espalhados pelas ruas e em covas nas cidades da região de Kiev.

O maior massacre ocorreu em Butcha, a cerca de 30 km da capital, onde a prefeitura diz ter encontrado os corpos de 280 pessoas. Segundo o relato das autoridades e de agências de notícias, alguns elementos indicam que as vítimas não estavam em combate:

  • algumas carregavam panos brancos, sinal para alertar que eram civis e estavam desarmadas;

  • outras tinham suas mãos amarradas e com marcas de tiro na nuca;

  • parte foi encontrada perto de bicicletas, mochilas e sacolas com mantimentos;

  • também estavam próximo a documentos que as identificavam como sendo cidadãos ucranianos.

Corpos estão deitados no meio da rua enquanto outras pessoas caminham
Cadáveres em Butcha, perto de Kiev; Ucrânia atribui mortes a ataques russos e diz que mais de 400 corpos foram encontrados - Ronaldp Schemidt/AFP

Segundo o governo ucraniano, os corpos foram encontrados pelas tropas que somente no sábado (2) conseguiram entrar em Butcha, após a retirada das tropas russas da região.

Contexto: Na terça (29), a Rússia anunciou uma "redução drástica" da atividade militar em Kiev e arredores, alegando que a medida facilitaria as negociações com a Ucrânia.

Porém, a mudança tem sido interpretada como uma desistência de Moscou de tomar a capital ucraniana após uma baixa recorde de suas tropas. Agora, a Rússia deve concentrar suas forças nos territórios do leste e do sul —áreas dominadas por separatistas e onde a Rússia poderia acumular mais ganhos.

Autoridades internacionais classificaram as imagens divulgadas neste fim de semana como "chocantes", acusaram a Rússia de cometer "atrocidades" e cobraram investigação de crimes de guerra pelas cortes internacionais.

  • António Guterres, secretário-geral da ONU, declarou ser essencial que uma "investigação independente leve a uma efetiva responsabilização".

  • Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, disse que a União Europeia está "ajudando a Ucrânia e as ONGs na coleta de provas necessárias para o processo em tribunais internacionais";

  • O presidente francês Emmanuel Macron disse que as autoridades russas devem "responder por esses crimes";

  • O premiê britânico Boris Johnson afirmou que as imagens são novas provas de crimes de guerra. "Nenhuma negação ou desinformação do Kremlin pode esconder o que todos sabemos ser a verdade", declarou Johnson, em comunicado.

A Rússia nega os ataques e diz que as imagens são uma "performance encenada pelo regime de Kiev para a mídia ocidental". O Ministério da Defesa afirma que as tropas russas deixaram Butcha em 30 de março e que as saídas da cidade não estavam bloqueadas.

Moscou solicitou ao Conselho de Segurança da ONU uma reunião para falar sobre o caso.

Mais acusações

Neste domingo (3), a ONG Human Rights Watch anunciou ter documentado casos de violação das leis de guerra pela Rússia com ataques contra civis nas regiões de Kiev, Tchernihiv e Kharkiv. As ocorrências foram relatadas por vítimas e testemunhas e incluem:

  • um caso de estupro repetido;

  • dois casos de execução sumária a tiros, incluindo a de um homem cercado em Butcha em 4.mar;

  • casos de saque de propriedade civil, incluindo alimentos, roupas e lenha.

"Os casos que documentamos são de crueldade e violência deliberada e indizível contra civis ucranianos", disse Hugh Williamson, diretor da entidade para a Europa e Ásia Central. "Estupro, assassinato e outros atos violentos contra pessoas sob custódia das forças russas deveriam ser investigados como crimes de guerra", declarou.

Não se perca

Lembramos as principais iniciativas da comunidade internacional no campo jurídico e diplomático que a Rússia e Putin enfrentam pela invasão da Ucrânia:

1. Tribunal Penal Internacional

A corte penal de Haia (Holanda), que julga indivíduos, abriu uma investigação sobre a situação da Ucrânia após o pedido de 39 países. São apurados até agora possíveis crimes de guerra, contra a humanidade ou genocídio. O procurador-geral do órgão, Karim Khan, esteve em Kiev no mês passado e se reuniu virtualmente com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski;

2. Corte Internacional de Justiça

O tribunal internacional para disputa entre Estados, também sediado em Haia, determinou no último dia 16 que a Rússia suspendesse as operações militares. A decisão ocorreu por 13 votos a 2 (juízes de Rússia e China votaram contra). A corte também declarou não ter encontrado indícios de crimes da Ucrânia contra a humanidade, como alegava Moscou em relação às regiões separatistas pró-Rússia;

3. Assembleia-geral da ONU

O órgão aprovou duas resoluções condenando a guerra e pedindo o fim do cerco russo a cidades ucranianas —e o Brasil votou a favor da medida nos dois casos. As votações na Assembleia, que não possui meios de cobrar as determinações, ocorreram após o Conselho de Segurança ter vetado uma resolução condenando a invasão —a Rússia tem poder de veto e bloqueou a medida que havia sido aprovada pelo órgão;

4. Conselho da Europa

O órgão voltado para a promoção dos direitos humanos do sistema europeu anunciou a exclusão da Rússia após 26 anos de adesão, quando a guerra completava duas semanas. Moscou já tinha anunciado que deixaria de participar formalmente das reuniões do conselho.

O que aconteceu neste domingo (3)

  • Mísseis russos atingiram a região de Odessa, principal porto ucraniano;

  • Ucrânia disse que Rússia atacou hospital perto de Lugansk, no leste;

  • Russos têm em cativeiro 11 prefeitos e autoridades ucranianas, acusou Kiev;

  • Chefe da Igreja Ortodoxa Russa disse em missa que população está "pronta para proteger a pátria".

O que ver e ouvir para entender o conflito:

As imagens do ataque a Odessa, admitido pela Rússia, e a marcas de destruição em Irpin, perto de Kiev, deixadas pelas tropas:

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